O mercado de escritórios do Rio de Janeiro dá sinais de superação das dificuldades dos últimos anos, marcados pelo êxodo de empresas da Cidade Maravilhosa, excesso de oferta e crise econômica no Estado e no País.

Um levantamento feito pela consultoria RealtyCorp, obtido com exclusividade pelo NeoFeed, aponta que a taxa de vacância de edifícios Corporate A+ (mais novos e modernos, com metragem mínima por conjunto de 100 metros quadrados) caiu para menos de 30% pela primeira vez em quase dez anos.

Os dados mostram que, no terceiro trimestre deste ano, a taxa de vacância desses ativos recuou de 31,4% no segundo trimestre para 29,07%, graças à absorção líquida positiva de 25,3 mil metros quadrados de lajes. A última vez que esteve na casa dos 29% foi no terceiro trimestre de 2015.

Esse movimento beneficiou os valores de locação, que atingiram R$ 90,44 por metro quadrado, voltando ao patamar do primeiro trimestre de 2019.

Para Marcos Alves, CEO da RealtyCorp, os dados indicam continuidade da melhora observada desde o ano passado, mas ele destaca que ainda é cedo para usar a palavra “recuperação”.

“Fico até com medo de utilizar essa palavra”, afirma ele, ao NeoFeed. “O mercado começou a demonstrar sinais de melhora gradual, com o terceiro trimestre reforçando essa tendência, mas é importante lembrar que os dados ainda são muito ruins.”

O segmento de escritórios premium carioca começou a apresentar melhora consistente no índice de vacância no ano passado, após registrar seu pior resultado durante a segunda onda da Covid-19 – 40,2% no segundo trimestre de 2021.

Segundo Alves, o mercado de escritórios do Rio responde ao crescimento da economia brasileira. Além disso, o fim do home office ganhou força na cidade, após um “delay” no retorno ao trabalho presencial em comparação com São Paulo.

“A retomada é uma demanda orgânica do mercado, não existe nenhum fato específico puxando”, diz Alves. “É a estabilidade que estamos tendo nos anos pós-pandemia.”

A situação representa um alento para o mercado de escritórios do Rio, que enfrentou uma “tempestade perfeita” na última década. Na onda de otimismo com a Copa do Mundo, Olimpíada e outros grandes eventos, a cidade viu forte crescimento do estoque de escritórios.

Mas a crise financeira de 2015, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, somada aos problemas fiscais e políticos no Estado do Rio de Janeiro, derrubou a demanda por escritórios.

Os dados mostram como a deterioração foi rápida. Entre 2005 e 2011, a vacância ficou, em média, abaixo de 10%, segundo a série histórica da RealtyCorp. No início da “tempestade perfeita”, entre 2012 e 2015, o índice subiu para 20%. No auge da crise, ultrapassou os 30%.

Para piorar, veio a pandemia, que prejudicou a recuperação ensaiada em 2019, levando a vacância para a casa dos 40%. “É interessante notar que o Rio foi o mercado menos afetado, porque já estava no fundo do poço. A vacância não aumentou tanto, porque já era grande”, diz Alves.

Centro e Zona Sul

Por conta do excesso de oferta e da falta de crescimento robusto da economia, a recuperação é lenta, puxada pelos empreendimentos já existentes, boa parte deles no centro.

A região tem recebido atenção especial da Prefeitura do Rio. Thiago Lima, sócio da JGP Real Estate, destaca que as iniciativas de reurbanização da Prefeitura, a baixa vacância na Zona Sul e a construção de empreendimentos residenciais têm incentivado a ocupação do centro, num momento em que a cidade começa a sair da crise e busca retomar parte do protagonismo da década passada.

“A chacoalhada mais desenvolvimentista conduzida pelo governo, com bastantes incentivos, com a cidade retomando o protagonismo em grandes eventos, buscando também ser protagonista em inteligência artificial, tecnologia, o Aeroporto do Galeão voltando a ser hub internacional, facilita o posicionamento corporativo no Rio”, diz Lima.

O Rio apresenta poucos novos empreendimentos corporativos de alto padrão, com lançamentos pontuais, especialmente na Zona Sul. A região, a “cara” do Rio, possui alta demanda por ser a mais nobre e bem servida de transporte público.

Mudanças no Plano Diretor, que aumentaram o potencial construtivo e a possibilidade de retrofits, também vêm atraindo investidores e projetos. A JGP, por exemplo, está entre os que desenvolvem na região. A gestora adquiriu, em 2023, o shopping Rio Design Leblon com a intenção de transformar parte do empreendimento em escritórios premium.

O desafio agora é garantir a sustentação desse crescimento. Tirando o que não consegue controlar, caso da macroeconomia, o Rio precisa melhorar a segurança pública, percebida como pior que São Paulo, o que prejudica a atração de executivos e empresas.

Essa percepção fez com que muitas empresas migrassem para São Paulo. A capital paulista já vinha atraindo companhias cariocas desde o início dos anos 2000, após o fim da Bolsa do Rio, que consolidou São Paulo como centro financeiro do País, e ganhou ainda mais empresas com a questão da segurança pública.

“O Rio está no caminho correto, ao investir para ser protagonista, mas falta agora o governo do Estado continuar na batalha da segurança pública, o problema de todas as grandes cidades”, afirma Lima.