O anúncio, em agosto deste ano, de que o Mercado Livre comprou uma farmácia da Memed para entrar no setor farmacêutico chamou a atenção de grandes players e provocou muitos murmurinhos entre quem acompanha o setor no mercado financeiro. Apesar da repercussão, a companhia afirma que a estratégia de adquirir uma farmácia física teve como único objetivo realizar um teste e compreender melhor o funcionamento do setor.
A empresa enfatiza que sua intenção principal não é operar uma rede de farmácias, mas sim viabilizar, futuramente, a venda de medicamentos por meio do modelo 3P (marketplace), atualmente proibido pela RDC 44/2009 da Anvisa.
“É uma regulamentação feita há bastante tempo e tem alguns modelos de compra que são autorizados. Ninguém mais envia fax e é possível fazer compra via fax. A compra via um marketplace não é autorizada”, disse Fernando Yunes, vice-presidente sênior de commerce e líder do Mercado Livre no Brasil.
A crença de que a Anvisa mudará as regras parte do fato de a agência ter autorizado, de forma definitiva, a entrega remota de medicamentos, prática que havia sido permitida em caráter emergencial durante a pandemia.
“Enxergamos, sim, que o mercado e a tecnologia evoluíram bastante desde 2009. Tivemos uma pandemia, inclusive, nesse período até a data atual. E é natural que o marco regulatório precise de uma adaptação”, afirmou Adriana Cardinali, diretora e líder do jurídico de e-commerce do Mercado Livre no Brasil.
Caso a companhia não consiga avançar na regulamentação para o modelo 3P, Yunes avalia que, nesse cenário, poderia fazer sentido ampliar a rede física de farmácias — embora esse não seja o plano atual.
“Teríamos duas opções: ou fazer uma aquisição, criar uma rede enorme de farmácias — e aí, sim, o Mercado Livre acabaria sendo concorrente das pequenas, médias e das grandes — ou não avançar e não entrar em farma”, afirmou.
Yunes diz que, por enquanto, a compra da farmácia Cuidamos, em São Paulo, representa apenas um teste para entender melhor o funcionamento do setor e suas exigências regulatórias.
“Compramos essa farmácia para aprender como operar no setor de farmácias. Isso inclui uma série de coisas: entender como o consumidor busca um produto, quais são as informações pertinentes — até entender como opera uma farmácia também.”
A ideia não é escalar esse modelo de negócio no formato 1P, mas sim utilizá-lo como aprendizado para, futuramente, viabilizar o modelo 3P, caso a regulamentação brasileira seja atualizada. A iniciativa, segundo ele, visa explorar aspectos como operação logística, requisitos sanitários e experiência do consumidor.
“Queremos ser parceiros das farmácias. Não queremos competir com as farmácias, como tem sido dito. Queremos que elas vendam no Mercado Livre.”
A empresa já atua na venda de medicamentos via marketplace no México, Colômbia, Argentina e Chile, onde o modelo 3P é permitido pelas regulamentações locais. Segundo o Mercado Livre, a expectativa é que o Brasil também avance nesse sentido, com a Anvisa promovendo uma atualização da RDC 44/2009 para viabilizar esse formato no país.