Na semana passada, o WhatsApp lançou no Brasil e em 150 países o serviço chamado Canais, no qual empresas e criadores de conteúdo podem enviar mensagens para milhares de pessoas cadastradas. Na última quarta-feira, na Índia, Mark Zuckerberg, anunciou a nova ferramenta Flows, que permitirá a empresas personalizar a experiência de seus clientes.

Quando estiver no ar, será possível, por exemplo, emitir e reservar um assento no avião sem a necessidade de entrar no site da companhia – tudo realizado pelo WhatsApp. A velocidade com a qual o app tem lançado novas funcionalidades vem na proporção em que o negócio tem ganhado destaque dentro da Meta. E um executivo brasileiro é central nesse negócio.

Trata-se de Guilherme Horn, que já comandava a operação do WhatsApp no Brasil e, recentemente, foi alçado ao posto de head de mercados estratégicos do app. Sob seu escrutínio estão Brasil, Índia e Indonésia – países que, somados, contam com 1 bilhão de usuários, a metade da base global de 2 bilhões do WhatsApp.

“Durante a pandemia, o mercado acelerou esse processo de forma orgânica, e isso fez com que a mensageria de negócios ganhasse ainda mais destaque na Meta. Hoje, é uma das áreas que mais crescem na empresa, ao ponto de Mark Zuckerberg ter feito uma menção especial a ela nas últimas divulgações de resultados”, diz Horn ao NeoFeed.

Quando o Facebook (sim, antes de a empresa ser chamada de Meta) pagou US$ 22 bilhões pelo aplicativo WhatsApp, em 2014, muita gente torceu o nariz para o tamanho do cheque. Passados menos de dez anos da compra, o app se converteu em uma ferramenta onipresente no dia a dia das pessoas. É a plataforma com mais usuários, acima do Instagram, do Messenger e do próprio Facebook.

Olhando para trás, na perspectiva atual, saiu barato. Mas a Meta ainda tem um grande desafio: aproveitar cada brecha para aumentar a monetização. No Brasil, por exemplo, boa parte dos negócios que movimentam o PIB passam pelo famoso “zap”, principalmente pelos pequenos e médios comércios, mas a Meta não vê a cor desse dinheiro.

A primeira grande tentativa de monetizar de forma avassaladora com a base no Brasil veio quando o WhatsApp quis lançar o WhatsApp Pay no Brasil, chegando antes do PIX. O app, entretanto, encontrou a resistência do Banco Central, o regulador do mercado e dono do projeto do sistema de pagamento instantâneo, que brecou seu início e fez o PIX sair na dianteira.

“Por mais que o WhatsApp diga que o WhatsApp Pay está disponível, eles perderam o bonde para o PIX”, diz um tarimbado profissional do setor de meio de pagamentos que não quis se identificar. As principais fontes de receita para o app hoje são Click-to-WhatsApp e o uso de API do WhatsApp Business.

O NeoFeed apurou que o WhatsApp está testando em uma pequena cidade brasileira o uso do app para pedir Uber. Ou seja, não é necessário entrar no aplicativo do Uber para chamar um carro, apenas pelo WhatsApp, que identifica o usuário já pré-cadastrado. A ferramenta já está funcionando no mercado indiano.

O Flows, que foi anunciado na Índia, já está em testes no Brasil. Segundo o WhatsApp, em parceria com a empresa de inteligência em marketing conversacional smarters, o Magalu está testando uma experiência de compra direta no WhatsApp, com a integração de catálogos entre seu e-commerce e o app de mensagens.

Funciona da seguinte forma: os usuários podem navegar no catálogo do Magalu e da Época Cosméticos no WhatsApp, checar informações e detalhes sobre os produtos, adicionar itens ao carrinho e enviar o carrinho para a empresa.

O setor de varejo já ocupou a primeira posição no faturamento do app, mas hoje o mercado financeiro está na dianteira. Detalhe: estava na sétima posição antes de Horn entrar na companhia no início do ano. Se antes eram pouco menos de dez empresas do segmento usando, hoje estima-se que sejam quase 200.

Empresas como BTG Pactual, Safra, Banco Pan, BV, Nubank e Itaú têm usado a ferramenta. No caso do Banco Pan, até mesmo para abrir conta. Como veio do mercado financeiro, Horn, que cofundou a Órama e foi vice-presidente do BV, enxergou a oportunidade e o potencial da ferramenta no segmento e tratou de usar sua rede de contatos.

Agora, com o WhatsApp Canais, lançado na semana passada, abre-se mais uma porta para a monetização. Por enquanto não há nada definido, mas imagine que um canal de notícias tenha mais de 1 milhão de usuários e pretenda criar assinaturas específicas na plataforma e cobrar por um conteúdo premium. O WhatsApp, neste caso, poderia ficar com um take rate, nos moldes que uma Apple faz com a App Store.

O WhatsApp não revela seus números, mas, ao possibilitar uma ferramenta como essa, não está pensando apenas em oferecer uma funcionalidade para facilitar a vida de empresas e usuários. O app já faz parte desse grupo, mas também quer ganhar com ele.