Em julho do ano passado, fundos geridos pelo BTG Pactual pagaram R$ 12,9 bilhões para assumir o controle da operação de fibra óptica da Oi, de olho no crescente mercado de banda larga ultrarrápida do Brasil.
Seis meses depois do negócio, a operação já passou pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e está prestes a ser aprovada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mas, durante esse tempo todo, a empresa, que passou a se chamar V.tal (lê- Vital), não ficou parada à espera do novo dono assumir o seu controle.
“Estamos em um ritmo de implantação de mais de 400 mil casas com cobertura disponível para banda larga por fibra óptica por mês”, diz Pedro Arakawa, responsável pela operação da V.tal, ao NeoFeed. “E já fechamos duas dezenas de contratos de rede neutra.”
A V.tal já chegou a 14 milhões de casas passadas com fibra óptica – antes de os fundos do BTG Pactual comprarem a empresa eram 10,5 milhões. O número de cidades que podem levar internet de alta velocidade direto à casa dos consumidores cresceu de 190 para 206. No total, são mais de 400 mil quilômetros de fibra óptica.
Os nomes dos provedores que assinaram contrato de rede neutra com a V.tal ainda são guardados sob sigilo. Apenas a própria Oi, que tinha 3,2 milhões de clientes de banda larga fixa no terceiro trimestre de 2021 (dado mais atual) e será o maior cliente da nova empresa, e a Vero internet, uma operação ligada ao fundo de private equity Vinci Partners, tiveram os contratos divulgados.
Ao mesmo tempo, a V.tal já atua de forma independente da Oi desde agosto do ano passado, quando a nova marca foi anunciada. A companhia tem uma sede própria em São Paulo e uma equipe de 100 profissionais da área comercial que já está separada da operadora de telefonia.
Os profissionais da área de tecnologia, infraestrutura e operações estão em fase final das separações das equipes. “Temos um ‘chinese wall’ com a Oi”, afirma Arakawa. “Nem o Rodrigo Abreu (que é presidente da Oi) participa das decisões.”
O BTG também não participa ainda das decisões estratégicas da V.tal. Um exemplo disso é que a nome da nova marca foi decidido sem que os novos donos fossem consultados. Quando assumirem, o novo controlador vai nomear um CEO e trará Amos Genish, que fundou a GVT e foi CEO da Telefônica Vivo e da Telecom Italia, para comandar o conselho da empresa.
O objetivo da V.tal é implantar o conceito de rede neutra, em que a infraestrutura é compartilhada com outras empresas de telefonia. Inclusive com as concorrentes da Oi. O desafio será convencer as companhias de telecom, em especial pequenos provedores regionais, a optarem pela infraestrutura da V.tal, em vez de investirem na construção de sua própria rede de fibra óptica.
“Esse modelo precisa vingar ainda”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco, referindo-se ao conceito de rede neutra. “Eles precisam achar uma equação econômica em que um provedor diga: ‘é melhor usar essa rede do que construir a minha’.”
Uma fonte do mercado de telecomunicações concorda. “Conceitualmente é interessante e o discurso da neutralidade está coerente”, diz. “Mas quando concorrentes usarem a mesma rede para competir com a Oi, aí vamos ver se vai funcionar.”
A V.tal diz que terá, quando o BTG Pactual assumir, um comitê cuja missão é garantir a neutralidade dos contratos. “Mas a Oi deve seguir relevante por um tempo”, afirma Arakawa.
Investimentos bilionários
Quando o negócio for aprovado, os fundos geridos pelo BTG Pactual passam a deter 57,9% da V.tal. A Oi segue como acionista minoritária, dona do capital remanescente, com assento no conselho de administração.
O novo dono se comprometeu a fazer um investimento de R$ 30 bilhões nos próximos quatro anos. A meta é chegar a 32 milhões de casas passadas com a infraestrutura de fibra óptica da V.tal.
A ideia é oferecer os serviços para todos os tipos de provedores de internet. Mas o alvo vai ser atender os provedores regionais, hoje donos de uma fatia de mais de 60% do mercado de banda larga de alta velocidade com fibra óptica no Brasil, segundo a consultoria Teleco.
A competição será também com pesos pesados do setor. Vivo e TIM criaram suas próprias empresas e buscaram investidores para atuar no mesmo mercado da V.tal. A Vivo, por exemplo, se associou ao fundo canadense CDPQ, que será majoritário, para fundar a FiBrasil. A TIM, por sua vez, fez uma joint venture com a IHS Towers na FiberCo.
“Elas precisavam de dinheiro para crescer e financiar suas redes”, diz Tude, da Teleco, sobre o fato de as operadoras buscarem sócios investidores nas empresas de fibra óptica. “Das três empresas, vai ser mais difícil para Vivo e TIM mostrarem que são neutras.”
Outro mercado em que as três operadoras vão brigar é pelo do 5G, fornecendo a infraestrutura para ligação das antenas, chamadas de estações radio-bases (ERBs), via fibra óptica. Hoje, há aproximadamente 100 mil ERBs no Brasil. A estimativa é que a tecnologia de quinta geração do celular deva precisar de cinco a 10 vezes mais antenas para sua implantação. “Já temos conversas com alguns vencedores do leilão do 5G”, diz Arakawa.
Reestruturação da Oi
A venda da V.tal para os fundos geridos pelo BTG Pactual faz parte da recuperação judicial da Oi, que fez um plano de reestruturação para vender diversos ativos e se transformar em uma empresa de banda larga fixa.
Além da V.tal, a Oi também vendeu sua divisão de torres para a Highline, em um negócio de pouco mais de R$ 1 bilhão, em novembro de 2020. Neste mesmo mês, a área de data center foi comprada pela Piemonte Holding por R$ 325 milhões.
Em dezembro de 2020, foi a vez da operação de telefonia móvel da Oi ser arrematada por R$ 16,5 bilhões por um consórcio formado por TIM, Vivo e Claro, em um negócio que ainda precisa ser aprovado pelas autoridades regulatórias do setor.
Com a venda desses quatro ativos, a Oi arrecadou mais de R$ 30 bilhões, recursos que vão entrar para os seu caixa para a reduzir dívida e acelerar investimentos na área de fibra óptica residencial.