A usina termelétrica Suape II, em Pernambuco, da empresa Suape Energia, está na fase final da implementação de um projeto único no mundo para a utilização de etanol como combustível na geração de energia elétrica em larga escala. Os investimentos, da ordem de R$ 60 milhões, serão realizados pelas controladoras da usina (a Savana Holding, que detém 80% da empresa, e a Petrobras, com 20%), em parceria com a empresa finlandesa Wärtsilä.
O motor a etanol, que chegou à fábrica na quarta-feira, 17 de setembro, irá se juntar aos 17 equipamentos que hoje operam a óleo na termelétrica pernambucana, localizada dentro do complexo portuário de Suape, em Cabo de Santo Agostinho.
O processo todo de montagem e de instalação de infraestrutura para a operação do motor deve durar até março do ano que vem. A partir daí começa a fase de operação-piloto, que vai levar 4 mil horas de testes e deve durar até o fim de 2026.
A validação vai medir a vida útil dos componentes mecânicos e elétricos com a utilização do etanol, o que precisa ser melhorado e, principalmente, quais serão os primeiros resultados operacionais com o modelo de transição energética e menor emissão de gases de efeito estufa.
A Suape II hoje tem a capacidade instalada de geração de 380 MW de energia, com utilização de óleo combustível, um derivado do petróleo, o que abastece 1,5 milhão de famílias. O motor exclusivo a etanol irá gerar 4MW, o equivalente ao consumo médio mensal de energia para 19 mil famílias, ou uma cidade com 80 mil habitantes.
A partir de março, quando estiver em operação supervisionada, a unidade já começará a entregar energia ao Sistema Interligado Nacional (SNI), controlado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Mas, no período de testes, a usina não será remunerada por esse envio.
“Essa operação vai em linha com a busca do Brasil por essa transição energética, com a utilização de fontes sustentáveis. A cadeia do etanol já é bem desenvolvida, mas será possível adicionar mais essa utilização”, diz Carlos Alberto Mansur Filho, vice-presidente da Savana Holding, em entrevista ao NeoFeed.
Segundo o VP da Savana, a Petrobras também demonstrou interesse no novo projeto sustentável. “Eles ficaram muito animados. Vão participar de todos os testes, envolvendo os centros de pesquisas e desenvolvimento da Petrobras. Foi importante ver o engajamento deles.”
Até aqui, já foram alocados 60% dos valores investidos para a implementação do motor a etanol em Suape II. Os 40% restantes serão aportados até o início da fase de testes.
“A máquina será montada dentro de Suape II, só que com o combustível diferente. Esse motor vai se interligar à usina, com caráter de teste”, afirma José Faustino, CTO da Suape Energia.
“Vai ser a oportunidade de mostrar aos fabricantes, investidores e para o próprio sistema elétrico brasileiro que é viável ter uma planta de etanol, entregando potência com energia sustentável. Isso é muito inovador”, complementa.
Além dos R$ 60 milhões em capex, a companhia irá aportar R$ 15 milhões para a compra de 6 milhões de litros de etanol, que serão utilizados durante a fase das 4 mil horas de testes. O combustível será adquirido da distribuidora Vibra.
Garantia de fornecimento de energia
A função da usina termelétrica é garantir a segurança do fornecimento de energia elétrica, funcionando como uma espécie de reserva de energia rápida quando há algum problema de interrupção da distribuição da energia a partir das demais matrizes energéticas.
Mas, apesar de o Brasil contar hoje com 88% de sua energia elétrica a partir de fontes renováveis, segundo o Ministério de Minas e Energia, as termelétricas ainda utilizam combustível fóssil. Uma boa parte funciona a carvão. O País tem hoje mais de 3 mil termelétricas, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Anualmente, o governo federal realiza leilões de reserva de capacidade (LRCAP), justamente para contratar novos projetos de geração de energia, para assegurar o fornecimento no período de alta demanda ou quando as hidrelétricas são impactadas por períodos de crise hídrica.
Com mais eólicas, hidrelétricas, usinas fotovoltaicas e outras fontes de energia, o Brasil vai precisar de mais termelétricas, para regular as intermitências. Mas, no próximo leilão, que deve ocorrer em março de 2026, não serão contemplados projetos de termelétricas com biocombustíveis.
A ideia é que, a partir da concretização dos testes, com o resultado positivo, e com a entrada do etanol para geração de energia nos futuros leilões, o próximo passo seja a construção de uma usina termelétrica inteira com etanol.
“O foco lá na frente é montar uma planta de pelo menos 100 MW. Será possível tecnicamente e economicamente. Em um futuro leilão, uma usina desse porte será muito competitiva”, afirma Faustino.
“Com a tecnologia embarcada, a gente vai conseguir uma eficiência parecida com a de uma máquina com óleo combustível”, completa.
Na parceria com a Wärtsilä, a Suape Energia terá exclusividade na utilização desta tecnologia no Brasil no primeiro leilão, a partir do momento em que o governo inserir o uso de etanol nas termelétricas. E, como a tecnologia é da empresa finlandesa, eles podem levar esse sistema para outros mercados internacionais.