Depois de quase quatro anos de lucros trimestrais, a Petrobras reportou na quinta-feira, 8 de agosto, um prejuízo bilionário - e numa magnitude que surpreendeu o mercado. E ele ocorreu justamente no momento da turbulenta transição de poder dentro da estatal, com Magda Chambriard assumindo no lugar de Jean Paul Prates.
No segundo trimestre, a companhia registrou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, revertendo o lucro de R$ 28,8 bilhões apurados no mesmo período de 2023 – a média das expectativas apontava para um ganho de R$ 22,3 bilhões, segundo a consultoria LSEG. O Ebitda ajustado, por sua vez, caiu 12,3%, a R$ 49,7 bilhões.
O resultado da última linha do balanço acabou sofrendo com os efeitos de uma série de efeitos não recorrentes. Primeiro, foi o acordo com o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) para quitar dívidas fiscais com a União. O desempenho também foi prejudicado pela desvalorização do dólar frente ao real, além de questões relativos a acordos coletivos com funcionários, alienações e baixas.
Excluindo esses efeitos, o lucro líquido teria alcançado R$ 28 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado seria de R$ 62,3 bilhões. A receita da companhia somou R$ 122,2 bilhões, alta de 7,4% em relação ao segundo trimestre de 2023.
“Os resultados foram sólidos e dentro do esperado”, disse Chambriard em vídeo veiculado no começo da teleconferência de analistas e investidores – a presidente da Petrobras não participou da call.
Na teleconferência, a diretoria da Petrobras buscou demonstrar que a companhia está em um patamar financeiramente saudável e que seguirá responsável. O diretor financeiro Fernando Melgarejo destacou que a dívida financeira atingiu o menor patamar desde o terceiro trimestre de 2008.
No segundo trimestre, a dívida bruta recuou 3,6% em relação aos três primeiros meses do ano, para US$ 59,6 bilhões, enquanto a alavancagem financeira permaneceu estável, em 1,2 vez.
Além disso, Melgarejo buscou destacar que a alocação de capital na Petrobras seguirá os melhores padrões da indústria. O tema preocupa os investidores desde a época do comando de Prates, considerando as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de representantes de seus governo, de que é preciso aumentar os investimentos da Petrobras.
O receio do mercado é da companhia embarcar em projetos pouco rentáveis, como já fez no passado e que a tornou a empresa de petróleo mais endividada do mundo, em 2017. “Vamos buscar entregar capex realista e traga jornada de crescimento da companhia”, afirmou Melgarejo.
O tema também esteve na fala de Chambriard, que disse que a Petrobras garante “respeito lógica empresarial, a transparência e governança, a disciplina de capital e alavancagem controlada”.
Outro tema sensível aos investidores, e que fez parte das manchetes dos últimos meses quando se tratava de Petrobras, são os dividendos. Mesmo com o prejuízo do segundo trimestre, a empresa anunciou o pagamento de R$ 13,6 bilhões em dividendos, por conta do fluxo de caixa livre, que totalizou R$ 32 bilhões, ainda que tenha que ter recorrido à reserva de remuneração de capital para ter R$ 6,4 bilhões.
O uso de recursos da reserva gerou dúvidas, e receios, de que a Petrobras pode não pagar dividendos extraordinários neste ano, dominando boa parte das perguntas dos analistas na teleconferência.
O diretor financeiro da Petrobras, porém, afirmou que o pagamento em 2024 não está descartado, mas que dependerá das premissas do plano estratégico para o período de 2025 a 2029, das perspectivas de geração de caixa futuro e do caixa presente, e não da reserva.
Já sobre os planos para as operações, a Petrobras destacou que o foco é aumentar as reservas de petróleo e que a prioridade é conseguir as aprovações das licenças ambientais para explorar a Margem Equatorial, localizada entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte, e a Bacia de Pelotas, no Sul.
Mas considerando a demora para a concessão das licenças pode levar a Petrobras a olhar para fora do País, para a América do Sul e a África. “Quanto menos oportunidades tivermos no Brasil, maior a necessidade de internacionalização”, afirmou Melgarejo.
Por volta das 14h40, as ações preferenciais (PETR4) da Petrobras caíam 0,41%, a R$ 36,70. No ano, elas acumulam alta de 8,9%, levando o valor de mercado a R$ 496,9 bilhões.