A decisão do presidente Luís Inácio Lula da Silva de demitir o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi mal-recebida pelo mercado e abriu caminho para uma série de especulações sobre o futuro da governança da empresa.

Parte da incerteza com o anúncio da queda de Prates, na noite de terça-feira, 14 de maio, se deve ao nome prontamente anunciado pelo governo federal para assumir a presidência da Petrobras.

Magda Chambriard, que trabalhou por mais de 20 anos na estatal e vinha atuando como consultora, tem um perfil ideológico desenvolvimentista, mais próximo da ala política do PT favorável a uma participação maior do governo na empresa.

Durante o governo Dilma Rousseff, Chambriard foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Chambriard defende a exploração de petróleo na Margem Equatorial e o investimento da Petrobras em energia verde.

Sua nomeação ainda deve ser aprovada pelo Conselho de Administração da empresa.

“A mudança é ruim, Prates estava fazendo um trabalho razoável, dialogando com o mercado e os representantes do governo; a Magda tem um viés diferente dos acionistas, menos pró-mercado”, afirma Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos.

A reação negativa à mudança repentina no comando da empresa ficou claro ainda na noite de terça, quando os papéis PBR, equivalente às ações ordinárias, com maior liquidez, chegaram a cair 8% no after market da Bolsa de Nova York.

Os papéis da empresa abriram o pregão em baixa e continuaram acumulando perdas no início da tarde de quarta-feira, 15 de maio, na B3. A ação preferencial (PETR4) estava em queda de 5,7% e a ordinária (PETR3), -6,8% , por volta de 14h15.

Com isso, a Petrobras viu seu valor de mercado cair para R$ 507 bilhões, uma redução de R$ 35,3 bilhões em relação ao dia anterior. Esse montante perdido pela empresa equivale ao valor total das ações da Equatorial Energia.

Em fevereiro de 2021, quando Jair Bolsonaro trocou Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna, a ação da companhia caiu mais de 21% no dia.

Em comunicado no início da tarde, a Petrobras confirmou a saída de Prates e também do diretor financeiro e de Relacionamento com Investidores, Sergio Caetano Leite, além da nomeação da diretora executiva de assuntos corporativos, Clarice Coppetti, como presidente interina.

A queda de Prates ocorreu um dia após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da estatal, abaixo do esperado pelo mercado.

A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 23,7 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 37,9% na base anual e recuo de 23,7% em relação ao quarto trimestre de 2023.

Por outro lado, as constantes ingerências políticas na Petrobras – que caminha para o sexto presidente em três anos – estão levando analistas a prever uma normalização dos papéis no curto prazo.

Nos últimos 12 meses, a despeito de várias crises envolvendo Prates e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, as ações preferenciais da Petrobras valorizaram 50%. No ano, esse tipo de papel teve apenas 1,9% de valorização.

Ressalva

Em relatório aos clientes, o Goldman Sachs fez essa ressalva: “Apesar dos desentendimentos entre a direção da empresa e o governo, a Petrobras assistiu a uma recuperação plurianual no preço das ações, o que atribuímos a fundamentos sólidos e a uma melhor governança como resultado da recuperação iniciada em 2016”.

Os analistas do Goldman, porém, classificaram como negativa a saída de Prates, que o banco via como um bom conciliador entre os interesses dos investidores e do governo.

“Acreditamos que o anúncio de hoje poderá reacender preocupações relativamente a uma potencial intervenção política nas operações da empresa”, destaca o relatório. Neste sentido, o banco orienta os acionistas a ficarem atentos ao aspecto de governança que possa ocorrer, embora considerem essa possibilidade de alcance limitado.

“As leis atuais e os estatutos da Petrobras em vigor tornariam um desafio para uma nova administração alterar significativamente a alocação de capital e as políticas de preços de combustíveis”, conclui.

Outro banco, o BTG Pactual, afirma que a saída de Prates, “repentina e surpreendente”, deverá levar os investidores a avaliarem riscos mais elevados de interferência política na empresa.

Mesmo destacando como negativa a mudança na liderança da Petrobras, o BTG afirma ter uma visão inicial positiva sobre a nomeação de Chambriard.

O banco cita a decisão de segunda-feira, 13, do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu restabelecer as restrições da Lei das Estatais para a indicação de políticos para cargos de direção de estatais.

Em vigor desde 2016, a lei exige quarentena de 36 meses para que dirigentes de partidos e pessoas que tenham atuado em campanhas eleitorais assumam postos de direção e de conselho de administração de estatais.

No ano passado, o PC do B havia entrado com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) questionando o prazo, o que permitiu ao governo nomear políticos para estatais.

Por maioria, o STF restabeleceu a quarentena, mas permitiu que os atuais ocupantes dessas posições nomeados durante o governo Lula permaneçam nos postos.

Para o BTG, a decisão do STF vai ter impacto positivo na Petrobras. “A partir de agora, todas as nomeações, e não descartamos mudanças adicionais para outros cargos na equipe de gestão da Petrobras, terão seguir um viés técnico”, diz o relatório.