O aplicativo de mensagens Telegram está no centro de uma grande polêmica, desde que o site The Intercept revelou conversas privadas entre o então juiz da operação Lava Jato e hoje ministro da Justiça Sergio Moro e pelo procurador Deltan Dallagnol, na noite de domingo, 9 de junho.
As supostas conversas entre Moro e Dallagnol aconteceram pelo aplicativo Telegram, desenvolvido pelo russo Pavel Durov, um dos mais brilhantes programadores russo, cuja fortuna é avaliada em US$ 2,7 bilhões pela revista Forbes. O app começou a ser desenvolvido quando forças especiais russas tentaram invadir sua casa, em 2011. Na ocasião, ele percebeu que não havia maneira segura de se comunicar com seu irmão.
A ideia de Durov foi criar um aplicativo que garantisse total privacidade e proteção para quem o usasse. Por esse motivo, o Telegram sempre foi considerado um app mais seguro que o WhatsApp. Ele possui mensagens criptografadas, senhas para conversas e mensagens que podem se apagar em alguns minutos.
Durov ficou conhecido mundo tecnológico por outro motivo. Em 2006, ele criou a VKontakte, conhecida apenas como VK, a maior rede social da Rússia, ao lado de seu irmão Nikolai. Por esse motivo, ele recebeu a alcunha de o “Zuckerberg” russo, numa referência ao fundador do Facebook.
As relações de Durov com seu país natal, no entanto, não são boas. Elas desandaram quando ele se recusou a fornecer dados de usuários ucranianos para a Rússia. Além disso, ele também não tirou do ar páginas de oposição ao então candidato Vladimir Putin, atual presidente russo.
A atitude teve consequências sérias para Pavel. A polícia russa fez uma tentativa de invadir sua casa, em 2011. Dois anos depois, um fundo aliado ao governo, a United Capital Partners, comprou 40% da VK. No ano seguinte, ele deixou a empresa que fundou.
A saída foi planejada. Durov já trabalhava em um outro projeto desde 2013. Era o aplicativo de mensagens Telegram. Secretamente, ele criou uma empresa em Buffalo, nos Estados Unidos, atraindo funcionários leais da VK.
O Telegram conta hoje mais de 200 milhões de usuários. No Brasil, ele ganhou adeptos por conta de um juiz, que bloqueou o acesso ao WhatsApp por poucas horas em 2016. Quase 6 milhões de brasileiros se cadastraram no serviço naquela ocasião. Hoje, o Telegram volta ao centro do debate por conta, de novo, de um juiz.
A ideia de Durov foi criar um aplicativo que garantisse total privacidade e proteção para quem o usasse.
No mundo, o Telegram se tornou a rede mais usada pelo Estado Islâmico. Foi por meio do aplicativo que o grupo terrorista assumiu o atentado de Paris, em 2015, que deixou 129 mortos. “Os americanos começaram a se referir ao Telegram como o aplicativo preferido do Estado Islâmico”, afirmou certa vez Durov. “Mas, na realidade, há muito mais usuários legítimos.”
Uma pesquisa realizada, em 2018, pela consultoria Apptopia trouxe também uma estatística incômoda para o Telegram. Sua base de usuários crescia mais em países com maior tendência à corrupção.
Hoje, Durov vive em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde tem uma vida reservada, apesar de postar fotos com viagens a praias paradisíacas na Ásia. Mas o empreendedor já fez uma série de extravagâncias. Em 2010, por exemplo, o Zuckerberg russo descreveu seu principal acionista, o Grupo Mail.ru, como “uma holding de lixo”.
A sua loucura mais conhecida aconteceu em 2012, durante as celebrações do Dia de São Petersburgo. Durov e seu vice jogaram várias notas de 5.000 rublos (R$ 275 cada) pela janela de seu escritório na famosa e movimentada Nevsky Prospekt.
Ele também já chegou a oferecer emprego para Edward Snowden, ex-consultor da NSA, a agência nacional de inteligência dos EUA.
Snowden denunciou espionagem dos americanos a governos e empresas, em reportagens assinadas por Glenn Greenwald, um dos cofundadores do Intercept, e outros jornalistas do jornal britânico Guardian, em 2013. Refugiado em Moscou, Snowden não aceitou a oferta de Durov.
O Telegram conta hoje mais de 200 milhões de usuários
A fama de o Telegram ser um aplicativo seguro está em xeque com os vazamentos de conversas entre Moro e Dallagnol. Os dois alegam terem sido vítimas de hackers. O incidente está sob investigação da Polícia Federal.
O Telegram, por sua vez, negou tenha havido invasão em seu aplicativo. O porta-voz da empresa, Markis Ra, disse à BBC News que “nos seis anos da existência do aplicativo 0 bytes foram compartilhados com outras pessoas” e que “nenhuma maneira de derrubar a criptografia do Telegram foi descoberta”.
Na quarta-feira 12, o serviço Telegram também passou por uma série de instabilidades. Durov, por meio de seu Twitter, alegou que a causa foi um ataque originado na China, numa tentativa de abafar os protestos em Hong Kong, que têm sido organizados pelo Telegram para driblar a vigilância do governo chinês.
Saiba mais:
- Quem é o bilionário por trás do site The Intercept
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