Em menos de 24 horas, a Weg esteve no centro de um verdadeiro “sobe e desce” na visão do mercado, com duas casas registrando análises em direções contrárias sobre a operação da indústria catarinense. Nesse intervalo, as perspectivas para o ano de 2024 da empresa foram justamente o “ponto de discórdia”.

Quem inaugurou essa agenda foi o BTG Pactual, que, na manhã de ontem, rebaixou a recomendação da empresa, de compra para neutra, ao citar as expectativas de compressão de lucros da companhia neste ano, impulsionadas por fatores como o crescimento mais lento da receita e a acomodação das margens.

Já nesta sexta-feira, o Itaú BBA foi na direção oposta ao elevar a recomendação para o papel, de neutro para outperform (acima da média do mercado, equivalente a compra), e aumentar o preço-alvo da ação, de R$ 38,50 para R$ 47, ressaltando que “histórias excelentes não apresentam desempenho inferior por muito tempo”.

“Estamos atualizando a Weg depois que a ação teve um desempenho inferior de 30% em relação ao Ibovespa desde o nosso rebaixamento, em maio. Em resumo, a nossa visão mais construtiva baseia-se numa inflexão positiva em todas as três tendências que levaram a esse desempenho inferior”, escreveu o time do Itaú BBA.

No primeiro ponto de inflexão, os analistas do Itaú BBA citam as expectativas de crescimento do grupo catarinense de bens de capital, que devem ganhar força no decorrer de 2024 à medida que a demanda por produtos de ciclo curto se expande gradativamente.

Para embasar essa visão, o time do banco cita dados proprietários e coletados no mercado, que sugerem melhorias na entrada de pedidos, com uma aceleração no segundo semestre. Já para o portfólio de ciclo longo, a expectativa segue de um crescimento com ritmo sólido.

Esse olhar é reforçado por conversas recentes do Itaú BBA com empresas como Siemens, ABB e Schneider-Electric, que também apontaram para as projeções de uma recuperação da demanda no segundo semestre.

Em uma segunda frente, o banco também tem estimativas favoráveis para a rentabilidade da operação, em linha com a perspectiva de margens estáveis no ano. A percepção é de que a pressão sobre os preços, observada em 2023, chegou ao fim, com uma maior disciplina praticada pelos players do setor.

“Há muito pouco espaço para uma diminuição substancial das margens. Com a demanda preparada para iniciar uma tendência de recuperação e os custos das matérias-primas estagnados, não acreditamos que os clientes da Weg estarão no lado mais forte da mesa de negociações”, destaca um trecho do relatório.

Sob uma terceira e última ótica, o Itaú BBA tem uma visão mais otimista para o custo de capital próprio, com o esperado início de ciclo de queda da taxa de juros nos Estados Unidos, o que beneficiaria a Weg tanto sob a perspectiva de uma aceleração na demanda quanto de uma taxa de desconto mais baixa.

“Outro fator que poderia diminuir a percepção de risco das ações é a percepção por parte dos investidores de que a Weg, historicamente, promete menos do que realmente entrega”, acrescentam os analistas do Itaú BBA.

Embora ressalte que o investidor não deve se preocupar, pois é “apenas um ciclo de curto prazo”, o BTG Pactual, por sua vez, justifica o rebaixamento com questões como o crescimento mais lento da receita, em função de uma comparação difícil nessa linha com os números apurados na pandemia.

A partir desse e de outros componentes, o banco reduziu algumas estimativas para a operação. Entre elas, de faturamento, para R$ 38 bilhões e R$ 43 bilhões, em 2024 e 2025, contra as projeções anteriores de R$ 41 bilhões e R$ 46 bilhões, respectivamente.

Já no que diz respeito à última linha do balanço, os novos números apontam para um lucro líquido de R$ 5 bilhões nos dois exercícios, comparados à estimativa anterior de R$ 6 bilhões, em 2024, e R$ 7 bilhões, em 2025.

Em contrapartida, o time do BTG Pactual manteve o preço-alvo de R$ 50 para a ação, ressaltando fatores como o potencial de crescimento da Weg em segmentos como armazenamento de energia, mobilidade elétrica e transformadores.

Outro elemento dentro desse viés mais positivo é a expectativa de uma integração mais rápida do que o esperado da aquisição da operação de motores elétricos industriais e geradores da americana Regal Rexnord, anunciada em setembro, por US$ 400 milhões. O que deve reforçar suas receitas já em 2024.

“Temos plena consciência do forte apelo de investimento de longo prazo da Weg, especialmente para investidores estrangeiros. Mas como limitamos nosso rating ao horizonte de um ano, vemos 2024 como um ano de ajuste pós-pandemia e de integração da Regal”, ressalta um trecho do relatório do BTG.

No saldo dos dois relatórios, as ações da Weg registravam alta de 1,38% por volta das 11h40 dessa sexta-feira na B3, cotadas a R$ 38,31. Em 2024, os papéis têm uma valorização de 3,7%. A companhia está avaliada em R$ 160,7 bilhões.