Envolta em sua própria crise, a Oncoclínicas confirmou o que boa parte do mercado suspeitava: tem CDBs do Banco Master, que é dono de uma fatia de 14,96% da empresa de tratamentos oncológicos e seu segundo maior acionista.
E, para se proteger desse risco, a companhia anunciou nesta quarta-feira, 22 de outubro, que assinou um acordo para a repactuação de um saldo remanescente de R$ 478,2 milhões aplicado em certificados de depósito bancário (CDB) de emissão do Banco Master de Investimento (BMI), instituição ligada ao Banco Master.
De acordo com a Oncoclínicas, o BMI se comprometeu a observar um cronograma de resgate dos CDBs que prevê 20 parcelas mensais com valores de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões a serem quitadas entre este mês de outubro e maio de 2027.
Segundo apurou o NeoFeed, caso o Banco Master não honre os compromissos, o CDBs podem ser trocados pelas ações que o banco de Daniel Vorcaro tem na Oncoclínicas. "É uma forma de garantir que os CDBs não virem pó", diz uma fonte.
O instrumento de repactuação prevê ainda a manutenção da taxa de remuneração dos CDBs e determinados eventos de vencimento antecipado, que, se verificados, tornam o valor investido nos CDBs imediatamente devido e automaticamente resgatável em sua integralidade.
A Oncoclínicas também poderá utilizar o saldo dos CBS como pagamento do preço de exercício de uma opção de compra sobre até a totalidade das cotas dos fundos Tessália e Quíron, que detém ações de emissão da companhia.
Essa opção poderá ser exercida caso seja verificada a ocorrência de uma hipótese de vencimento antecipado e obtida a aprovação prévia da aquisição indireta das ações da companhia detidas pelos dois fundos de investimentos em assembleia geral extraordinária de acionistas.
A conexão entre a Oncoclínicas e o Master foi estabelecida em maio de 2024, quando o banco foi um dos protagonistas do aumento de capital de R$ 1,5 bilhão da companhia, ao subscrever R$ 1 bilhão das novas ações na operação, exatamente por meio dos fundos Tessária e Quíron.
Na época, com esse movimento, o Master chegou a uma participação de 12% na Oncoclínicas e deu sequência à sua estratégia de montar posições em diversas companhias, por meio de um apetite crescente por M&As.
Boa parte desse avanço foi financiado por um custo de funding extremamente elevado, principalmente por meio de emissões justamente de CDBs, concentradas em plataformas destinadas a pessoas físicas. E que, em muitos casos, ofereciam rentabilidade bem superior a de seus pares.
O jogo virou, porém, a partir dos últimos meses de 2024, quando essa escalada deu lugar a uma crescente preocupação no mercado em relação à liquidez do Master e suas possíveis implicações e impactos para o sistema financeiro, com a possibilidade de intervenção na operação.
Nesse contexto, em março, o Banco de Brasília (BRB) fez uma proposta para comprar a instituição. Em setembro, o acordo foi rejeitado, porém, pelo Banco Central, o que reforçou os desafios do Master e, por consequência, os riscos das empresas detentoras de dívidas emitidas pelo banco – caso da Oncoclínicas.
No caso da empresa de tratamentos oncológicos, esse seria um risco adicional em meio às turbulências vividas pela companhia nos últimos meses, na esteira de uma estratégia malsucedida que incluiu, entre outras frentes, a expansão, via M&As, além do seu core, especialmente em hospitais.
Com foco em equacionar sua estrutura de capital e reduzir a alavancagem financeira, de 4,4 vezes, na sua operação, além da venda dos ativos comprados no período, um dos passos recentes da Oncoclínicas foi um aumento de capital de até R$ 2 bilhões aprovado no início desse mês.
Antes, em setembro, a companhia já havia feito uma repactuação com a Unimed Ferj, da qual é credora, com um valor de aproximadamente R$ 790 milhões. No acordo, ficou estabelecido que o valor será quitado em 94 parcelas mensais, não lineares.
As ações da Oncoclínicas fecharam o pregão da terça-feira, com queda de 4,65%, cotadas a R$ 2,05, dando à empresa um valor de mercado de R$ 1,35 bilhão. Em 2025, os papéis registram uma desvalorização de 12,3%.
(Colaborou Guilherme Guilherme)