Após dedicar parte dos últimos meses às negociações para reestruturar sua operação e se tornar uma empresa com fins lucrativos, a OpenAI está recalculando o roteiro desse plano, anunciado no segundo semestre de 2024.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, 5 de maio, a dona do ChatGPT informou que vai permanecer sob o controle da sua holding sem fins lucrativos. Ao mesmo tempo, a empresa anunciou que irá transformar sua unidade com fins lucrativos em uma Corporação de Benefício Público (PBC, na sigla em inglês).
Na prática, uma PBC tem uma estrutura empresarial e pode captar recursos no mercado de capitais, mas mantém sua “missão” e “propósito social”. Segundo a OpenAI, no seu caso, a operação terá sua holding como “grande acionista”, a partir dos recursos de consultores financeiros independentes.
“As PBCs se tornaram o padrão para outros laboratórios de inteligência artificial, como Anthropic e xAI, bem como outras companhias movidas por propósito, como a Patagonia. Acreditamos que isso também faz sentido para nós”, escreveu Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, em carta a funcionários e stakeholders.
No plano original, a proposta era transferir a participação da divisão de fins lucrativos para uma PBC, que assumiria todas as operações e negócios da OpenAI. Em paralelo, a unidade sem fins lucrativos passaria a se concentrar em iniciativas filantrópicas em áreas como saúde, educação e ciência.
Em sua carta, Altman observou que a decisão anunciada agora, de manter o controle da operação nas mãos da holding sem fins lucrativos, foi tomada após a empresa ouvir representantes de entidades civis e debater com os gabinetes dos Procuradores-Gerais dos estados da Califórnia e de Delaware.
“Estamos ansiosos para avançar nos detalhes desse plano em conversas contínuas com eles, a Microsoft e a nossa nova comissão para organizações sem fins lucrativos”, ressaltou Altman, em outro trecho da sua mensagem.
Entre outras questões, ele destacou ainda que, sob essa estrutura, as ideias da OpenAI irão se concentrar em como o trabalho da sua holding sem fins lucrativos pode apoiar um “futuro mais democrático da IA e ter impacto real em áreas como saúde, educação, serviços públicos e descobertas científicas.”
Discurso à parte, a OpenAI encontrou algumas barreiras para viabilizar o seu plano original. Um desses entraves foi o processo movido por Elon Musk, que também integra a lista de cofundadores da operação, sob a alegação de que a empresa estava traindo seus propósitos ao seguir esse caminho.
Musk, que também está por trás da xAI, deixou a OpenAI em 2019. Na sequência, a empresa lançou sua subsidiária com fins lucrativos para atrair investimentos externos e foi extremamente bem-sucedida nesse espaço, ao captar mais de US$ 60 bilhões.
O cheque mais recente – e mais polpudo – dessa conta veio em uma rodada de US$ 40 bilhões, anunciada em março deste ano. Liderado pelo Softbank, que se comprometeu a fornecer 75% desses recursos, o aporte deu à companhia um valuation de US$ 300 bilhões, contra o valor anterior de US$ 157 bilhões.
Na época, o jornal britânico Financial Times, que citou fontes próximas à negociação, ressaltou, porém, que o Softbank tinha a opção de reduzir sua parcela no aporte para US$ 20 bilhões caso a OpenAI não concretizasse o seu plano de se tornar uma empresa com fins lucrativos.
Além dos recursos previstos pelo banco japonês liderado por Masayoshi Son, os 25% restantes da rodada tiveram a participação de nomes como Coatue Management, Thrive Capital e Microsoft, essa última, até então, a principal investidora da empresa.
Antes dessa rodada, a Microsoft já havia aportado um total de US$ 13,75 bilhões na OpenAI. E esse status também surgiu como um outro possível complicador para os planos da dona do ChatGPT de se tornar uma empresa com fins lucrativos.
Em outubro do ano passado, logo após a divulgação dessa estratégia, as duas partes chegaram a contratar bancos de investimento para assessorá-las na solução do impasse de qual seria a participação detida pela Microsoft caso a OpenAI concluísse esse processo.
Em paralelo, o anúncio desses planos por parte da dona do ChatGPT foi seguido por um êxodo de funcionários e executivos-chave da empresa. Entre aqueles que abandonaram o barco figuram os nomes como Bob McGrew, que liderava a divisão de pesquisa, e de Ilya Sutskever, cofundadora e cientista-chefe.