Dois dias após Nelson Kaufman renunciar ao comando da Vivara, cargo que ele ficou pouco mais de uma semana após uma ausência de 13 anos, o comportamento das ações da companhia na B3 comprovam uma máxima: construir uma reputação demora anos; mas, para acabar com ela, basta um dia.
Nesses dois dias desde a renúncia de Kaufman, a ação da Vivara subiu 1,91% na segunda-feira, 25 de março. E caiu 3,44% nesta terça-feira, 26. O tombo desde a atrapalhada volta da Kaufman, o fundador da rede de joalherias, chega a mais de 20%, o que equivale a uma perda de valor de mercado de mais de R$ 1,5 bilhão – a Vivara fechou o pregão avaliada em R$ 5,8 bilhões.
Um gestor que acompanhou de perto essa “novela”, um verdadeiro case daquilo que não deve ser feito do ponto de vista de governança corporativa, resume a ópera-bufa da Vivara.
“Agora, o mercado quer ver resultado”, diz esse gestor. “Os próximos trimestres vão ser decisivos para a Vivara.”
A missão caberá a Otavio Lyra, o CFO da empresa desde o IPO (em 2019), que assumiu o cargo de CEO com a renúncia de Kaufman, que foi para a presidência do conselho.
Profissional tarimbado – e que era considerado por pessoas do conselho de administração como a escolha óbvia no caso de não haver um nome de consenso – Lyra terá de começar a limpar a bagunça deixada por Kaufman.
Em seu retorno relâmpago, Kaufman falou de uma expansão internacional que estava em discussão no conselho de administração, mas que era apenas isso, segundo fontes com as quais o NeoFeed conversou.
“Não havia estudos sobre em que país entrar, nem os tamanhos de mercado e quantas lojas abrir”, diz uma fonte.
No meio desse conturbado retorno, Kaufman ainda teve tempo de comprar mais 2% de ações da Vivara, aumentando sua participação para 27% - uma compra estimada em R$ 90 milhões.
Apesar de alegar a pessoas próximas que foi um sinal de que confiava na empresa, a movimentação também não caiu bem e só serviu para afundar ainda mais os papéis da companhia.
A Vivara, que estreou na bolsa em 2019 com sua ação cotada a R$ 24, era uma empresa que vinha performando bem e, em 12 meses, mantém-se no cenário positivo com valorização de mais de 11%. Em 2024, caiu 27,4%.
Os dez dias que abalaram a Vivara, tempo que Kaufman ficou como CEO da empresa, devem durar ainda muito tempo. Para brilhar de novo e reconquistar a confiança do mercado, o caminho, ao que tudo indica, será longo.