Na semana em que a Stone surpreendeu o mercado e anunciou a compra da Linx por mais de R$ 6 bilhões, muito se falou sobre a tacada de mestre do cofundador da Stone, André Street, para dominar o mercado de adquirência e meios de pagamento no Brasil.
Mas, enquanto Street, empresário avesso a holofotes, celebra o acordo e o valor de mercado da Stone, que atingiu US$ 13,5 bilhões, Eduardo Pontes, sócio de Street em vários negócios e cofundador da Stone, se movimenta para ganhar o mercado europeu.
Há um ano, Pontes, que vive em Londres, fundou e passou a comandar a Salt Pay, uma empresa que, de certa forma, replica o modelo “Stone” na Europa. Com escritórios na Inglaterra, Islândia, Croácia, República Checa, África do Sul e Estados Unidos, ela conta com cerca de 500 funcionários e é uma empresa independente da Stone, atendendo milhares de varejistas em 14 países.
O NeoFeed apurou que Felipe Moret, executivo que trabalhou no JGP, na ABInbev e no fundo de venture capital Arpex Capital; e Daniela Mastrorocco, que também fez parte da Arpex Capital, aparecem como diretores e partners da Salt Pay Services registrada em Londres.
André Street e a VCK Investments, veículo de investimento do empresário e de Pontes, também são sócios do negócio. Assim como o fundo LTS Investments, dos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. O nome de Micky Malka, do fundo Ribbit Capital, um dos principais do Vale do Silício quando o assunto são fintechs, também está associado ao negócio.
Em julho passado, a Salt Pay junto com Street, o VCK Investments e o LTS Investments, mostraram o cartão de visita para atuar com mais força no mercado europeu e compraram 96% da companhia islandesa de adquirência e meios de pagamento Borgun, por 27 milhões de euros. “Eles vão fazer um turnaround na empresa e o André Street está muito animado”, diz ao NeoFeed um investidor de fintechs.
A aquisição da Borgun, com 35 anos de atuação no mercado islandês e europeu, vai facilitar a operação da Salt Pay no Velho Continente. Desde que assumiram a operação, o CEO e alguns diretores deixaram a empresa.
Logo em seguida, o executivo Marcos Nunes, que foi vice-presidente global da desenvolvedora de software para meios de pagamento Bambora, e o próprio Pontes, foram anunciados como os comandantes da operação.
O modelo de negócios que os executivos devem implementar na operação é muito parecido com o da Stone. Pretendem avançar no mercado de meio de pagamentos com o foco nos pequenos e médios varejistas. E, além de fornecer soluções de pagamentos, a ideia é atuar oferecendo softwares de gestão e CRM para que esses varejistas conheçam mais os clientes.
“É uma Stone ou uma Square (a fintech de Jack Dorsey) em um estágio mais jovem”, diz um executivo do setor de adquirência. “Eles contam com um produto top de linha para captura de transação que permite fazer muito mais do que uma maquininha mais barata (software de comanda, CRM, como se fosse um smartphone).”
No mercado europeu, concorre com outras gigantes já estabelecidas como a iZettle e a SumUp, que focam nos pequenos e médios varejistas e também oferecem software de gestão para esses clientes. Mas isso não é um impeditivo para a Salt Pay crescer. Basta ver a história da Stone, que nasceu em um mercado dominado pela Cielo e Rede, e virou uma das protagonistas.
Será preciso, entretanto, encorpar o time. A imprensa islandesa reportou que novas contratações virão pela frente. A Salt Pay comunicou ao mercado que contratará 60 funcionários, em sua maioria jovens universitários, nos próximos seis meses. Desenvolvedores também estão sendo recrutados para atuar em outras áreas da Salt Pay. O próprio Pontes anunciou as vagas no LinkedIn.
“Como alguns sabem, em 2018, me mudei para a Europa para aprender e tentar fazer algo novo”, disse Pontes na rede social corporativa. E prosseguiu. “Durante esse período, iniciei uma empresa que aparentemente está ficando pronta para escalar. Estou procurando pessoas para se juntar ao time, já somos uns 500. Curtir a jornada é a única opção. Somos e gostamos de pessoas felizes.”
Esse é um dos raros momentos em que Pontes se pronuncia. “Se o André Street é low profile, o Eduardo Pontes é paranoico com aparições públicas”, diz um executivo do mercado que o conhece. Nesse ponto, os dois são muito parecidos. Mas ambos se complementam.
Parceiros de negócios
Uma reportagem do jornal Valor Econômico publicada em outubro de 2018 mostra que, juntos, os dois cariocas fundaram a Braspag, em 2004, depois vendida para o Grupo Silvio Santos. Também fundaram outros negócios como a Netcredit, o site Blindado o serviço de comparação de preços Sieve. Em 2011, criaram a Arpex Capital e, em 2013, lançaram a Stone.
Todas as fontes consultadas pelo NeoFeed dizem que, enquanto Street, de 35 anos, é o homem dos negócios, com uma veia comercial muito forte, Pontes, de 40 anos, é o cérebro por trás das inovações tecnológicas. Admirador de Jack Ma, o fundador do Alibaba, ele é visto como um profissional brilhante.
“É um cara que cativa o time e forma jovens talentos”, diz um alto executivo de uma empresa de adquirência concorrente. “E ele vive também em um mundo paralelo”, afirma. Esse profissional conta que, anos atrás, em um evento do Banco Central, onde vários trajavam terno e gravata, Pontes chegou de jeans e camiseta.
“Pelo estilo de vida dele, você não fala que é um bilionário. Aliás, o dinheiro da venda da Braspag deve manter o estilo de vida dele para o resto da vida.” O que, segundo executivo faz os olhos de Pontes brilharem, é criar novos negócios e resolver problemas.
Em agosto do ano passado, em uma live com o profissional de growth hacking Braulio Medina, Pontes falou sobre sua visão de empreendedorismo. Ele afirmou que empreender só tem significado “quando é para mudar a vida de alguém para melhor”. Também deu uma dica valiosa para quem está começando uma companhia, a começar pela montagem de time.
“Os trinta primeiros caras da empresa têm de ter potencial para ser CEO da empresa”, disse Pontes. “E, por mais que você se ache o máximo, contrate alguém melhor e diferente de você. Time cheio de atacante vai levar um monte de gols e time cheio de goleiro não vai fazer gol”, afirmou.
Por último, afirmou que é preciso que todos olhem para as novas tecnologias. “O mundo está mudando muito rápido, qualquer que seja sua atividade. Se você pensar em China, Israel, Estados Unidos, essa turma tem usado inteligência artificial ao máximo, eu vi vários times das melhores empresas do mundo, das empresas nascentes, essa turma está com um nível de produtividade louco”, afirmou.
Pontes continuou afirmando sobre a importância de usar processos cada vez mais automatizados. “É o que nós temos de ter como obsessão, por exemplo, para a eficiência e ter as coisas sempre ao máximo automatizadas. Se dedicar a coisas que, efetivamente, vão fazer bom uso do nosso cérebro e não o trabalho repetitivo.”
Segundo uma fonte que conhece Pontes, ele é obstinado e muito detalhista. Quando a Stone chegou no mercado, ele identificou que um dos principais problemas do País era a rede de dados. Pontes liderou o processo de criar uma máquina que usasse a menor quantidade de dados. Anos depois e bilhões de dólares a mais, o resto é história. Uma história que pode se repetir na Europa.
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