A Nestlé comprou as operações do grupo CRM, dono das marcas de chocolate Kopenhagen e Brasil Cacau e da rede de cafeteria Kop Koffee, em um negócio que superou os R$ 4 bilhões, segundo apurou o NeoFeed.

Com a transação, o grupo Advent, que entrou no grupo CRM em 2020, quando comprou uma participação majoritária por valor não divulgado, está deixando o negócio, em uma saída rápida para um fundo de private equity. Por outro lado, Renata Vichi, sócia e CEO do grupo CRM, está se tornando acionista da Nestlé.

“Quando a Advent entrou no grupo CRM o plano era dobrar de tamanho em cinco anos. Fizemos isso em três anos”, diz Vichi, em entrevista ao NeoFeed. “Agora, queremos triplicar de tamanho até 2026.”

O grupo CRM, que deve fechar 2023 com uma receita de R$ 1,7 bilhão, vai se manter independente na estrutura da Nestlé e Vichi ficará no comando da unidade, que responderá a Marcelo Melchior, presidente da Nestlé Brasil.

“Vamos deixar o grupo CRM como uma unidade stand alone e quem vai tomar as decisões será a Renata. E, claro, vamos ajudá-la a acelerar e a capturar valor”, afirma Melchior, ao NeoFeed. "Não temos pressa e não vamos tomar nenhuma decisão unilateral."

O plano para triplicar de tamanho envolve abrir 2 mil franquias até 2026. Atualmente, a dona da Kopenhagen conta 1.110 lojas, por conta de um plano agressivo de aberturas - nos últimos três anos, foram 500 lojas inauguradas. Neste ano, o projeto é abrir mais de 200 franquias.

Mesmo com esse crescimento agressivo, o grupo CRM tem conseguido crescer organicamente. “Para se ter uma ideia, nas mesmas lojas, o resultado da Páscoa de 2023 é quase duas vezes maior do que 2019”, diz Wilson Rosa, sócio da Advent, que está deixando o negócio. “Foi investido em muita inovação. Antes de comprarmos, o canal digital nem existia.”

Mesmo com a presença internacional da Nestlé, que está presente em 191 países e é avaliada em US$ 312 bilhões, o grupo CRM não deve partir para um processo de internacionalização a partir dessa transação, que precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A visão de Vichi e Melchior é que há ainda muito espaço para ser ocupado no Brasil, antes de pensar em uma internacionalização. De acordo com a CEO do grupo CRM, a companhia já tem mapeadas as cidades em que pretende estar presente e que essa é a prioridade neste momento.

(Da esq. à dir) Wilson Rosa, da Advent; Renata Vichi; do grupo CRM; e Marcelo Melchior, da Nestlé
(Da esq. à dir) Wilson Rosa, da Advent; Renata Vichi; do grupo CRM; e Marcelo Melchior, da Nestlé

A compra do grupo que controla a Kopenhagen e produz os chocolates Língua de Gato, Nhá Benta, Lajotinha e Chumbinho acontece poucos meses após o Cade ter aprovado, com restrições, a compra da Garoto pela Nestlé, em um processo que levou 20 anos para passar pelos órgãos reguladores.

Em sua decisão para aprovar o negócio com a Garoto, o Cade ordenou que a Nestlé tem de informar, por um prazo de sete anos, qualquer aquisição de ativos que caracterize ato de concentração no mercado nacional de chocolates, abaixo do patamar de 5%.

Questionado sobre se há receio de que o negócio possa emperrar no Cade, Melchior disse que “está confiante de que tem um caso sólido.” “Agora, vamos apresentar o caso ao Cade e o processo vai seguir o seu rito.”

Ao mesmo tempo, a Nestlé está também apostando pesado em suas fábricas de chocolates e biscoitos. Em julho deste ano, por exemplo, anunciou que iria investir R$ 2,7 bilhões nessa área no Brasil até 2026, um valor quase três vezes superior ao do período de 2019 e 2022.

Do total de novos recursos, cerca de 50% serão destinados à modernização e ampliação de capacidade das linhas de produção. Outros 30% ficarão reservados à inovação e ao desenvolvimento de novos produtos e linhas. E 20%, às ações de meio ambiente, social e governança.

A venda do grupo CRM foi um negócio competitivo. A Cacau Show, do empresário Alexandre Costa, foi uma das empresas interessadas. A Lindt também olhou o ativo. O Goldman Sachs assessorou o grupo CRM e o UBS BB, a Nestlé.