Quando buscavam investimentos com boas perspectivas de crescimento, os grandes investidores globais tinham apenas os países emergentes para recorrer. Ao mesmo tempo em que poderiam entregar aumentos significativos dos aportes, essas economias também eram motivo de preocupação, seja por fatores geopolíticos ou por conta da falta de regras institucionais robustas.
Mas, de alguns anos para cá, esses investidores ganharam uma alternativa, segundo André Esteves, sócio sênior e presidente do conselho de administração do BTG Pactual. Trata-se das big techs americanas, que oferecem crescimento robusto a investidores e estão nos países em que estes gestores estão localizados, conferindo maior segurança jurídica. “Esse é o novo mercado emergente”, disse Esteves, nesta quinta-feira, dia 18 de agosto, em painel do Macro Day 2022.
Ainda que as companhias de tecnologia estejam localizadas principalmente nos Estados Unidos, onde as condições econômicas e institucionais são mais seguras e estáveis, elas não estão imunes a turbulências.
Esteves destacou as fortes quedas das ações dessas empresas nos últimos tempos, citando que o dinheiro que busca crescimento é mais vulnerável ao custo de capital mundial, traçando um paralelo entre o que essas empresas estão passando neste momento de juros altos e o que já ocorreu com emergentes.
“Esse capital, que nos anos 1990 ou 2000 buscava crescimento no mercado emergente, às vezes sem entender muito a dinâmica daquele mercado ou região, foi para esse outro mundo. E é nesse mundo que está tendo o efeito clássico de mercado emergente”, afirmou.
Segundo Esteves, todas as crises ocorridas em mercados emergentes a partir da década de 1980 seguiram a dinâmica que agora é vista no mercado tech. A oferta de dinheiro barato nas economias centrais fluía para os países da periferia da economia mundial, que por sua vez ficavam “bêbados” com os recursos. Quando a situação nos países desenvolvidos virava, o dinheiro saía dos emergentes, que acabavam com uma crise nas mãos.
“Dessa vez, o dinheiro não está aqui [Brasil], o dinheiro não está no México, o dinheiro não está na África do Sul, o dinheiro não está na Índia”, disse Esteves. “O dinheiro está nesses outros lugares [empresas de tecnologia], que na hora em que os juros subiram, começaram a ter uma correção mais violenta.”
O comentário de Esteves a respeito das big techs foi feito dentro de uma análise maior a respeito das perspectivas das economias emergentes. Segundo ele, os emergentes mudaram enquanto classe de ativos, com cada lugar apresentando características distintas. O Brasil, por exemplo, é cada vez menos um caso de crescimento e muito mais de retorno.
“Se olhar os ativos na Bolsa, estão todos muito baratos, os múltiplos estão baixos, os dividendos estão muito altos, as companhias estão performando”, afirmou. “Quem comprar e carregar as empresas brasileiras vai ter um bom retorno.”