Com as ações do setor de transportes em patamares historicamente baratos, depois de sofrerem com a alta dos juros em 2022, é natural que muitos investidores comecem a olhar o segmento em busca de oportunidades. Mas a julgar por um relatório do Bank of America (BofA) divulgado nesta segunda-feira, dia 9 de janeiro, o cenário ainda é incerto. 

Segundo o estudo produzido pelos analistas Rogério Araújo e Gabriel Frazão, mesmo com o múltiplo P/E (índice preço sobre o lucro, na sigla em inglês) do setor estando 19% abaixo da média histórica (38%, desconsiderando as ações da WEG), faltam notícias que possam servir de catalisador para fortes altas para a maioria dos papéis. E em meio a um cenário econômico adverso, o governo federal não está colaborando. 

“As primeiras declarações dos membros do novo governo federal foram, de maneira geral, negativas para os nomes listados de transportes e bens de capital, principalmente para a Rumo em termos de competição (o projeto da ferrovia Ferrogrão), novas regras para leilões de estradas (que podem trazer novos nomes para os certames) e a potencial regulação de leis trabalhistas para aplicativos como Uber (potencialmente prejudicando o volume de aluguel de carros para motoristas)”, diz um trecho do relatório. 

Em meio a circunstâncias pouco inspiradoras, os analistas do BofA veem apenas uma empresa que, diante das circunstâncias, possui uma boa relação entre risco e retorno. É a Vamos, por estar na vanguarda no mercado de aluguel de caminhões, cuja demanda deve aquecer diante das vantagens de terceirizar frota, e o desempenho operacional que vem obtendo. A recomendação é de compra e o preço-alvo é de R$ 19, um potencial de alta de 63%.

“Embora o IPO da Vamos seja recente, de janeiro de 2021, a companhia entregou um dos melhores retornos aos seus acionistas até o momento (uma taxa anualizada de cerca de 29%), tendo feito follow ons entre setembro de 2021 e setembro de 2022 para acelerar o crescimento, enquanto a demanda permanece robusta”, ressalta outro trecho do relatório. 

Com relação aos outros nomes com recomendação de compra, os analistas do BofA destacaram aspectos operacionais e de valuation, mas a situação macroeconômica e riscos regulatórios tiram um pouco o ânimo com os papéis. 

Quem está nesse grupo é a Localiza. Para eles, por conta da vantagem competitiva no mercado de locação de veículos, a empresa pode continuar entregando forte crescimento nos próximos trimestres e anos. Além disso, ela possui um valuation atrativo, de 15 vezes o P/E, contra a média histórica de 19 vezes. O preço-alvo das ações é de R$ 80, potencial de alta de 56%. 

Eles destacam apenas que a elevada exposição ao mercado de motoristas de aplicativos pode resultar em questões de demanda mais para frente, caso o governo apresente regulações trabalhistas muito restritivas para o segmento. 

Outros nomes com recomendação de compra no relatório são a Rumo, cujos resultados melhoraram a partir do terceiro trimestre, após ganhos com tarifas e avanços em aspectos operacionais. O ponto negativo é o risco regulatório. O preço-alvo para as ações é de R$ 24, potencial de alta de 36%. 

Na Ecorodovias, os analistas veem valuations baixos demais para serem ignorados, mas afirmam que a alavancagem deve permanecer elevada até 2029, prejudicando a possibilidade de competição por novas concessões, fora a concorrência, que pode aumentar. O preço-alvo é de R$ 8,60, potencial de alta de 102%. 

Entre os nomes com recomendação neutra, os analistas do BofA destacaram a WEG, estabelecendo um preço-alvo de R$ 42, um potencial de valorização de 12%. Para eles, a empresa continua com boas perspectivas, embora algumas divisões devem sentir uma queda da demanda no curto prazo, pesando sobre o desempenho das ações. 

Fora isso, o P/E dela está em 31 vezes, acima da média histórica de 25 vezes, enquanto a perspectiva é de desaceleração do crescimento da receita – os analistas esperam alta de 10% em 2023, abaixo da média de 29% dos últimos três anos. 

A Movida também possui recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 11,30, potencial de alta de 51%. As ações são consideradas de alto risco e de alto retorno pelos analistas, sendo uma boa opção num bull market. A preocupação está com os efeitos de ter renovado a frota com carros mais caros, em meio à falta de indícios de que os preços permanecerão elevados por mais tempo, como ocorreu na pandemia. 

Quem está com recomendação de venda são as companhias aéreas, com as ações da Azul com preço-alvo de R$ 10,20, potencial de queda de 10,20, e os papéis da Gol, com preço-alvo de R$ 5,30, potencial de baixa de 28%.

Mesmo com indícios de recuperação da lucratividade, os analistas do BofA afirmaram que as empresas poderão ser prejudicadas por excesso de oferta e uma desvalorização do real, pesando sobre seus custos e despesas.