A tentativa de mudança no comando da Vivara no começo desse ano segue pesando sobre a companhia. Mesmo com a companhia apresentando um desempenho considerado robusto, num momento turbulento para o varejo em geral, a XP Investimentos entende que o caso acabou ofuscando o “brilho” da joalheria.

Por conta disso, os analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer decidiram incorporar um desconto de governança de 20% sobre a avaliação da companhia, o que resultou na redução do preço-alvo de R$ 44 para R$ 27.

“A Vivara continua sendo um negócio resiliente e rentável, com forte posicionamento de marca, embora as recentes mudanças de gestão tenham aumentado nossa percepção de risco em relação à tese, adicionando preocupações ao desempenho de médio prazo”, diz trecho do relatório.

O breve retorno de Nelson Kaufman ao comando da Vivara, após uma ausência de 13 anos, derrubou as ações da companhia em março, resultando numa perda de quase R$ 1,5 bilhão em valor de mercado. A reação foi provocada pelos planos dele de querer alterar os rumos da empresa, mesmo que o desempenho até então vinha sendo elogiado por analistas e investidores.

Para os analistas da XP, o episódio acabou trazendo à tona a questão da governança e como ela tem influenciado os rumos da Vivara. Além da mudança no cargo de CEO, fazendo com que o CFO Otavio Lyra tivesse que assumir o comando, a empresa viu duas conselheiras independentes renunciarem, assim como a CMO Marina Kaufman.

“Além disso, a grande rotatividade de vários gerentes em áreas chave como design, expansão, e-commerce, fornecimento e desenvolvimento de produtos aumenta ainda mais as incertezas e adiciona risco à execução”, diz trecho do relatório.

O tema acabou tirando um pouco do brilho da tese da Vivara, ainda que os analistas considerem a empresa um “diamante”, com bons fundamentos de curto prazo e valuation atrativo, com o P/E para 2025 de 9,0 vezes.

“Acreditamos que os fundamentos de curto prazo da empresa permanecem, à medida que as tendências de expansão e receita de ambas as marcas permanecem no caminho certo”, diz trecho do relatório. “Enquanto isso, o crescimento da receita, a normalização das deduções de vendas brutas, os recentes aumentos de preços e a internalização da produção da Life devem apoiar a expansão da margem nos próximos trimestres.”

Os analistas da XP esperam que a Vivara apresente resultados “mistos” no segundo trimestre, com um nível robusto de receita, mas margens pressionadas por mudanças ocorridas no ICMS.

A receita líquida registrada no período de abril a junho deve totalizar R$ 641 milhões, um aumento de 14,4% em relação ao mesmo intervalo de 2023. Já o lucro líquido deve recuar 1,3%, para R$ 109 milhões, com a margem Ebitda ajustada caindo 0,5 ponto percentual, para 23,2%, e a margem bruta estável, em 69,7%. O Ebitda ajustado, por sua vez, deve subir 12,1%, para R$ 148 milhões.

Por volta das 13h38, as ações da Vivara subiam 2,96%, a R$ 22,27. No ano, elas acumulam queda de 36,8%, levando o valor de mercado a R$ 5,1 bilhões.