Companhia de data centers criada pelo Pátria Investimentos em 2015, a Odata ganhou terreno na América Latina ao desembarcar nos mercados do Chile, da Colômbia e do México. Agora, esse mapa consolidado pela empresa será a porta de entrada de uma gigante do setor na região.
A americana Aligned Data Centers anuncia oficialmente nesta terça-feira, 13 de dezembro, a aquisição da companhia brasileira. Com previsão de conclusão no início de 2023, a transação envolve 100% do capital da Odata e marca a saída do Pátria da operação.
Financiado com o apoio de recursos estruturados pelo SDC Capital Partners e pelos bancos Sumitomo Mitsui Banking Corporation, Deutsche Bank, Nomura e MUFG, o acordo não teve seu valor revelado. Na semana passada, a agência Bloomberg informou que a aquisição estava avaliada em US$ 1,8 bilhão.
“Ainda estamos nos estágios iniciais da adoção da nuvem na América Latina, talvez, três, quatro anos atrasados em relação ao resto do mundo”, diz Ricardo Alário, CEO da Odata, ao NeoFeed. “E, além de know-how, a Aligned nos dá acesso a muitos clientes que, eventualmente, ainda nem estão na região.”
CEO da Aligned Data Centers, Andrew Schaap ressalta que o segmento de data centers está em franca aceleração na esteira de motores diversos, que vão das aplicações de big data aos projetos de veículos autônomos.
“Vimos isso acontecer primeiro nos Estados Unidos, depois, de forma muito agressiva, na Europa e na Ásia”, afirmou. “E vemos que a América Latina está seguindo exatamente essa mesma tendência. Isso vai exigir mais capital e investimento, e mal podemos esperar para levar a Odata a esse próximo nível.”
A busca do Pátria por novos sócios para a Odata teve início, oficialmente, em abril deste ano, com a contratação da DH Capital e a Evercore como advisors financeiros dessa operação. E chegou ao fim no sábado, 10 de dezembro, quando o acordo com a Aligned foi selado.
“Essa é a conclusão de um ciclo muito bem-sucedido para o Pátria”, diz Felipe Pinto, sócio da gestora. “Vamos seguir investindo neste espaço. Há muitas oportunidades em infraestrutura e não apenas em data centers, mas também relacionados ao 5G, à conectividade e à digitalização dos negócios.”
Nova controladora da companhia brasileira, a Aligned tem sede em Dallas e foi fundada em 2013. A empresa tem como um de seus principais investidores a Macquarie Asset Management, especializada em infraestrutura digital, e sua operação soma 16 data centers nos Estados Unidos.
A aquisição da Odata é o primeiro passo da Aligned fora do mercado americano. Com a transação, a companhia adiciona ao seu mapa de operações oito data centers na América Latina, entre projetos em operação e em construção ou expansão.
Para construir essa base, entre outros recursos, a Odata levantou cerca de US$ 95 milhões em três empréstimos com a International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial. Essas operações também contaram com a participação do banco Sumitomo Mitsui Banking Corporation.
“Há três anos, tínhamos uma capacidade de 20 megawatts. Estamos fechando 2022 com cerca de 100 megawatts”, diz Alário. “Temos uma base de 14 sites no radar e podemos crescer quase três vezes e meia o tamanho que temos atualmente.”
Essa projeção, em boa medida, está apoiada na demanda de grandes provedores de serviços de nuvem, que contratam estruturas inteiras da Odata e de outros players para viabilizarem suas ofertas e operações.
Embora não revele nomes, por força de contratos que exigem sigilo - e o volume de clientes na carteira da Odata, Alário diz que a empresa atende sete das dez maiores companhias desse mercado, um segmento que inclui gigantes como AWS, Google e Microsoft.
Ele ressalta que os próximos passos da Odata, sejam eles novos projetos ou a expansão dos data centers já em operação, serão orientados pelas necessidades desses clientes. A entrada da Aligned como controladora vai ajudar a acelerar esses planos.
“Gastamos bastante tempo trabalhando com esses clientes para antecipar suas demandas”, afirma Schaap, da Aligned. “E posso ver, facilmente, um caminho para investir US$ 1 bilhão nos próximos anos para apoiar as perspectivas de crescimento da Odata.”
Outros fatores embalam o aumento da procura desses players e de outras empresas por data centers na região. Um desses elementos é a explosão no consumo de dados, na trilha de aplicativos e serviços digitais, uma tendência que ganhou ainda mais velocidade na pandemia.
Com a instalação de data centers locais, é possível reduzir a latência (o tempo de resposta) dessas aplicações. Outro aspecto que alimenta esses projetos é a agenda regulatória de proteção de dados, expressa em casos como a LGPD, no Brasil, que exige o armazenamento de dados no País.
Diante desse cenário, um relatório da consultoria Arizton Advisory & Intelligence projeta que o mercado de data centers vai registrar um crescimento anual composto de 7,6% até 2026 e movimentará, ao fim desse período, US$ 7,8 bilhões.
Esse mercado aquecido já atraiu o interesse de outros grupos estrangeiros. Quem inaugurou esse roteiro foi a Ascenty, empresa brasileira que foi comprada pela americana Digital Realty em 2018, por US$ 1,8 bilhão. Hoje, a companhia tem 33 data centers na América Latina.
Em outro acordo nessa direção, em 2020, o UOL vendeu a UOL Diveo, sua divisão de data centers, para o fundo americano Digital Colony. A operação deu origem à Scala, que tem cinco centros e planeja mais 28 estruturas até 2027 na região, com um investimento que pode chegar a US$ 3,5 bilhões.
Com data centers distribuídos no Brasil, Chile, Peru, Colômbia e México, quem também está ampliando sua estrutura na região é a americana Equinix. Em março desse ano, a empresa comprou quatro centros da chilena Entel no Chile e no Peru, em um acordo de US$ 705 milhões.