Menos de quarenta e oito horas depois de anunciar sua saída do comando da Eneva, empresa que liderou por quase seis anos, Pedro Zinner já tem uma nova casa. A Stone anunciou no fim da tarde desta quinta-feira, 3 de novembro, que o executivo vai assumir como CEO da sua operação.
Ele irá substituir Thiago Piau, sócio da empresa que estava no cargo há cinco anos, e passará a integrar o conselho de administração da companhia brasileira. Zinner, por sua vez, fará o caminho inverso, dado que ocupava um assento no board Stone desde março deste ano.
“Acredito que o Pedro é a pessoa certa para guiar a Stone em sua próxima fase e estou animado para trabalhar com ele e apoiá-lo nesse processo de transição da melhor maneira possível”, afirmou, em nota, Piau. A passagem de bastão está programada para ser concretizada em 31 de março de 2023.
No comunicado, a Stone destacou que, sob a gestão de Piau, a empresa ampliou sua receita anual em mais de 12 vezes, para R$ 9,2 bilhões no segundo trimestre de 2022, além de ampliar sua base de 103 mil para mais de 2 milhões de clientes.
Ao mesmo tempo, a companhia ressaltou alguns números de Zinner à frente da Eneva. Entre eles, o aumento da capacidade instalada em mais de 186% e do retorno sobre o patrimônio líquido de 1,5% para 17,3%.
“Estou ansioso para trabalhar em estreita colaboração com o Thiago, o Conselho e a alta administração para liderar a organização em sua próxima fase de crescimento e lucratividade”, disse Zinner, no comunicado sobre o anúncio.
Discursos e feitos à parte, o fato é que Zinner terá desafios pela frente. O principal deles, conseguir consolidar a recuperação da empresa que, desde agosto de 2020, enfrenta uma série questões que vem afetando a confiança dos investidores na operação.
O estopim para esse cenário veio em agosto de 2020, quando a companhia anunciou problemas em seu negócio de crédito, que chegou a ser interrompida. Essa linha acabou por gerar perdas de quase R$ 400 milhões, que foram refletidas em seu balanço do segundo trimestre de 2021.
Em um dos capítulos dessa história, Piau chegou a confessar três erros da Stone na concessão de crédito, durante uma reunião com analistas do Goldman Sachs, realizada em setembro de 2020. O primeiro deles foi a prática de dar adiantamentos em dinheiro de um a dois meses para clientes com garantia fraca.
O segundo, escalar a operação de crédito em um ritmo muito acelerado durante a implementação de um novo sistema de recebíveis. E o terceiro equívoco confessado foi não renegociar com clientes que solicitaram a migração para outras adquirentes.
A saga da Stone teve sequência com as correções que afetaram boa parte das empresas de tecnologia e com os impactos do cenário macroeconômico. Essas questões mais macro foram intercaladas com ajustes em sua governança, que, ao contrário do efeito esperado, geraram mais questionamentos do que um alento à operação.
Em agosto desse ano, a divulgação do balanço referente ao segundo trimestre só reforçou as dúvidas que já pairavam sobre a empresa. Apesar de alguns números considerados positivos, como o TPV de R$ 90,7 bilhões, alta anual de 50,3%, o mercado não recebeu bem indicadores como as maiores despesas financeiras e as projeções em linhas como lucro líquido ajustado e volume de transações processadas.
Como resultado, as ações da companhia desabaram 22,3% e fecharam o dia na Nasdaq cotadas a US$ 9,06. Nesta quinta-feira, os papéis encerraram as negociações na bolsa americana com alta de 14,78%, a US$ 12,04. No after market, as ações caíam 0,42% por volta das 17h30 (horário local).
Entretanto, a alta observada no pregão de hoje está longe de minimizar o desempenho das ações, especialmente quando se leva em conta o histórico das cotações e do valor de mercado. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 28,5%. Nos últimos 12 meses, o recuo é de mais de 60%.
O valor de mercado atual da empresa, de US$ 3,7 bilhões, também está distante de seu pico, em fevereiro de 2021, quando as ações eram negociadas a mais de US$ 85 e a companhia chegou a ser avaliada em quase US$ 30 bilhões.