Se as expectativas para os balanços do primeiro trimestre são de contração da última linha das demonstrações financeiras diante da piora das condições do País, a perspectiva de que a situação econômica comece a melhorar neste ano trouxe um viés mais positivo para as projeções de desempenho em 2024 e 2025.
É o que mostra um relatório divulgado nesta segunda-feira, 24 de abril, pela XP Investimentos. Enquanto o mercado espera uma queda de 6,5% do lucro por ação das empresas do Ibovespa nos primeiros três meses do ano, comparado com o mesmo período de 2022, as projeções para os próximos 12 meses cresceram 3,3%.
Já para 2024 e 2025, as projeções aumentaram entre 7% e 12%, respectivamente, segundo o relatório assinado por Fernando Ferreira, estrategista chefe e head do research da XP, e sua equipe.
“As projeções do lucro por ação para os próximos 12 meses, 2024 e 2025 foram revisadas para cima durante o trimestre, o que pode ser explicado por dados econômicos melhores do que o esperado desde o início do ano, mostrando que a economia global continua em uma posição relativamente sólida”, diz um trecho do relatório.
O otimismo com relação ao que vem por aí contrasta com o pessimismo em relação ao primeiro trimestre de 2023. Por conta do cenário macroeconômico local ainda desafiador, as duras condições externas e a política monetária restritiva do Banco Central (BC), o relatório aponta para uma projeção de queda de 10,6% do Ebitda consolidado das companhias do Ibovespa.
Para a receita, a expectativa é de um crescimento de 6,8%, mas o relatório destaca que esse avanço representa uma desaceleração em relação aos trimestres anteriores. No quarto trimestre, a alta foi de 18,6%, e, no terceiro trimestre, de 22,9%.
“Durante esta próxima temporada de resultados, os investidores ainda estarão atentos aos impactos dos níveis ainda elevados de inflação, uma política monetária restritiva e o efeito da deterioração das condições de crédito”, ressalta outro trecho do relatório.
“Para exportadores de commodities, preços mais baixos em média durante o primeiro trimestre trimestre em comparação com o anterior poderiam ter um impacto negativo, bem como um real mais forte do que o dólar.”
Entre os setores que devem se destacar positivamente está o de bens de capital, segundo a XP. Dentro desse grupo, a fabricante de implementos rodoviários Randon deve ser a surpresa, com resultados “mais resilientes do que o esperado, apesar de um mercado desfavorável”.
A empresa deve se beneficiar dos impactos mais suaves do que o esperado do Euro 6, conjunto de normas que regulamentam a emissão de poluentes para motores a diesel, no primeiro trimestre, crescimento do volume externo e o bom desempenho da subsidiária Fras-le.
Outro setor que gera boas expectativas é o de shopping centers, que deve continuar vendo uma tendência positiva de vendas após sofrer na pandemia. “Além disso, esperamos que as empresas mantenham a eficiência nas transferências de aluguel no primeiro trimestre, impulsionando o crescimento do aluguel nas mesmas lojas (SSR) acima da inflação, mas a um ritmo mais moderado em comparação com 2022”, pontua a XP.
Um setor bastante em xeque nesse começo de ano, diante da situação precária de vários nomes, o varejo deve apresentar resultados mistos. Nomes de alta renda como Soma e Arezzo&Co devem manter sua sólida tendência de crescimento, embora desacelerando sequencialmente.
Os varejistas de vestuário de renda média devem ser impactados pelo contexto macroeconômico, associado a um clima quente persistente ao longo de todo o trimestre.
No caso de varejo alimentar e farmácias, as projeções apontam que as vendas “mesmas lojas” (métrica que considera as vendas em unidades em funcionamento há mais de 12 meses) permanecerão acima da inflação, apesar da base comparativa difícil para farmácias.
As empresas com forte presença no e-commerce devem continuar a ser prejudicadas pela renda disponível mais apertada, mas mantendo a trajetória de recuperação da rentabilidade, após o evento Americanas.