A Petz decidiu colocar de pé neste ano um novo serviço voltado para a saúde dos animais. A companhia está em fase final de ajustes do seu próprio plano de saúde. A expectativa é de que uma versão piloto do serviço seja lançada no quarto trimestre.
“Teremos um plano que não será mais um entre tantos que estão sendo lançados”, afirma Sergio Zimerman, fundador e CEO da Petz, ao NeoFeed.
Ele diz que o foco será na prevenção e não apenas na emergência. “Temos uma grande vantagem que é a rede própria”, afirma Zimerman, referindo-se a Seres, frente de clínicas veterinárias composta por 126 unidades, sendo 15 hospitais.
A Petz, no entanto, enfrentará uma briga de cachorro grande com sua principal rival, a Petlove. A concorrente já conta com seu próprio plano de saúde com a incorporação dos serviços da startup Nofaro e da Porto. “Vamos sair atrasados, mas vamos conquistar”, diz o CEO da Petz.
Ao contrário da sua rival, contudo, a Petz não pretende realizar uma aquisição neste ano para colocar a nova frente de pé. A estratégia de M&As, inclusive, está em stand-by até o ano que vem. Por ora, a ordem é seguir com o trabalho de integração com as empresas que foram adquiridas nos últimos anos.
A principal delas foi a Zee.Dog. Em agosto de 2021, a Petz anunciou ao mercado que estava adquirindo a operação da marca de produtos premium como coleiras, peitorais, guias, entre outros. Para isso, topou desembolsar R$ 715 milhões.
“A Zee.Dog ainda não entrega o esperado, mas a gente acredita que 2024 vai ser o ano em que isso vai começar a acontecer”, diz Zimerman. De acordo com o empresário, a captação dos resultados com a aquisição foi “muito mais lenta” do que a esperada.
A explicação envolve o cenário macroeconômico e aspectos do próprio negócio. Segundo Zimerman, foi preciso fazer uma virada de chave "para que a marca passasse a pensar em rentabilidade e não apenas em crescimento". Outro fator de atraso foi que a companhia subestimou o tempo para fazer a integração da Zee.Dog.
Uma questão de caixa
O motivo da cautela da Petz tem a ver com os números. Nos primeiros seis meses deste ano, a Petz estabeleceu um plano de contingência. A atenção dos executivos estava concentrada nas finanças da companhia.
Os esforços se voltaram à busca para aumentar a geração de caixa operacional, que foi de R$ 34,5 milhões no primeiro trimestre. Embora a empresa tenha conseguido reverter a geração negativa de caixa de R$ 63,9 milhões no mesmo período do ano anterior, houve uma redução frente aos R$ 76 milhões do quarto trimestre de 2022.
“Topamos abrir mão do crescimento em favor da rentabilidade”, diz Zimerman. “Seria um erro estratégico seguir neste caminho. Estaríamos protegendo meio ano a mais de resultados para pagar um preço no médio e longo prazo.”
Para reforçar o caixa, a Petz fez uma emissão de dívida no fim de março e levantou R$ 200 milhões, pagando CDI + 0,97% ao ano, por um prazo de cinco anos. Segundo Zimerman, o principal resultado deste trabalho foi a gestão do fluxo de caixa.
Em seu próximo balanço, segundo apurou o NeoFeed, a empresa deve registrar cerca de R$ 500 milhões em caixa e equivalentes.
O aumento de caixa já havia sido mostrado no último balanço. No primeiro trimestre, a Petz quase dobrou a cifra, de R$ 172,9 milhões para R$ 326 milhões. “Tínhamos uma percepção que o consumo de caixa precisava estar em níveis mais adequados”, diz o CEO. A dívida líquida, por sua vez, caiu de R$ 327,6 milhões para R$ 42,7 milhões no período de 12 meses encerrado em março.
A Petz também começou 2023 desacelerando os investimentos, que diminuíram 5,2%, na comparação anual, para R$ 61,4 milhões. Foram feitas apenas três novas inaugurações, ante 10 no primeiro trimestre do ano passado. Sobrou até para a reforma e manutenção das lojas existentes, com queda de 10,9%.
Competição ficou mais "feroz"
Ao reduzir o investimento em crescimento, a companhia abriu espaço para que concorrentes ganhassem mercado. Durante algum tempo, a Petz reinou quase absoluta no mercado de animais de estimação, principalmente pelo dinheiro captado com investidores privados e com a abertura de capital.
Agora, a companhia se vê envolvida em uma briga de cachorros grandes (e endinheirados) e que contempla não apenas rivais diretos como Cobasi e Petlove, mas também varejistas como Amazon, Magazine Luiza e Mercado Livre.
Em relatório divulgado na quarta-feira, 2 de agosto, o BTG Pactual destacou a forte competição nos preços de produtos do setor impulsionada pelos marketplaces. A conclusão é que este movimento pode resultar “em uma pressão adicional de margem” ou, pelo menos, “em um menor espaço para a expansão das margens”, informa o documento.
Essa maior concorrência teve impacto o valor de mercado da Petz. Mesmo com a alta de mais de 21% no valor de suas ações desde o começo do ano, a varejista, que já chegou a ser avaliada em mais de R$ 10 bilhões, vale, agora, cerca de R$ 3,3 bilhões na B3.
O valor é mais baixo, inclusive, do que o obtido de forma privada pela rival Petlove. Em setembro do ano passado, quando anunciou a captação de um investimento junto a Globo Ventures em uma extensão da rodada de série C, a concorrente da Petz foi avaliada em R$ 3,5 bilhões.
O investimento nas lojas
Depois de um semestre acuada, a ordem dentro da Petz é voltar a crescer. Segundo Zimerman, a companhia vai adotar “políticas comerciais que neutralizam as condições dos competidores e que, preferencialmente, criam valores para o consumidor”.
Para driblar esse obstáculo, a Petz aposta em uma reestruturação de sua operação. A começar pelo parque de lojas. A companhia tem 220 unidades e que representaram uma fatia de R$ 500 milhões da receita bruta de R$ 912,8 milhões no primeiro trimestre de 2023.
O plano de expansão segue o de abrir entre 30 e 40 lojas por ano. O capex, contudo, foi reduzido em aproximadamente 20%. Cada unidade, que demandava cerca de R$ 6 milhões, sairá com um investimento entre R$ 4,5 milhões e R$ 5 milhões.
Ainda que as lojas físicas da Petz representem a maior parte da receita da companhia, o crescimento da renda obtida com essa frente é mais baixo do que no digital. No primeiro trimestre, o faturamento com as lojas físicas aumentou 13,5% ante o mesmo período do ano passado. Nas vendas online, alta de 36,7% no mesmo período para uma receita bruta de R$ 300,6 milhões.
O balanço do segundo trimestre da Petz será divulgado na quinta-feira, 10 de agosto. A projeção do Itaú BBA é de uma margem bruta de 39,5%, uma redução de 1,4 ponto percentual (pp) sobre o mesmo período de 2022 e de 0,3 pp sobre o primeiro trimestre.
A expectativa é de uma margem Ebitda de 8,3%, uma redução de 0,9 pp na comparação anual e de 0,1 pp sobre o trimestre anterior.
A ação da Petz está sendo negociada a R$ 6,85 e o Itaú BBA tem preço-alvo de R$ 9, uma valorização de superior a 30%.