Depois de registrar o primeiro lucro anual de sua história em 2023, consolidando um caminho que vinha sendo construído desde 2022, o PicPay voltou a tingir a última linha do seu balanço de azul. Mas, agora, com cores muito mais fortes.

A fintech do grupo J&F apurou um lucro líquido de R$ 55 milhões entre abril e junho de 2024, o que representou uma alta de 2.650% sobre igual período do ano passado e o sétimo trimestre consecutivo com o indicador no positivo.

Já no número consolidado do primeiro semestre, o lucro líquido foi de R$ 61,8 milhões, um montante mais de 24 vezes superior aos R$ 2,5 milhões registrados na primeira metade de 2023. E já acima dos R$ 37 milhões que a companhia contabilizou em todo o ano passado.

“Nos últimos dois anos, nós lançamos praticamente um produto por mês”, afirma Eduardo Chedid, CEO do PicPay, ao NeoFeed, sobre a tese de diversificação do portfólio que começou a ser colocada em execução pela empresa em 2022, para ir além da sua origem em pagamentos e carteira digital.

Ele diz que essa prateleira recente, “mais cheia”, está amadurecendo e ganhando peso no balanço. E observa. “Vamos seguir com os lançamentos. Mas nosso maior foco e energia será investir em cross-sell e fazer esses produtos decolarem de fato.”

Outros indicadores sustentam a confiança da fintech para seguir nessa direção. A começar por um número que, pela primeira vez, integra o balanço da empresa: o retorno sobre patrimônio (ROE), que, em patamar anualizado, foi para 17,6%, contra 0,7%, há um ano.

A receita líquida, por sua vez, cresceu 50%, no trimestre, para R$ 1,4 bilhão, e 50,2%, no semestre, para R$ 2,37 bilhões. E, sob a ótica de avanço na diversificação, a participação da área de carteira digital e de banking nessa linha, que era de 80% há um ano, agora ficou em 56%, contra 37% de serviços financeiros.

Já a receita média por usuário teve um salto trimestral de 39%, para R$ 34,60. Enquanto a base de clientes ativos avançou 10% em um ano, para 36 milhões de usuários, responsáveis por um cash-in – o depósito feito por esses clientes no ecossistema da fintech – de R$ 92,5 bilhões no período, alta de 79%.

“Esses dois números traduzem que os clientes estão colocando cada vez mais suas vidas financeiras e seu dinheiro aqui”, observa Chedid. “O que dialoga muito com a questão da principalidade, que todo mundo está perseguindo no setor.”

A partir dessa base de usuários e das conexões entre os negócios tradicionais e as ofertas mais recentes, uma das principais áreas em que o PicPay planeja avançar é de crédito, seja ele ofertado por parceiros, por meio do seu marketplace, ou com funding próprio, o que começou a ser feito em outubro de 2023.

A empresa fechou o período com uma carteira de crédito de R$ 5,98 bilhões, uma expansão de 62%. Desse total, 42% se referem à base de cartões de crédito, com o PicPay Card, e os 58% restantes aos empréstimos.

Nessa última ponta, a empresa originou um total de R$ 1,5 bilhão no trimestre e de R$ 2,7 bilhões no semestre, altas, respectivamente, de 256% e de 230%. Sendo que, levando-se em conta a primeira metade do ano, 68% dos créditos foram colateralizados, contra um índice de 80% um ano antes.

“Desde que começamos a escalar ainda mais os produtos de crédito, no quarto trimestre de 2023, tivemos um crescimento de mais de R$ 7 na receita média por usuário ativo”, diz André Cazotto, diretor de RI, M&A e estratégia do PicPay. “

Eduardo Chedid (à esq.), CEO, e André Cazotto, diretor de RI, M&A e estratégia do PicPay

Ele recorre a outros dados para justificar o foco crescente nessa vertente. Entre eles, uma margem financeira líquida de R$ 580 milhões no trimestre, alta de 135% ano contra ano; um custo de servir o cliente estável, na casa de R$ 15, e uma inadimplência de 15 a 90 dias de 3,94%.

“Estamos conseguindo escalar nossa operação de crédito muito apoiados no crescimento do portfólio”, diz Cazotto. “E quanto mais informação coletamos do nosso cliente na carteira digital, mais apetite pra risco nós temos.”

Entre as novidades desse portfólio, após um período de testes, o PicPay começou a escalar nos últimos quatro meses a modalidade de Buy Now Pay Later (BNPL). E um dos racionais por trás desse movimento é usar esse formato para iniciar o relacionamento com um cliente recente da carteira digital do PicPay .

“Eu começo com um microlimite, para uma recarga de celular, por exemplo, e vou ampliando progressivamente esses valores”, diz Chedid. “É uma espécie de incubadora em que eu vou analisando a performance do cliente e, se tudo corre bem, posso começar a ofertar outros produtos de crédito.”

Já no que diz respeito aos clientes pessoa jurídica, um segmento em que o grande foco da fintech está em empresas com faturamento mensal entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, uma das modalidades de crédito que já está no centro de um projeto-piloto é um produto de capital de giro.

“Estamos testando há cerca de quatro meses, de maneira controlada e com uma base pequena de usuários”, diz Chedid. Ele não revela, porém, quando a companhia planeja começar a escalar essa oferta.

Outras frentes recentes voltadas aos clientes PJ já estão, porém, contribuindo para o resultado. É o caso das máquinas de pagamento, que reforçaram o portfólio de adquirência da empresa em abril desse ano, uma área cujo volume total de pagamentos (TPV) foi de R$ 17,4 bilhões no semestre, alta de 35%.

Essa cifra considera, além das maquininhas, as transações via QR Code, Pix e carteira digital. Já o TPV de toda a operação do PicPay R$ 189 bilhões no semestre, o que representou um crescimento de 66% sobre o mesmo período de 2023.