Anunciada em maio de 2024, a Atlântica D’Or, joint venture entre a Rede D’Or e Bradesco Seguros, nasceu com três hospitais (São Luiz Guarulhos e São Luiz Alphaville, em São Paulo, e Macaé D’Or, no Rio de Janeiro), com um plano inicial de investimentos de R$ 1,15 bilhão para financiar a construção das unidades, que foram inauguradas no fim de 2024.
Ao longo deste ano, três novos hospitais foram incorporados à joint venture. E há planos de inaugurar duas novas unidades. Por trás dessa expansão acelerada, está um dado que tem surpreendido os sócios do negócio – a Rede D’Or tem uma fatia de 50,01%, e a Atlântica Hospitais, que pertence ao Bradesco Seguros, conta com 49,99%.
“De uma forma geral, o breakeven de um hospital demora mais de um ano. Na Rede D’Or, alcançamos em seis meses. Nos três hospitais inaugurados dentro do guarda-chuva da Atlântica D’Or, conseguimos em menos de dois meses”, diz Paulo Moll, CEO da Rede D’Or, em entrevista ao NeoFeed, durante o Zoox Data Revolution, evento de tecnologia e empreendedorismo, realizado na semana passada, em São Paulo.
A razão para o resultado rápido, segundo Moll, tem relação direta com a carência de leitos de referência de qualidade nas regiões em que os hospitais da empresa foram construídos, além da inclusão, desde o início, de credenciamento de Bradesco Seguros e SulAmérica, operadora comprada em 2022 pela Rede D’Or.
Por esse motivo, a Atlântica D’Or tem crescido de forma acelerada. Em março deste ano, incorporou o Hospital São Luiz Campinas. Em setembro, passou a fazer parte do portfólio o hospital carioca Glória D’Or. Como reembolso ao montante proporcional, a Atlântica Hospitais pagou à Rede D’Or R$ 440,8 milhões pela unidade carioca.
No início de novembro, a Rede D’Or anunciou a inclusão na joint venture da Maternidade São Luiz Star, que fica na capital paulista. Neste caso, a Atlântica pagará R$ 223 milhões. O imóvel onde está o hospital segue sendo do grupo comandado pela família Moll.
Além dos atuais seis hospitais (os três construídos e os últimos três incorporados já em operação), a Atlântica D’Or deve inaugurar, até o fim de 2026, unidades médicas em Ribeirão Preto e Taubaté, ambas em São Paulo.
Somente em Ribeirão Preto, os investimentos para a construção chegam a R$ 250 milhões. A unidade será erguida em uma área anexa ao complexo RibeirãoShopping. Os dois terão a marca São Luiz.
“Normalmente, um hospital demora algum tempo até chegar ao breakeven operacional. Em histórias de greenfield [construção do zero], há uma necessidade de suportar o capital de giro e o prejuízo do início da operação”, diz Paulo Moll.
Relatório recente do BTG Pactual mostra que os hospitais em operação da Atlântica D’Or já alteraram a dinâmica do mercado de saúde local. Em Macaé, Bradesco e SulAmérica cresceram de 27,5% de market share de novembro de 2024, para 31,9%, em julho deste ano.
Em Campinas, a Unimed local passou a perder participação a partir da entrada do hospital para a joint venture, enquanto as duas seguradoras das donas da Atlântica D’Or passaram de 10,6% para 11,1% desde abril deste ano.
Guarulhos e Alphaville (Santana de Parnaíba) também registraram movimentos semelhantes de crescimento. No total, nessas quatro cidades, segundo os analistas do BTG, a participação combinada subiu de 15,4% para 16,6% em pouco mais de um ano.
Ainda que não confirme as localidades, o CEO da Rede D’Or afirma que há planos de expansão para a construção de hospitais em outras cidades, para integrar a base da Atlântica D’Or. “Há novos projetos que estamos analisando.”
Na avaliação dos analistas do BTG, a tendência é que esse crescimento ocorra justamente nos estados em que a companhia já está presente. Segundo os especialistas, Bradesco e SulAmérica concentram 48% de suas carteiras em São Paulo e 18% no Rio de Janeiro.
“As oportunidades de expansão parecem mais evidentes em São Paulo e Rio de Janeiro. Embora possuam as redes de saúde mais desenvolvidas do Brasil, ambos os estados estão entre os maiores em beneficiários por leito privado, indicando oferta insuficiente comparada ao tamanho das populações seguradas”, escreveram os analistas do BTG Pactual, Samuel Alves e Maria Resende, no relatório.
“Sem retrovisor” para Jorge Moll
O plano de crescimento do CEO da Rede D’Or segue o mesmo raciocínio de seu pai, o empresário Jorge Moll, que criou o grupo hospitalar há 48 anos, no Rio de Janeiro, e que hoje é o presidente do conselho da companhia.
Durante participação no Zoox Data Revolution, o fundador da rede afirmou ser um “carro sem retrovisor”, em alusão ao seu foco direto nas ações futuras da companhia. E, neste sentido, o empresário falou dos planos de crescimento da Atlântica D’Or.
“Essa associação que fizemos com o Bradesco Seguros é espetacular, principalmente pelo tamanho da estrutura das duas empresas”, afirmou Jorge Moll. “A parte mais dolorosa se chama ramp-up [início gradual de uma operação]. Se você abrir um hospital, é possível que precise gastar, em dois anos, o preço que custou a própria construção. Isso é doloroso.”
De acordo com o fundador da Rede D’Or, há muita coisa a fazer junto nesta joint venture. “Já estou pensando em novos planos. Ainda estou cheio de ideias”, diz Jorge Moll, que fará 80 anos em janeiro.
Com olhar para 2026, Paulo Moll afirma que a sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) para o início do ciclo de queda da taxa de juros, atualmente no patamar de 15% ao ano, pode contribuir para o plano de expansão da rede.
“Isso afeta todas as empresas. A gente mantém o nosso endividamento sob controle, mas um cenário de queda de juros pode beneficiar o Brasil como um todo e ajudar o crescimento do nosso setor”, afirma Paulo Moll. “Nossos investimentos são bons, mesmo com a Selic a 15%. Mas podem ficar melhores se esse índice cair no ano que vem. Se o crédito ficar mais barato, nosso resultado vai subir.”
Atualmente, a Rede D’Or conta com 79 hospitais, com 13.270 leitos. A companhia está presente em 13 estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Sergipe, Ceará, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Alagoas e Pará) e no Distrito Federal.
No balanço do terceiro trimestre de 2025, a Rede D’Or registrou receita líquida consolidada (incluindo hospitais e a SulAmérica) de R$ 14,5 bilhões, alta de 10,4% sobre a mesma base de 2024. O lucro líquido chegou a R$ 1,45 bilhão, crescimento de 19,8%. A alavancagem da companhia no período foi de 1,54 vez na relação dívida líquida versus Ebitda, redução de 0,4 ponto sobre o terceiro trimestre de 2024.
“Foram resultados muito positivos, acima inclusive da expectativa de mercado. As ações até responderam positivamente. A gente foca nas nossas operações, e os bons resultados estão refletindo nos papéis da empresa”, afirma o CEO.
No acumulado de 2025, as ações da Rede D’Or na B3 registram valorização de 76,6%. Em 12 meses, a alta é de 51,12%. A companhia está avaliada em R$ 102,7 bilhões.