Em abril de 2022, a Porto Seguro oficializou ao mercado um posicionamento que já vinha em curso na empresa. Para ressaltar sua atuação em outros negócios além dos seguros, a companhia passou a se chamar apenas Porto e dividiu sua operação nos segmentos Porto Seguro, Porto Saúde e Porto Bank.

Pouco tempo depois do anúncio, essa estrutura ganhou uma quarta unidade de negócios, a Porto Serviços. Com CEOs e equipes independentes, o plano era dar mais foco e autonomia para cada um desses braços.

Como parte dessa orientação, uma das vias que ganharam velocidade foram os movimentos inorgânicos, da compra de participações em empresas e startups até a constituição de joint ventures. E, ao que tudo indica, a empresa não vai reduzir seu apetite nessa frente em 2023.

“Nós fizemos movimentos nas nossas quatro verticais e temos ainda uma agenda de seguir olhando as oportunidades de mercado”, diz Roberto Santos, CEO da Porto, ao NeoFeed. “Se percebermos que algo encaixa no nosso ecossistema, no nosso Lego, nós faremos.”

Na avaliação do executivo, dentro do quebra-cabeça que está sendo montado pela Porto, um dos segmentos que, a princípio, apresentam mais oportunidades para eventuais novos acordos é a divisão de saúde.

“Temos pouco market share em saúde e esse mercado ainda é muito carente de soluções tecnológicas no Brasil, o processo em seguro saúde, por exemplo, ainda é muito arcaico”, afirma. “Nesse contexto, eu vejo espaço para investir em alguma insurtech com soluções que enderecem essas questões.”

O setor de saúde esteve no centro da última investida da empresa. Em dezembro de 2022, a companhia anunciou um acordo com a Oncoclínicas para constituição de uma joint venture em serviços médicos oncológicos. Na nova operação, que ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a empresa terá uma fatia de 40%.

“Nossa opção, nesse caso, não foi comprar um hospital ou uma clínica”, diz. “Com a Oncoclínicas, nós conseguimos uma verticalização virtual. Por meio deles, vamos conseguir oferecer uma maior qualidade no atendimento aos nossos segurados na área oncológica.”

Roberto Santos, CEO da Porto

Em paralelo a esse olhar para fora dos seus limites, outra questão que vai ser acelerada pela Porto é o investimento para impulsionar as vendas cruzadas dentro do seu ecossistema. Em particular, na ponta dos clientes pessoa física.

A base para essa agenda é o superapp que reúne todos os negócios da Porto e que está sendo integrado a uma plataforma batizada de Hub de Vendas. Aqui, o conhecimento mais detalhado do perfil de cada cliente será usado para ofertas de outras soluções do portfólio.

“Há dois anos, nós tínhamos cerca de 1,4 negócios contratados por CPF. Hoje, estamos chegando a 1,7 negócios por cliente, para uma empresa que tem 20 ofertas para pessoa física”, afirma Santos. “Temos um pré-sal dentro de casa. Se eu conseguir fazer oferta inteligente, do produto certo, no momento certo, o céu é o limite.”

Resultado

Enquanto costura essas estratégias, a Porto reportou um lucro líquido recorrente de R$ 555,6 milhões entre outubro e dezembro de 2022. A cifra representou uma alta de 87,6% na comparação com igual período, um ano antes, e significou um recorde trimestral na trajetória da companhia.

No ano consolidado, entretanto, o indicador mostrou uma queda de 3,6%, para R$ 1,13 bilhão. Santos atribui boa parte desse recuo ao impacto, na virada de 2021 para 2022, da elevação dos preços dos veículos seminovos, o que se refletiu em uma nova política de precificação dos seguros no segmento.

“Precisávamos recuperar as margens e isso afetou, principalmente, o primeiro e o segundo trimestre de 2022”, diz. “Agora, depois de todo o esforço de precificação que fizemos, temos uma situação mais confortável para 2023.”

No quarto trimestre, a receita total da Porto avançou 31,1%, para R$ 7,8 bilhões. Já no ano consolidado, o salto foi de 29,5%, para R$ 27,9 bilhões. Em seguros, ainda o core da empresa, a receita cresceu 26,7% entre outubro e dezembro, para R$ 5,2 bilhões, e 27,4% em 2022, para R$ 18,8 bilhões.

Nas demais divisões, o Porto Bank apurou uma receita de R$ 1,2 bilhão no quarto trimestre, uma expansão anual de 21,1%. No ano, o indicador ficou em R$ 4,5 bilhões, alta de 26,9%.

Já na Porto Saúde, os números foram de R$ 903,3 milhões no trimestre e de R$ 3,2 bilhões ano, avanços de, respectivamente, 35,1% e 40,6%. Na mesma base, as receitas de Serviços cresceram 293,8% e 165,4%, para R$ 375,3 milhões e R$ 930 milhões.

As ações da Porto estavam sendo negociadas com alta de 5,12% por volta das 12h15 na B3, cotadas a R$ 26,67. No ano, os papéis acumulam alta de 15,2% e, em doze meses, de mais de 32%. A empresa está avaliada em R$ 17 bilhões.