Marca canadense de moda esportiva fundada em 1998, a Lululemon ganhou fama a partir de suas calças de yoga. Mas, internamente, o clima na empresa nunca foi exatamente zen. O que se refletiu na passagem de três CEOs desde que seu fundador, Chip Wilson, deixou o comando da operação, em 2008.
A empresa voltou a movimentar essa cadeira na noite da quinta-feira, 11 de dezembro, ao anunciar a saída de Calvin McDonald, executivo que foi o nome mais longevo a ocupar o cargo após Wilson – ele estava na posição desde 2018.
Em comunicado, a Lululemon ressaltou que McDonald passará o bastão oficialmente em 31 de janeiro de 2026. E que o executivo – que atuará como consultor sênior da companhia até 31 de março - e o conselho de administração estão trabalhando juntos para facilitar uma “transição tranquila”.
A marca disse ainda que o conselho está conduzindo buscando um novo nome para o cargo em parceria com uma empresa de recrutamento executivo. E que Marti Morfitt, presidente do board irá acumular a presidência executiva da empresa para garantir a continuidade das estratégias em curso.
Como parte dessas medidas, Meghan Frank, CFO, e André Maestrini, Chief Commercial Officer, vão atuar como CEOs interinos depois que McDonald concluir o processo de transição do cargo.
No comunicado, a Lululemon ressaltou que o executivo conduziu a empresa por um período de “crescimento e inovação significativos”. E que, sob o seu comando, a empresa triplicou sua receita anual, além de expandir o portfólio para outras categorias e a presença para mais de 30 geografias.
“Servir como CEO da Lululemon foi o ponto alto da minha carreira e estou incrivelmente orgulhoso de tudo o que nosso time conquistou nos últimos sete anos”, afirmou, na nota, McDonald. “Juntos, transformamos o mercado da moda esportiva e a oportunidade que temos pela frente é substancial.”
Já Morfitt, a presidente do conselho da empresa, acrescentou: “Em nome do conselho e de toda a organização, quero agradecer a Calvin por sua liderança visionária, que transformou a Lululemon em uma das marcas mais fortes do varejo”.
Discursos à parte, o anúncio da saída de McDonald parece ter agradado o mercado. As ações da empresa abriram o pregão de hoje na Nasdaq com alta de mais de 12%. E subiam 9,45% por volta das 10h25 (horário local).
Em 2025, no entanto, os papéis da Lululemon registram uma desvalorização de 46,4%, dando à empresa um valor de mercado de US$ 24,4 bilhões.
O anúncio da saída do CEO coincide com um novo relatório do Bank of America. O BofA elevou seu preço-alvo para a Lululemon US$ 185 para US$ 220 - o valor atual de negociação está na casa dos US$ 205. Os analistas mantiveram a classificação neutra para a ação.
Para o BofA, o aumento do preço-alvo reflete múltiplos mais altos entre empresas comparáveis: a Lululemon está em 17 vezes o preço-lucro do papel, acima do múltiplo anterior de 14x.
Um mau ano
A troca no comando da Lululemon acontece em um contexto de mais de um ano de desempenho abaixo das expectativas da companhia. Um cenário que motivou as cobranças crescentes por mudanças na gestão por parte do fundador Chip Wilson, que permanece como maior acionista da marca.
Há dois meses, por exemplo, Wilson publicou um anúncio de página inteira no The Wall Street Journal destacando que a empresa estava em queda livre e precisava parar de seguir Wall Street às custas dos clientes.
Entretanto, a disparada nas ações da companhia não parece ter como único motor a mudança no posto. O anúncio foi acompanhado do balanço da empresa em seu terceiro trimestre fiscal, encerrado em 2 de novembro. E que trouxe indicadores acima das projeções de analistas.
No período, a receita líquida, por exemplo, foi de R$ 2,57 bilhões, o que representou um crescimento de 7% sobre o mesmo intervalo de 2024, e veio acima das estimativas que apontavam para a cifra de R$ 2,48 bilhões.
O lucro por ação foi de US$ 2,59, ante as projeções na casa de US$ 2,25. O lucro líquido, porém, recuou de US$ 351,8 milhões, há um ano, para US$ 306,8 milhões. E o guidance de receita para o quarto trimestre, entre US$ 3,5 bilhões e US$ 3,59 bilhões, veio abaixo da estimativa de US$ 3,6 bilhões do mercado.
Os novos indicadores e projeções chegam em um contexto no qual a Lululemon vem sofrendo com questões como o impacto das tarifas, a instabilidade no bolso dos americanos e um portfólio com produtos que não têm agradado esses consumidores.
Esse cenário ganha contornos mais agravantes à medida que a Lululemon, uma das pioneiras no segmento de atlheisure, enxerga, cada vez mais, a competição se acirrar nesse espaço da moda esportiva casual, com a ascensão de nomes como Alo Yoga e Vuori.
Para defender seu território, a marca vem expandindo seus negócios internacionalmente e buscando oferecer um sortimento mais amplo aos clientes, além do seu mix tradicional. O que inclui a aposta em categorias como calçados, casacos e calças casuais.
No saldo dessas movimentações, o negócio como um todo segue crescendo, especialmente sob o impulso das operações internacionais e expansão de lojas. Nas Américas, porém, o maior mercado da marca, a receita segue registrando quedas – nesse trimestre, as vendas caíram 2% na região.