Após divulgar um plano para o fechamento de seu capital, em uma estratégia encampada por sua matriz francesa, o Carrefour Brasil fez nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, aquela que pode ter sido uma das últimas – se não, a derradeira – call de resultados como companhia aberta.

Já aprovada pelos conselhos do Carrefour na França e da subsidiária, a proposta será submetida à votação em assembleia, que será convocada em breve. “Com capital aberto, além da visão mais de longo prazo do nosso controlador, nós temos também uma visão de curto prazo”, disse Stéphane Maquaire, CEO do Carrefour Brasil. “Isso vai desaparecer um pouco, o que poderia agilizar nossos planos de expansão para os próximos anos.”

O executivo, no entanto, ressaltou que, a despeito desse potencial ganho, não enxerga uma avenida muito favorável para colocar o pé no acelerador no momento em que a varejista estiver longe dos escrutínios trimestrais do mercado.

“O ambiente de taxa de juros muito alta vai seguir do mesmo jeito”, afirmou Maquaire. “Então, nosso foco será desalavancar a companhia. Estamos segurando o nosso fluxo de caixa e olhando com mais cuidado as potenciais aberturas e conversões de lojas. A dinâmica é reduzir o número de lojas que vamos abrir.”

Em 2024, o Carrefour Brasil contabilizou 19 inaugurações no Atacadão, sua operação de cash & carry e, de longe, o seu carro-chefe, além de sete aberturas na bandeira Sam’s Club. No total, considerando todos os formatos, o grupo encerrou o ano com 1.007 unidades.

Além do processo deslistagem, outro tema abordado foi a margem bruta de 19,3% reportada pela companhia no quarto trimestre de 2024 – uma queda de 0,7 ponto percentual – e a pressão exercida, nesse indicador, pela operação do Atacadão.

Nessa última ponta, Maquaire ressaltou que a margem bruta do atacarejo foi impactada por duas dinâmicas. A primeira, a conclusão do plano de oferta de novos serviços em 150 lojas da rede, uma frente que traz melhores margens, mas que ainda tem impacto incipiente no resultado total.

O segundo componente envolveu o aumento gradual durante o quarto trimestre da inflação alimentar, o que puxou para cima as vendas no segmento B2B, com margens menores do que as vendas voltadas ao consumidor final.

“Estamos tentando segurar um pouco a inflação alimentar e manter o posicionamento de preços no atacarejo e no varejo”, disse Maquaire. “No atacado é até mais simples, porque conseguimos comprar um pouco antes dessa onda de inflação. Mas, no geral, não dá pra segurar por um prazo grande.”

Do prejuízo ao lucro

Em outros números do balanço, o Carrefour Brasil apurou um lucro líquido ajustado de R$ 1,16 bilhão no quarto trimestre de 2024, revertendo o prejuízo de R$ 565 milhões reportado 12 meses antes. No ano consolidado, a mesma linha ficou em R$ 1,75 bilhão, contra uma perda de R$ 795 milhões em 2023.

No trimestre, as vendas líquidas totais somaram R$ 29,6 bilhões, alta de 5,7%, e, no ano, o crescimento foi de 5,2%, para R$ 109,3 bilhões. A receita total trimestral avançou 5,7%, para R$ 31,2 bilhões, e 5,3% em 2024, para R$ 115,6 bilhões.

A receita do Atacadão cresceu 9,5% em 2024, para R$ 78,5 bilhões. Enquanto, no varejo, houve uma queda de 8,8%, para R$ 25,3 bilhões, em função da menor área de vendas, em função das conversões para o formato de cash & carry. No Sam’s Club o salto anual foi de 18,1%, para R$ 6,5 bilhões.

Na operação como um todo, o Ebitda ajustado cresceu 2,2%, no trimestre, para R$ 1,9 bilhão, e 13,4% no ano, para R$ 6,4 bilhões. Já as despesas SG&A avançaram 1,8%, entre outubro e dezembro, para R$ 3,8 bilhões, e recuaram 1,8% no ano, para R$ 14,7 bilhões.

Já a dívida líquida foi de R$ 3,22 bilhões no fim do exercício, contra o montante de R$ 3,46 bilhões reportado um ano antes. E a alavancagem ficou em 0,50 vez, ante 0,61 vez em 2023.

Juntamente com o balanço, o Carrefour Brasil divulgou um fato relevante informando que seu conselho de administração recomendou o pagamento de R$ 1,66 milhão em dividendos complementares aos seus acionistas, somados aos juros sob capital próprio de R$ 200 milhões pagos em 8 de janeiro de 2025.

As ações do Carrefour Brasil registravam alta de 1,33% por volta do meio-dia na B3, cotadas a R$ 7,60. Os papéis da empresa, avaliada em R$ 16 bilhões, acumulam alta de 39,9% em 2025.