Os fundos de private equity estão otimistas quanto ao potencial de aumento de investimentos na América Latina, com base no início do ciclo de queda da taxa de juros na região aliado à consolidação do mercado de capitais, em especial no Brasil, que concentra a maior parte de atuação desses fundos.

Esse otimismo, embora moderado, foi expresso por quatro gestores de fundos que participaram na segunda-feira, 29 de janeiro, do painel o “Apetite global para ativos na América Latina”, durante a 11ª edição do Latin America Investment Conference (LAIC), organizado pelo UBS.

Todos os participantes do painel ressaltaram as perspectivas positivas de investimentos na América Latina. “Difícil citar um setor que não tenha oportunidade para investir com rentabilidade na região”, afirma Wilson Rosa, da Advent, fundo com US$ 92 bilhões sob gestão global.

Peter Lohken, diretor executivo regional da L. Catterton Latin America – gestora de private equity, com US$ 1 bilhão de fundos sob gestão voltada para empresas de consumo – diz que há uma fórmula para o investimento dar certo na região, e ela tem funcionado: “Os investimentos demandam equilíbrio entre tecnologia, crescimento e rentabilidade.”

Outro debatedor, Marcelo Hudik, diretor da H.I.G. Capital, fundo com US$ 61 bilhões sob gestão, afirma que existe um universo de fundos estratégicos locais que tem sido ativos na abordagem de companhias. Mas, segundo ele, é preciso ser seletivo na procura de oportunidades.

“Não basta a empresa alvo ser grande ou ter perspectiva de crescimento, tem de ter um diferencial para que o investimento renda mais”, diz Hudik, cujo fundo já fechou 80 transações na América Latina.

De acordo com os gestores, o início do ciclo de queda de juros certamente vai dar um impulso para novos negócios.

Rosa, da Advent, observa que nos últimos dois anos, por causa dos juros elevados, houve uma migração do capital de fundos de ações para a renda fixa. Segundo ele, o impacto dos juros nas empresas foi muito forte. “A dívida de empresas três vezes alavancadas, que consumia 30% do fluxo de caixa antes da subida dos juros, passou a comprometer 100% desse fluxo”, diz.

Tania Chocolat, da CPP Investments, maior fundo de pensão do Canadá, com 550 bilhões de dólares canadenses sob gestão, sendo 35 bilhões de dólares canadenses na América Latina, lembra da “ressaca” de falta de IPOs desde 2021.

Quanto à possível volta, ela vê com reserva. “Temos uma visão diferente, naquela leva de IPOs de 2021 entramos em apenas dois”, diz a gestora. “Esse boom de IPOs foi consequência dos juros baixos, e houve um exagero no valuation de companhias que acessaram o mercado de capitais, por isso vimos muitos follow on na sequência.”

Brasil na dianteira

Um detalhe chamou a atenção no painel: o peso do Brasil no mercado de private equity. “O mercado de capitais aqui está muito à frente dos mercados de outros países da região, isso é importante para os fundos na questão de saída dos investimentos”, diz Chocolat.

Lohken, da L. Catterton Latin America, lembra que o Brasil responde por 40% do consumo regional. “A abordagem nunca é conjuntural, todas as tendências de consumo mundiais são replicadas na América Latina e, principalmente, no Brasil”, diz.

Outro diferencial do Brasil foi destacado por Hudik: o grande número de empresas com custo de financiamento elevado. Segundo ele, existem cerca de 180 mil empresas familiares no País, de todos os tamanhos, potenciais clientes das gestoras.

“Temos empresários de sucesso que estão atuando em regiões remotas do interior, com capacidade financeira para destravar valor para a gestão de casa e fazer investimentos”, diz o gestor da H.I.G. Capital, sinalizando um mercado que ainda tem espaço para crescer.

Quanto a uma eventual janela do mercado que favoreça uma estratégia de desinvestimento, os gestores apontaram as principais opções.

“Os IPOs devem ganhar share em 2024, dado que estiveram fechados nos últimos dois anos, mas as fusões tendem a ser maiores como sempre foram”, aponta Rosa, gestor da Advent.

Tania Chocolat sugere uma terceira alternativa: o mercado secundário. “Tende a evoluir, pois trata-se de uma solução para empresa de porte médio que tem mais tempo para crescer, mas seu investidor de private equity tem necessidade de sair.”