Além de Daniel Vorcaro, a Polícia Federal (PF) prendeu na terça-feira, 18 de novembro, o empresário baiano Augusto Lima, sócio do Banco Master e ex-CEO da instituição financeira, cuja liquidação foi determinada pelo Banco Central (BC).

Lima foi detido na Operação Compliance Zero, que investiga a “possível fabricação de carteiras de crédito insubsistentes” por instituições financeiras, segundo nota da PF, que não especifica os alvos.

Segundo apuração dos jornais O Globo e Valor Econômico, integrantes da cúpula do Master e do Banco de Brasília (BRB) teriam criado cerca de 20 títulos de crédito falsos para justificar uma transferência de R$ 12,2 bilhões do BRB para a instituição de Vorcaro. Em depoimento à CPI do Crime Organizado, o diretor-geral da PF, Andrei Passos, afirmou que a operação mira uma fraude de R$ 12 bilhões, sem entrar em detalhes.

Lima iniciou sua trajetória no setor financeiro em 2018, após a privatização da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), estatal criada no fim dos anos 1970 para facilitar o acesso a alimentos pela população de baixa renda.

O empresário assumiu o braço financeiro do grupo, cujo principal produto era o programa Credcesta — linha de crédito consignado para servidores públicos estaduais, com desconto em folha. Segundo requerimento à Assembleia Legislativa da Bahia para concessão da Comenda Dois de Julho, o cartão atendia 6 milhões de servidores públicos em todo o Brasil em 2018.

O Master incorporou o Credcesta em 2019, e Lima tornou-se sócio de Vorcaro no banco, onde foi CEO. O cartão passou a ser um dos principais produtos do varejo, com foco em crédito consignado, considerado de menor risco.

A operação vinha dobrando de tamanho nos últimos três anos. Segundo balanço do Master, o cartão benefício chegou a 24 estados no fim de 2024, ante 20 em 2023, e a 176 municípios, contra 130 no ano anterior. A carteira de consignado encerrou 2024 em R$ 919,5 milhões, abaixo dos R$ 2,5 bilhões de 2023, devido à intensa cessão de crédito.

No início do ano, Vorcaro e Lima anunciaram, via Master Holding, um aumento de capital de R$ 2 bilhões no banco, com o objetivo de expandir o Credcesta e o will bank — banco digital voltado à baixa renda, que não integra o processo de liquidação. Juntos, os dois produtos somavam 10,5 milhões de clientes.

Em agosto deste ano, Lima deixou o Master e assumiu o controle do Voiter, antigo Indusval, adquirido pelo grupo em 2024. O ativo ficou fora do acordo de venda ao BRB, firmado em março e rejeitado pelo BC em setembro. Rebatizado como Pleno, o banco recebeu aporte de R$ 160 milhões.

Fora do setor financeiro, Lima tem conexões com o meio político, tanto em Brasília como na Bahia. É casado com Flávia Peres, ex-deputada federal e ex-ministra do governo Jair Bolsonaro desde o ano passado.

O NeoFeed buscou, mas não conseguiu, o contato de Augusto Lima e sua defesa. As assessorias de Vorcaro e do Banco Master informaram que não iriam comentar.