O uso cada vez mais indiscriminado do celular está levando Hollywood — e até o Brasil — a apostar “grande” em conteúdos “menores”, que ganharam o apelido de microdramas.
Sucesso na China, os microdramas são séries feitas para smartphones e começam a conquistar o mercado audiovisual dos Estados Unidos, por dialogarem com os novos hábitos de consumo e apresentarem custo extremamente baixo de produção, segundo o jornal The Wall Street Journal (WSJ).
Com duração média de 60 minutos a 90 minutos, esses programas são divididos em episódios curtos, de até três minutos, para atender a um público com cada vez menos paciência para conteúdos longos.
Feitas para visualização vertical, as histórias seguem ritmo acelerado, com atuações e tramas melodramáticas, destacando romances e até narrativas picantes, veiculadas em plataformas e aplicativos próprios.
Em termos de negócio, são extremamente baratos em comparação aos blockbusters e às séries de sucesso. O orçamento de uma temporada varia de US$ 100 mil a US$ 250 mil — muito abaixo do custo de apenas um episódio de muitas séries. Um episódio de Game of Thrones custava, no início, US$ 6 milhões, chegando a US$ 15 milhões na última temporada, segundo o site Yahoo Finance.
O formato tem atraído tanto novos players quanto grandes estúdios. Bill Block, ex-CEO da Miramax — estúdio responsável por filmes como Pulp Fiction, A Vida é Bela e Cidade de Deus — levantou US$ 14 milhões com investidores como Alexis Ohanian, cofundador do Reddit, e Kim Kardashian, para financiar produções em sua plataforma recém-lançada, a GammaTime.
A empresa já conta com mais de 20 shows produzidos, incluindo dois escritos por Anthony Zuiker, criador da série policial CSI. Segundo ele, o desafio é escrever uma história completa em pouco tempo, capaz de prender o público. “Ela força você a ser conciso”, disse ao WSJ.
Dados da empresa de inteligência de mercado Sensor Tower, citados em reportagem da BBC, apontam que os aplicativos de microdramas foram baixados 950 milhões de vezes em todo o mundo até março deste ano.
O mercado de microdramas cresce rapidamente nos Estados Unidos, com o surgimento de novas plataformas como a GammaTime. Uma delas, a DramaBox, oriunda de Cingapura, foi selecionada neste ano para o programa de aceleração de startups da Disney.
No início do mês, a Fox Entertainment adquiriu participação na companhia ucraniana Holywater, controladora da plataforma My Drama. Segundo o CEO da Fox, Rob Wade, o investimento é uma oportunidade para adaptar seus produtos ao formato de microdramas, que podem ser integrados ao serviço de streaming.
Essas plataformas adotam o modelo freemium, oferecendo gratuitamente os primeiros episódios e cobrando pelos seguintes ou por assinatura do aplicativo. A publicidade também vem ganhando força como fonte de receita.
Analistas da indústria de entretenimento ouvidos pelo WSJ estimam que o mercado de vídeos verticais movimenta cerca de US$ 8 bilhões, com boa parte concentrada na China. Dados da Associação Chinesa de Serviços de Netcasting, citados pela BBC, indicam que o país produziu mais de 30 mil microdramas em 2024.
O formato chegou ao Brasil, conhecido por seu gosto por novelas. A Globo anunciou, no início de outubro, que está investindo nesse tipo de conteúdo, com o lançamento da série Tudo Por uma Segunda Chance.
Nem todas as iniciativas de vídeos curtos tiveram sucesso. Criada em 2019 com apoio de Jeffrey Katzenberg, ex-presidente da Disney e da DreamWorks, a plataforma Quibi teve “microvida” de seis meses antes de ser encerrada.
Ao contrário dos microdramas, os vídeos da Quibi tinham duração de até dez minutos. Além disso, o timing do lançamento não ajudou, ocorrendo em meio à pandemia, o que gerou forte concorrência com os serviços de streaming tradicionais.