Um dia depois de o governo federal anunciar a renovação das medidas para proteger a indústria brasileira de siderurgia de importações - em particular, da China -, as ações das empresas locais do setor reagiram mal na B3.
Na quarta-feira, 28 de maio, a Usiminas liderou as perdas do segmento, com suas ações preferenciais recuando 5,03%. Seguida pelos papéis preferenciais da CSN e, em menor escala, da Gerdau, com quedas, respectivamente, de 3,89% e 1,68%.
Em vigor há 12 meses e renovado pelo mesmo prazo, o pacote já era alvo de críticas no setor. E, nessa atualização, trouxe poucas mudanças, o que parece ter reforçado o desapontamento e promete aquecer ainda mais os questionamentos sobre a efetividade da sua aplicação.
“Como esperávamos, as medidas foram decepcionantes”, frisa o BTG Pactual, em relatório. O banco ressalta que, apesar da fatia do aço importado ter crescido no País, impactando preços, investimentos e gerando demissões, o governo não implementou uma tarifa universal ou fez uma revisão completa das cotas.
Na prática, o anúncio envolveu a renovação da alíquota de 25% para a importação de 19 tipos de aço e a inclusão de quatro novos NCMs (os códigos usados para identificar os materiais). Além da manutenção do sistema de cotas que limita as tarifas originais até determinados volumes de importação.
“Contatos do setor que consultamos enxergam isso como um passo na direção certa, mas temem que ele não seja suficiente para reduzir significativamente as pressões sobre as importações”, observam os analistas do BTG.
Há outras dúvidas em relação ao pacote. Os analistas questionam, por exemplo, se há um plano do governo para revisar outras categorias deixadas de lado nessa atualização. E se os exportadores ainda encontrarão brechas para contornar o sistema de cotas, mesmo com as novas atualizações.
Nesse contexto, o BTG destaca que medidas mais rigorosas, como as tarifas de Donald Trump, já estão beneficiando players com foco nos Estados Unidos. “Dito isso, continuamos preferindo a Gerdau, dada sua exposição de mais de 50% aos EUA, uma base de ativos de maior qualidade e um valuation atrativo.”
A recepção às medidas anunciadas também foi nada favorável do ponto de vista do Bank of America, que, em relatório, ressalta que as siderúrgicas brasileiras e outros players da cadeia do aço têm sido bastante claros sobre a ineficácia do sistema adotado em 2024 e que foi renovado agora.
O banco recorre a alguns números para traduzir esse descontentamento. Entre eles, o crescimento de 9% das importações totais de aço em 2024. E as expansões de 10% no volume de aços planos e de 6% dos aços longos no período.
“As investigações antidumping não levaram à adoção de tarifas e a decisão de não fazer nenhuma mudança significativa do sistema de cotas tarifárias é mais um golpe para o setor siderúrgico”, escreve o BofA.
Nesse cenário, o banco ressalta a manutenção de uma visão cautelosa para as siderúrgicas locais e projeta que os níveis de importação permaneçam relativamente altos em 2025, com a demanda pelo aço doméstico caindo para um dígito baixo no ano.
“A pressão sobre os preços pode continuar em função disso”, complementa o BofA, com recomendação neutra para a Gerdau e a Usiminas, e underperform (venda) para a CSN.
À medida que as iniciativas do governo federal são alvo de críticas crescentes dos players brasileiros, uma das vozes mais contundentes que vem se sobressaindo nesse coro tem sido a de Gustavo Werneck, o CEO da Gerdau.
Há três meses, por exemplo, durante a call do balanço de 2024 da Gerdau, ele ressaltou que não havia uma ação efetiva do governo para frear a entrada do aço chinês no País. E, além de cobrar medidas mais rápidas e duras, disse que o setor precisava de políticas que garantisses sua defesa e não sua proteção.
“Proteção dá a ideia de alguém que é ineficiente, que precisa de ajuda. Não quero proteção de nada. Temos 124 anos de história e todos os dias pensamos em competitividade”, afirmou ele, na oportunidade. “O que quero é condição isonômica.”