Após três anos “arrumando a casa”, avançando na digitalização e reorganização de seus processos logísticos, a Lojas Renner entende que chegou o momento de colher os resultados desses investimentos.

O foco é voltar a crescer, conforme o plano para os próximos cinco anos divulgado aos investidores nesta segunda-feira, 8 de dezembro. A proposta prevê expandir operações, diante da avaliação de que os ajustes deixaram a companhia preparada para conquistar mercado e ampliar rentabilidade.

“O ciclo anterior não teve rentabilidade tão alta, foi um ciclo de investimento e transformação”, disse Fabio Faccio, CEO da Renner, em conversa com jornalistas. “Mas esse ciclo nos trouxe uma plataforma muito mais pronta para escalar vendas e rentabilidade.”

Com a proposta de unir expansão e geração de valor, a empresa pretende elevar o retorno sobre o capital investido (Roic) para cerca de 20% até 2030, acima dos 12,4% registrados em 2024, com crescimento anual da receita líquida entre 9% e 13%.

Um dos pilares é acelerar a abertura de lojas, após inaugurar em média de 10 a 15 unidades nos últimos anos. A empresa encerrou o terceiro trimestre com 694 lojas no País, considerando Renner, Youcom, Camicado e Ashua.

O plano prevê inaugurar de 140 a 170 unidades da bandeira Renner até 2030, elevando a base de 432 para entre 572 e 602. Isso representa um ritmo de abertura de 28 a 34 lojas no período.

Diferentemente de 2010 a 2019, quando a Renner buscava consolidar grandes mercados, boa parte das novas lojas será instalada em cidades com até 200 mil habitantes, onde não está presente e a concorrência é com marcas regionais.

Segundo Daniel Santos, CFO da Renner, essas cidades, cuja relação não foi informada, representam mercado endereçável de R$ 20 bilhões, e a Renner tem a meta de deter um market share 10%. “Vemos uma demanda qualificada, de um perfil de clientes que a Renner atende”, disse.

Nesses locais, a companhia atuará com lojas menores, entre 1,1 mil e 1,2 mil metros quadrados, abaixo da média atual de 1,6 mil metros quadrados. Santos afirmou que já conta com cerca de 90 unidades nesse formato, com margem bruta alta, custo menor e ganhos com o novo modelo de abastecimento. "Esse modelo captura diversos features relacionados às lojas da Renner a um custo de construção adequado", afirmou Santos.

A expansão inclui também a Youcom, marca jovem, que deve passar de 142 para entre 260 e 290 lojas até 2030. As novas unidades terão metragens maiores – de uma média de 250 metros quadrados, as novas serão de cerca de 450 metros quadrados. Para Camicado, o plano é inaugurações pontuais e reformas. Já a Ashua não teve planos detalhados.

Faccio destacou que a abertura de lojas não prejudica o canal digital, atualmente bastante conectado, permitindo acelerar a estratégia de omnicanalidade. “Quando abrimos uma loja em nova cidade, as vendas digitais nessa praça aumentam de 10% a 20%”, disse.

Mesmo retomando a expansão, a Renner estima que a relação entre o capex e a receita líquida fique entre 6% e 7,5% da receita líquida, abaixo dos 9% de 2020 a 2023.

Os executivos destacaram que a diferença decorre de investimentos menores que os necessários para fortalecer estrutura digital e logística. Ele citaram ainda que a companhia vem gerando caixa robusto, com fluxo livre crescendo a 9% ao ano desde 2014, atingindo R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre.

A expectativa é de que a combinação de aumento das vendas e os ganhos obtidos com os investimentos feitos na eficiência das operações devem permitir manter as despesas sob controle. O plano da Renner prevê uma redução do percentual das despesas operacionais em relação à receita de 2,5 pontos percentuais a 3,5 pontos percentuais em relação aos 38,7% vistos neste ano.

Para os executivos, os ajustes feitos nos últimos anos permitem a Renner apostar no crescimento e não perder margem. “Nosso crescimento nos últimos anos tem sido maior de rentabilidade do que de vendas. Em dez anos, a área de vendas cresceu 5%, a venda avançou 11% e crescemos quase na mesma proporção lucro líquido e geração de caixa”, afirmou Faccio. “Podemos acelerar a expansão porque temos ‘pulmão’ para investir.”

A Renner também quer reformular sua imagem, deixando de ser vista apenas como varejista de roupas para se consolidar como marca de moda, investindo em coleções e colaborações exclusivas.

A empresa prevê distribuir entre 50% e 80% do lucro aos acionistas, abaixo dos 120% de 2025, quando houve distribuição de reservas. Em meio às mudanças na tributação de dividendos, Santos afirmou que continuará priorizando JCP na remuneração.

Outro instrumento será a recompra de ações. O conselho aprovou programa para adquirir até 75 milhões de papéis, equivalentes a 7,6%, totalizando cerca de R$ 1,2 bilhão.

Por volta das 11h09, as ações da Renner subiam 2,59%, a R$ 14,24. No ano, os papéis acumulam alta de 18,7%, levando o valor de mercado a R$ 15,1 bilhões.