Envolvida com o colapso financeiro da FTX após desistir de comprar a operação da concorrente, a Binance é a mais nova vítima das consequências da implosão do negócio de sua rival. Na terça-feira, 13 de dezembro, investidores sacaram US$ 1,14 bilhão em ativos que estavam alocados na corretora de criptoativos.
Um dia depois de confirmar os saques, Changpeng Zhao, CEO da Binance, tratou de ir a público e, pelo Twitter, escreveu que “as coisas parecem estabilizadas” e que “os depósitos estão voltando”. Já em um memorando interno obtido pela agência Bloomberg, ele ressaltou a expectativa de que os próximos meses serão “turbulentos”.
Publicamente, Zhao tenta tranquilizar os clientes da corretora, que temem que a Binance também tenha uma crise de liquidez. Segundo ele, a retirada de ativos não foi nem mesmo uma das cinco maiores já registradas em um único dia pela companhia. “Já vimos isso antes. São negócios como de costume”, afirmou.
Em nota enviada ao NeoFeed, a Binance informou que a retirada dos fundos realizada na terça-feira foi “teste de estresse extremo porque executamos um modelo de negócios muito simples: manter os ativos sob custódia e gerar receita com as taxas de transação”.
Para especialistas, mesmo que o valor seja bilionário, é preciso analisar todo o contexto. “Definitivamente, vale a pena ficar de olho, mas até onde posso dizer neste momento, isso é muito diferente do que houve com a FTX”, disse Alex Svanevik, CEO da Nansen, empresa que trabalha com dados analíticos de blockchain, em entrevista à rede americana CNBC.
De acordo com Svanevik, a Binance testemunhou a retirada de cerca de US$ 3 bilhões de seus fundos na última semana. Ele lembrou, porém, que a companhia tem mais de US$ 60 bilhões em ativos na exchange e que as retiradas ainda representam um percentual pequeno desse montante.
Ainda assim, esse movimento reforça as atenções sobre as empresas do setor. Pressionada por investidores, a Binance emitiu no mês passado um documento em que afirma ter um índice de reserva de 101%. Isso significa que a companhia tem dinheiro suficiente para cobrir todos os depósitos no caso de uma crise de liquidez.
O problema é que este comprovante de reserva não foi encarado como uma prova definitiva de que a empresa está segura financeiramente. A própria Mazars, auditoria contratada pela Binance para comprovar as reservas, afirmou em seu relatório que tal ponto “não expressa uma opinião ou uma conclusão de garantia”.
No Twitter, nesta quarta-feira, Zhao voltou a afirmar que mantém reservas de ativos de usuários individuais da exchange. Ele disse ainda que pretende liberar outro lote de comprovantes de reservas nas próximas semanas.
Segundo a empresa, um processo de prova de reservas em custódia nesta magnitude “é muito complexo novo e exclusivo do setor e requer diferentes graus de verificação interna e por terceiros na blockchain, em comparação a instituições financeiras tradicionais”.
A Binance não é a única que está sofrendo com os reflexos do colapso da FTX. A americana Genesis chegou a suspender os saques da plataforma numa decisão que poderia afetar também a Gemini, a exchange de criptoativos dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss.
Sobrou até mesmo para a Sequoia, uma das investidoras da exchange, que precisou se explicar aos LPs e afirmou que passaria a olhar com mais zelo e pedir mais garantias às empresas em seus investimentos no futuro.
O caso da FTX
Como Svanevik afirma, há diferenças entre os casos da FTX e da Binance. Sam Bankman-Fried, fundador e CEO da FTX, foi acusado criminalmente por atos que constituem, entre outras práticas ilícitas, crime de fraude. A acusação é de transferência de fundos da corretora para a Alameda Research, empresa-irmã da FTX.
Para piorar, a Alameda Research emprestou pelo menos US$ 4 bilhões para executivos ligados a FTX e a empresas subsidiárias legais da corretora. Bankman-Fried, por exemplo, tomou US$ 1 bilhão de empréstimo, conforme mostram documentos do Tribunal de Falência do Distrito de Delaware, nos Estados Unidos.
Em evento recente do The New York Times, Bankman-Fried negou que a corretora tivesse cometido fraude e afirmou que os problemas decorreram de "um erro contábil", que fez com US$ 8 bilhões fossem calculados de forma incorreta.
A justificativa foi encarada como mentira e delírio por executivos da Coinbase e da Galaxy Digital, outras empresas de criptoativos. “Mesmo a pessoa mais crédula não deve acreditar na afirmação de Sam de que este foi um erro de contabilidade", escreveu Brian Armstrong, CEO da Coinbase, no Twitter.
Na segunda-feira, 12, Bankman-Fried foi preso nas Bahamas após promotores dos Estados Unidos apresentarem acusações criminais contra o executivo, que deve ser extraditado aos EUA para enfrentar julgamento.