A demora do Ministério da Educação em assegurar os recursos necessários no orçamento federal para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) não deve afetar apenas os alunos das unidades de ensino no Brasil em 2026.
Na avaliação do BTG Pactual, o impacto também será grande nas principais companhias listadas do segmento educacional. Entre elas, a Cogna, que tem um importante braço editorial e poderá perder receita com esse atraso.
Até o momento, o governo federal só assegurou as aquisições para alunos do segmento Educação de Jovens e Adultos (EJA). Se os pedidos de cerca de 240 milhões de livros para os anos iniciais dos ensinos fundamental e médio não forem confirmados até agosto, a entrega dos materiais para o ano letivo de 2026 deverá ficar comprometida.
Segundo os analistas Samuel Alves e Maria Resende, caso o governo federal não solucione a tempo esse desafio orçamentário, a Cogna terá um impacto, que poderá chegar à média intensidade, ainda no balanço financeiro de 2025.
“Para a Cogna, cujas marcas Ática, Scipione e Saraiva detêm uma participação estimada de 30 a 35% no programa, o cenário continua relevante. O PNLD representa cerca de 7% da receita da empresa e mais de 10% do seu Ebitda”, diz o documento.
“Embora o segmento de livros didáticos continue rentável, o impasse orçamentário recorrente ressalta a imprevisibilidade da exposição ao setor público. Mantemos, portanto, uma postura cautelosa em relação às empresas brasileiras do setor educacional”, afirma o BTG.
Outro ponto de atenção para as empresas do setor, e que também envolve o governo federal, tem a ver diretamente com a publicação de portaria assinada pelo MEC, no último dia 14 de julho, regulamentando as regras do marco regulatório de ensino a distância (EAD), parte importante da receita dessas empresas.
Segundo o MEC, ainda que 52,3 mil polos educacionais estejam atualmente registrados no Brasil, somente 26,2 mil possuem pelo menos um aluno matriculado. Desse volume, 67% atendem menos de 100 estudantes, número considerado financeiramente inviável.
Ainda de acordo com o governo federal, a maior parte das unidades não possui infraestrutura básica, como laboratórios e um corpo docente qualificado. E são justamente esses polos menores, especialmente em regiões que apresentam baixa adesão de matrículas, que estão mais em risco.
Entre as exigências que passaram a vigorar, a partir da portaria publicada pelo MEC, estão a implementação de provas presenciais obrigatórias para cada módulo, limite de 60 novos polos por instituição a cada ano e requisitos mínimos de infraestrutura e equipe. Ainda que possam resultar na melhora da qualidade, essas medidas irão impor restrições operacionais às companhias do setor.
“As empresas sob nossa cobertura, que representam grande parte do mercado privado de EAD no Brasil, provavelmente precisarão revisar o desenho dos cursos, atualizar plataformas tecnológicas, renegociar contratos com polos parceiros e adaptar seus modelos acadêmicos para atender às novas exigências”, afirma o banco.
Conforme dados do BTG, compilados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Cogna tem 17,4% no segmento de ensino a distância privado no Brasil, atrás de Vitru (com 23,7%), e à frente do Yduqs (12,2%).
“Mantemos uma visão cautelosa sobre as empresas de educação no Brasil, dada a persistência de desafios estruturais, incluindo: excesso de oferta, crescimento do ticket médio abaixo da inflação e, principalmente, incertezas regulatórias quanto ao modelo de EAD”, afirmam os analistas.
Nesse sentido, o BTG acredita que os resultados do setor no segundo trimestre registrem um processo de desaceleração. “No geral, este trimestre parece mais discreto após um primeiro trimestre inegavelmente forte. Com muitas empresas já tendo capturado a maior parte dos ganhos de eficiência, acreditamos que as melhorias incrementais tendem a desacelerar daqui para frente”, diz o relatório.
No pregão desta sexta-feira, 25 de julho, na B3, as ações do Cogna registravam alta de 1,52% por volta das 15h. No acumulado de 2025, os papéis têm valorização de 144,9%. A companhia está avaliada em R$ 4,84 bilhões.