A segunda-feira, 1º de dezembro, marca uma transição para a Sol Agora, empresa especializada em crédito para o setor de energia solar. A fintech da gestora canadense Brookfield está mexendo em seu comando no momento em que se transforma em uma plataforma mais ampla de funding, originação e gestão de produtos ligados à energia sustentável.
O movimento começa pela chegada de Flávio Suchek, executivo que estava no BV e foi o responsável pela diversificação do passivo da financeira, que era praticamente todo ligado ao setor automotivo. Com passagens pelo BTG Pactual, Recovery e Itaú, ele conduziu o BV para o então crescente segmento de crédito para painéis solares.
“O solar é um produto que faz sentido econômico para o consumidor e não pressiona o endividamento. É troca de conta, não aumento de dívida”, diz Suchek, em entrevista ao NeoFeed.
O novo CEO da Sol Agora traz, além da experiência com o varejo de crédito, um conhecimento importante sobre estruturas de fundos, mercado de capitais e special situations, três características que “iluminam” a nova fase da fintech.
Criada em 2021 por um acionista que não opera em escala pequena - a Brookfield é uma gestora global de ativos alternativos, com mais de US$ 1 trilhão sob gestão e presença nos setores de energia, infraestrutura, imobiliário e private equity no País -, a Sol Agora conseguiu formar um dos maiores portfólios renováveis do País, com o financiamento à mini e microgeração solar.
A fintech originou R$ 1,9 bilhão em crédito e construiu uma base de 23 investidores institucionais nos três FIDCs já existentes. E consolidou um modelo B2B2C de crédito para mais de 30 mil projetos de mini e microgeração, sempre operando por meio de integradores e distribuidores.
A conclusão da próxima fase é esperada até o fim do primeiro trimestre de 2026, quando deve sair a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários e da Anbima para a Sol Agora Gestora de Recursos.
A partir da criação de uma asset, a empresa fica menos dependente de bancos para distribuir suas cotas e abre novas fontes de receita. Com o crescimento projetado para a energia solar nos próximos anos, faz sentido ser a responsável pela integração da cadeia completa do crédito (da originação à distribuição) e reduzir a dependência de intermediários financeiros.
“Hoje, dependemos de bancos para conectar investidores aos nossos fundos. Com a gestora, passamos a fazer isso diretamente”, afirma Eduardo Solamone, diretor de relação com investidores da Sol Agora. “Ganhamos flexibilidade, ampliamos o portfólio de produtos e abrimos novas fontes de receita.”
A gestora da Sol Agora já nasce com R$ 1,2 bilhão mapeados e dois novos fundos. O primeiro é um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de até R$ 600 milhões que será espelho das séries anteriores. A diferença do Sol Agora 4 é que este será gerido internamente (seu lançamento operacional deve acontecer em março).
O segundo é um veículo híbrido inédito no mercado brasileiro. O FIDC Warehouse será de até R$ 250 milhões para comprar créditos no mercado primário e servir de originador para Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) emitidos pela própria gestora.
“Tradicionalmente, estruturas de warehouse são internas. O ineditismo aqui é abrir o veículo a investidores institucionais”, diz Solamone.
Com isso, a companhia planeja emissões de até R$ 400 milhões em CRIs ao longo de 2026, aproveitando o benefício fiscal preservado para investidores de varejo qualificado.
“O mercado de capitais ficou mais profundo e mais importante para o crédito. Queremos estar conectados a toda essa cadeia, da originação à distribuição”, afirma o diretor de RI.
Com essa nova estrutura, a Sol Agora se aproxima do modelo das plataformas globais de crédito alternativo: capilaridade comercial, eficiência tecnológica e verticalização do funding.
O fundo warehouse dá flexibilidade para testar novas teses, os CRIs abrem acesso ao varejo e a gestora consolida a autonomia financeira da empresa. Tudo isso em um mercado de energia distribuída que, na visão da Sol Agora, ainda está só no começo.
“Tem estudos que projetam o solar como primeira fonte de energia até 2040. Não sei se será em 2040 ou em 2045, mas o ponto é que o crescimento está dado”, diz Suchek.