Gigantes do venture capital estão sofrendo com um momento mais delicado para o investimento em startups. Depois de Tiger Global, Sequoia Capital e SoftBank reportarem números abaixo das expectativas, agora chegou a vez da Temasek Holdings fazer o mesmo.
A companhia com sede em Cingapura registrou seus piores retornos desde 2016. O valor líquido do portfólio encolheu de US$ 403 bilhões para US$ 285 bilhões no período de um ano encerrado ao fim de março. A justificativa foi o cenário macroeconômico conturbado que afetou o mercado de tecnologia.
Com isso, houve queda próxima de 5,1% nos retornos totais para os acionistas. O resultado fez a gestora classificar 2022 como “o ano mais desafiador para os mercados na última década”. Para efeito de comparação, os investidores haviam obtido um ganho de 5,8% no ano anterior. Já em 2021, a taxa de retorno havia sido de 24,5%.
Para tentar evitar novas quedas, o diretor de investimentos da gestora, Rohit Sipahimalani, afirmou que está moderando o ritmo dos aportes e usando uma “lente geopolítica”. “Não vamos investir em áreas que estão na mira das tensões EUA-China”, disse o executivo. “Preferimos investir em empresas que tenham acesso a grandes mercados domésticos”.
Na Ásia, onde a gestora concentra dois terços de seu portfólio, já foram feitos aportes em negócios como Tencent e Alibaba. No restante do mundo, a gestora coleciona participações em empresas como Roblox, Visa, MasterCard, PayPal, entre outras.
Por ora, a Temasek divide sua carteira da seguinte maneira: 22% do portfólio corresponde a operações da China, 21% nos Estados Unidos e 28% em Cingapura. O restante está alocado em negócios do resto do mundo. Em 2013, para comparação, a participação da gestora em negócios nos EUA era de apenas 10%.
O Brasil está no radar dessa diversificação. No ano passado, a gestora firmou uma parceria com a Votorantim para o lançamento de um fundo de R$ 3,6 bilhões para investir em operações no país. A ideia é encontrar entre oito e dez empresas e os cheques podem ser de até R$ 300 milhões.
“A economia global ainda é bastante frágil. As tensões geopolíticas são altas e não mostram sinais de alívio”, disse Sipahimalani, que não descartou a possibilidade de uma recessão por conta dos efeitos da alta nos preços.
Os resultados ruins da gestora impactam diretamente na economia de Cingapura, uma vez que a gestora opera como uma estatal no país. Temasek, o fundo soberano GIC e a Autoridade Monetária de Cingapura (o banco central do país) são alguns dos maiores contribuintes para o orçamento do país, segundo o Financial Times.
Nos últimos anos, a Temasek mudou sua tese de investimento para apostar mais em operações com ações não listadas em bolsa até para se proteger das flutuações do mercado aberto. Atualmente, esses papéis correspondem a mais de 50% do portfólio da gestora. Algumas dessas apostas, no entanto, não deram certo.
Um investimento que não obteve o retorno desejado foi o aporte de US$ 275 milhões na FTX. No ano passado, a exchange de criptomoedas teve sua operação implodida por uma série de problemas fiscais envolvendo o fundador Sam Bankman-Fried. A Temasek foi forçada a amortizar o investimento.
A Stripe foi outro caso. A fintech que já chegou a ser a mais valiosa dos Estados Unidos com um valuation de US$ 95 bilhões sofreu uma sequência de down rounds. No último, em janeiro, havia a previsão para a redução do valor de mercado para algo próximo a US$ 60 bilhões.
No mercado aberto, alguns dos principais investimentos da companhia também negociam em baixa. No período de um ano, as ações do Alibaba caíram 18%. Já os papéis do PayPal negociam com queda de 9,6% nos últimos doze meses.