Em meio ao crescente movimento de queda na receita, com US$ 22,5 bilhões registrados entre abril e junho, o pior resultado em uma década, a fabricante de carros elétricos americana Tesla, do bilionário Elon Musk, aposta na expansão de robotáxis no mercado dos Estados Unidos para mudar definitivamente a rota da empresa.

Durante teleconferência de resultados da companhia, Musk afirmou que está obtendo permissão regulatória para lançar os modelos de carros autônomos em vários estados americanos, como Califórnia, Nevada, Arizona e Flórida.

A expectativa do ex-homem-forte do governo do presidente Donald Trump é de que as operações deste tipo atinjam metade da população dos Estados Unidos até o fim deste ano, e que, até dezembro de 2026, seja implementado em larga escala no país.

Só que a realidade atual da Tesla em relação a robotáxis é bem diferente da perspectiva desenhada por Musk. Hoje, a companhia opera uma pequena quantidade desses modelos em Austin, e que não está disponível para o público em geral.

“A Tesla não pode se dar ao luxo de dar um passo em falso com o serviço de robotáxi”, diz Shawn Campbell, consultor da Camelthorn Investments e acionista da Tesla, à Reuters. Ele afirmou que “a situação está se deteriorando” em seus negócios automotivos, com quedas nas vendas em “quase todos os mercados”.

No primeiro semestre deste ano, as vendas da montadora registraram queda de 13%, provocada principalmente pelo envelhecimento de sua linha de veículos elétricos e pelos danos à marca causados pelo ativismo político de Musk.

Sem a previsão do lançamento de novos veículos mais acessíveis e com a proximidade do fim de um incentivo fiscal de US$ 7,5 mil para compradores de veículos elétricos nos Estados Unidos, o dono da Tela reconheceu que a montadora ainda terá “alguns trimestres difíceis”.

No pregão desta quinta-feira, 24 de julho, na Nasdaq, as ações da Tesla operam em queda de 9%. No acumulado do ano, os papéis da empresa registram desvalorização de 25%. Analistas enxergam na implementação de robotáxis e direção autonômica, os caminhos cruciais para manter a avaliação de mercado da companhia, hoje na casa dos US$ 955 bilhões.

A queda nas vendas levou ao aumento de questionamentos por parte de investidores em relação a promessas ambiciosas que já foram feitas de Musk sobre os robotáxis. Produtos como o Cybertruck chegaram mais tarde do que o previsto, e Musk garante todos os anos, desde 2016, que os carros autônomos chegariam em, no máximo, no ano seguinte.

A Tesla perdeu participação de mercado pelo sexto mês consecutivo, apesar do aumento nas vendas gerais de carros elétricos. Musk afirmou esperar que o segmento de robotáxis tenha um impacto significativo nos negócios da Tesla até o final do ano que vem.

Ainda que a empresa demonstre otimismo com o mercado de robotáxis, ainda há muitas barreiras regulatórias que a empresa de Musk precisa enfrentar. Integrantes de órgãos reguladores da Califórnia disseram que a Tesla ainda não havia solicitado as licenças necessárias para poder aceitar passageiros por viagens em veículos totalmente autônomos.

Para isso, as empresas precisam de uma série de autorizações do Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia (DMV) e da Comissão de Serviços Públicos da Califórnia (CPUC).

Até o momento, a Tesla obteve apenas a primeira de uma série de autorizações necessárias para lançar um serviço, e porta-vozes das agências disseram que a empresa não solicitou as autorizações adicionais necessárias nem para testar os veículos autônomos.

Enquanto isso, concorrentes como a Waymo, da Alphabet, já registrou cerca de 21 milhões de quilômetros (13 milhões de milhas) de testes e garantiu sete aprovações regulatórias ao longo de nove anos, antes de receber aprovação definitiva para cobrar passageiros por viagens em robotáxis autônomos, em 2023.

A Tesla registrou apenas 904 quilômetros (562 milhas) de testes na Califórnia desde 2016 e não relatou nenhuma milha de direção autônoma ao estado em seis anos, de acordo com os registros estaduais mais recentes.

Em outra ponta, a Uber também planeja entrar nesse mercado, a partir da aquisição de 3% das ações da Lucid, por US$ 300 milhões, no início de julho, além da compra garantida de 20 mil robotáxis autônomos, que começarão a ser produzidos a partir do segundo semestre de 2026.

Outros mercados citados por Musk poderiam se movimentar mais rapidamente do que na Califórnia. No Arizona, um porta-voz do Departamento de Transportes do estado disse que a Tesla contatou autoridades estaduais no mês passado e solicitou licenças para testar e operar veículos autônomos com e sem motorista de segurança. A decisão é esperada para os próximos dias.