No momento em que sofre pressões contra seu plano de reestruturação, o Grupo Toky fechou um acordo com a SPX em que conseguirá reduzir sua alavancagem financeira e ter o apoio da gestora de Rogério Xavier contra uma proposta que vem sendo articulada pela Buriti, um acionista relevante que tenta destituir o atual conselho de administração.

A companhia, fruto da fusão entre Mobly e Tok&Stok, informou nesta segunda-feira, 29 de dezembro, que chegou a um acordo com a SPX para que a gestora, dona de 13,1% da empresa, não converta as debêntures que possui com base no valor do aumento de capital aprovado no dia 14 de novembro, de R$ 1.

Ao mesmo tempo, ficou acertado que a SPX poderá transferir até R$ 60 milhões, de um total de R$ 153 milhões, das debêntures que possui a terceiros e que a gestora não venderá as ações da Toky que receber da conversão.

O acerto possui dois objetivos. O primeiro é manter o que foi acertado no plano de recuperação extrajudicial homologado pela Toky, em novembro de 2024, relativo a dívidas da Tok&Stok.

Na ocasião, ficou definido que a dívida seria transformada em debêntures conversíveis em ações da Toky ao preço de R$ 9 mais correção pelo CDI + 2%, com conversão forçada pela companhia somente no fim de 2034.

Ficou também estabelecido que se houvesse um aumento de capital nos próximos dez anos num valor abaixo de R$ 9, a SPX poderia converter suas debêntures no valor. Esse trigger foi disparado em novembro, quando a Toky fechou um acordo com a Domus Aurea Serviços de Tecnologia, outro credor da Tok&Stok, em que conseguiu um haircut de 66% da dívida.

Na negociação, a Toky propôs a conversão de 99% das debêntures a R$ 9 sem a perda do direito de pedir a conversão ao valor menor de um aumento de capital

Ao NeoFeed, Victor Noda, CEO da Toky, diz que a medida permite aliviar o endividamento da companhia e vai destrava valor aos acionistas.

“Com esse movimento, consigo tirar tanto os R$ 70 milhões da Domus quanto aos R$ 150 milhões da SPX, e se houver um aumento de capital, emito mais ações para ajustar o que seria o preço médio de conversão que eles sempre tiveram direito”, afirma.

Ele destaca que a companhia já conseguiu, nos últimos dois meses, tirar cerca de R$ 227 milhões de endividamento da Toky. Ao fim do terceiro trimestre, a dívida da companhia estava na casa dos R$ 682,5 milhões.

Com esse acordo com a SPX, envolvendo a venda de parte das debêntures a fundos e a conversão do restante, que ocorrerá a R$ 10,50, a Toky conseguirá um haircut de cerca de 55% no valor da dívida que possui com a gestora. “Esse acordo fez com que reduzíssemos imediatamente R$ 153 milhões de dívida, senão isso ia ficar preso até 2035”, afirma Noda.

No caso dos outros dois itens acertados – a limitação de transferência e a manutenção das ações da Toky –, as medidas foram interpretadas por pessoas ouvidas pelo NeoFeed como uma forma da companhia se defender da ofensiva da Buriti Investimentos, que conta com uma participação de 7,96% da companhia, segundo o mais recente formulário de referência da companhia. Noda não quis comentar sobre este assunto.

A movimentação ficou clara na semana passada. A Toky informou ter recebido, em 19 de dezembro, uma solicitação do Fundo Piemonte, gerido pela Buriti, para convocação de assembleia de acionistas para deliberar sobre a destituição do conselho de administração, bem como a eleição de novos membros para o board.

O comunicado não informa os motivos que levaram a Buriti a pedir a convocação, mas segundo o site Pipeline, que teve acesso à carta da gestora, a justificativa é de que a companhia tem falhado na condução da reestruturação. O fundo destaca ainda problemas na parte de governança.

A Buriti entrou na base acionária da Toky depois da saída da varejista alemã Home24, acionista de referência da empresa até julho, com 45% do capital social.

A gestora esteve recentemente no noticiário, no âmbito da Operação Carbono Oculto, conduzida pela Polícia Federal (PF), que investiga fraudes no setor de combustíveis e uso de fundos para lavagem de dinheiro. A gestora negou qualquer envolvimento no esquema.

Fontes ouvidas pelo NeoFeed disseram que a intenção da Buriti é ser “mais agressiva” na negociação com os bancos, incluindo a possibilidade de entrar com um pedido de recuperação judicial.

Com as restrições à venda das debêntures e das ações, a avaliação é de que as medidas trazem estabilidade para a Toky, com a SPX sinalizando que apoia o plano de reestruturação que está sendo tocado pela atual administração.

Uma das fontes ouvidas sob condição de anonimato informou que as debêntures liberadas para a venda devem parar nas mãos de fundos que apoiam as conversas de reestruturação sendo tocadas pela Toky com os bancos.

“A SPX, os fundadores e os fundos para quem a SPX vai vender terão uma participação combinada relevante suficiente para que a Buriti não faça o que quer fazer, porque entendem que esse caminho da Buriti não é o correto”, diz.

Procurada pelo NeoFeed, a Buriti Investimentos não retornou o pedido de posicionamento.

Por volta das 13h01, as ações da Toky caíam 15,8%, a R$ 0,80. No ano, os papéis acumulam baixa de 19,2%, levando o valor de mercado a R$ 118,5 milhões.