Uma “história única” no mercado brasileiro de software, com capítulos que incluem a liderança “ainda incontestável” nos sistemas de gestão (ERP), além da promessa de próximos episódios favoráveis, que podem ser escritos por meio de negócios emergentes e vendas cruzadas em seu ecossistema.
É com essa visão que o Goldman Sachs está iniciando a cobertura da Totvs. Apesar dessa perspectiva, a princípio, positiva, o banco americano começa essa trama com recomendação neutra e um preço-alvo de R$ 33 para a ação, um upside de 11,4% sobre a cotação atual do papel.
“Nos níveis atuais de valuation, acreditamos que um upside relevante para as estimativas de consenso exigiria cenários em que as iniciativas de longo prazo de materializem e acreditamos que tais iniciativas ainda carregam uma incerteza significativa em termos de execução e cronograma, apesar de premissas estratégicas muito sólidas”, escrevem os analistas Vitor Tomita e Milenna Okamura.
Como ponto de partida, a dupla aponta que o forte crescimento da Totvs entre 2021 e 2023 foi apoiado por fatores como a penetração incremental do mercado de ERP, o que foi impulsionado pela capacidade diferenciada de distribuição e pelas vendas cruzadas no portfólio em expansão da empresa.
Os analistas também entendem que esse avanço foi sustentado por fusões e aquisições direcionadas e que as perspectivas são de que esses fundamentos sigam movendo os ponteiros para a companhia em seu negócio principal de softwares de gestão, que responde por 88% de sua receita.
“Embora esse segmento de negócios seja visto frequentemente como um mercado relativamente maduro, a Totvs tem sido capaz de entregar um crescimento forte e consistente”, observa um dos trechos do relatório.
Para justificar essa expectativa favorável, o Goldman Sachs cita questões como o fato de o mercado brasileiro de ERP ainda ser subpenetrado, especialmente entre os clientes de pequeno e médio porte (PMEs), foco histórico de atuação da Totvs, na contramão de gigantes globais como SAP e Oracle.
Ao mesmo tempo, o banco recorre a pesquisas da consultoria IDC que projetam uma maior migração dos gastos de tecnologia para o segmento de softwares no Brasil. O que, por sua vez, pode trazer novas oportunidades para a empresa.
“À medida que a complexidade das pilhas de software das empresas aumenta, os ERPs podem se tornar cada vez mais cruciais para a integração e o portfólio de gestão da Totvs adicionou uma série de soluções adjacentes ao ERP nos últimos anos”, afirmam os analistas, que também destacam o avanço da empresa em frentes como a contratação via assinaturas, no modelo de software como serviço.
Nesse cenário, o relatório destaca que a Totvs divulga ter atualmente uma participação de mercado de cerca de 15% em um segmento que vai além dos ERPs. Levando-se em conta apenas esse espaço, a fatia da companhia varia, de acordo com as consultorias, entre 30% e 50%.
“Isso sugere que a participação em soluções adjacentes a ERPs ainda está significativamente atrás de sua participação de mercado em ERPs, apoiando o foco estratégico da empresa em impulsionar os esforços de vendas cruzadas dentro de sua base de ERP existente”, ressalta o Goldman Sachs.
Entre as linhas mais recentes que poderiam levar a atualizações da ação, o banco destaca, em especial, a Totvs Techfin, braço de produtos e serviços financeiros como uma grande oportunidade para um alta significativa, em função de fatores como a ainda baixa penetração de serviços financeiros entre as PMEs.
A ampla presença da Totvs nesse perfil de cliente combinada com a joint venture firmada em 2022 com o Itaú Unibanco para turbinar esse braço de fintech reforçam a visão favorável do Goldman Sachs sobre esse negócio.
“A Totvs Techfin poderia combinar os dados exclusivos da Totvs e a distribuição com a modelagem de crédito e o financiamento barato do Itaú Unibanco para lidar com um mercado mal atendido com um custo de aquisição de cliente e um risco de crédito mais baixos que outros players”, dizem os analistas.
A dupla faz, porém, a ressalva de que essa frente tem uma execução não trivial, dado que a necessária coordenação entre a Totvs e o Itaú adiciona riscos e limita a visibilidade sobre o prazo que essa operação pode levar para ter mais relevância no mix de receita da Totvs.
Algumas ressalvas
“Em nossa opinião, a principal dificuldade em ofertas de vendas cruzadas (incluindo serviços financeiros) para a base de clientes da TOTS pode ser treinar e incentivar a ampla rede de distribuição da empresa a vender ofertas que podem ser radicalmente diferentes de ERPs”, pontuam os analistas.
A segunda nova frente de negócio avaliada pelo Goldman Sachs é a de Business Performance, que oferece produtos e serviços para ampliar as vendas e aprimorar o relacionamento com os clientes. E que começou a ganhar corpo em março de 2021, a partir da compra da RD Station, por R$ 1,8 bilhão.
Nessa área, o banco destaca a evolução do portfólio e uma carteira estimada em 36 mil clientes, em sua maioria, menores que o perfil habitual atendido pela Totvs, com uma participação de mercado de 33%. Além das aquisições, das parcerias estratégicas e da expansão orgânica do negócio desde 2021.
“Esse segmento, embora ainda seja uma porcentagem relativamente menor da receita consolidada e do Ebitda, tem apresentado taxas de crescimento mais fortes do que o ERP, e vemos espaço para que esse desempenho superior continue nos próximos anos”, observa outro trecho do relatório.
Aqui, porém, o banco americano aponta novamente que a execução dos planos não é fácil de ser colocada em prática, especialmente pelo fato de envolver a rede de vendas tradicional da Totvs e produtos muito diferentes na comparação com o portfólio comercializado habitualmente por esses parceiros.
As ações da Totvs estavam sendo negociadas com queda de 3,65% por volta das 14h30 na B3, cotadas a R$ 28,61. Em 2024, o papel TOTS3 recuam 15,1% e a empresa está avaliada em R$ 17 bilhões.