O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece ter gostado da ideia de se tornar acionista de empresas, rompendo com a tradição do Partido Republicano de não interferir no setor privado.
Dias após adquirir uma fatia de 10% na Intel, o governo americano avalia repetir a estratégia na indústria de defesa, com participação em companhias como a Lockheed Martin.
Em entrevista ao canal CNBC na terça-feira, 26 de agosto, ao ser questionado sobre possíveis novos movimentos do tipo, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, afirmou que o Departamento de Defesa estuda assumir posições em fabricantes de armamentos.
“Ah, há uma discussão monstruosa sobre defesa”, declarou. “Vamos deixar isso para o meu secretário de Defesa e o vice-secretário de Defesa. Eles estão em cima disso e estão pensando a respeito.”
Lutnick citou a Lockheed Martin como exemplo, destacando o peso das compras estatais nos resultados da empresa — dados regulatórios indicam que 73% da receita do ano passado, de US$ 71 bilhões, veio de contratos governamentais.
Por volta das 16h09, as ações da Lockheed Martin subiam 1,55%, a US$ 454,67. No ano, os papéis acumulam queda de 5,72%, levando o valor de mercado da companhia a US$ 106,1 bilhões. “Eles [Lockheed Martin] são basicamente um braço do governo dos Estados Unidos”, afirmou.
Caso se concretize, esse movimento evidencia como o governo Trump busca ampliar sua influência sobre a economia privada, algo que começou com pressões para que empresas americanas investissem mais no país.
A estratégia já apresentou alguns resultados, como no caso da Apple, que prometeu investir US$ 100 bilhões nos Estados Unidos após repetidas críticas de Trump sobre a fabricação de iPhones na China.
O acordo com a Intel elevou essa abordagem a outro patamar, com a compra de participação na fabricante de microprocessadores. O anúncio, feito na sexta-feira, 22 de agosto, envolveu recursos que a empresa receberia do governo — até então previstos como subsídio na gestão de Joe Biden. Em vez de um simples repasse, o governo passou a deter uma fatia da companhia.
A intervenção de Trump no setor privado também ocorre por meio do uso da máquina estatal, com ameaças de restrições e sanções. Foi o que aconteceu com a Nvidia e a AMD. Para liberar a exportação de chips para a China, Trump exigiu uma porcentagem sobre as vendas. As empresas concordaram em repassar 15% ao governo americano.
No caso da Intel, houve também ameaças. Trump chegou a exigir a substituição do CEO da empresa, Lip-Bu Tan, que assumiu o cargo em março, por supostos vínculos com a China.
Segundo Kevin Hassett, assessor econômico da Casa Branca, a participação na Intel faz parte da estratégia do governo de criar um fundo soberano, composto por fatias em empresas.
Embora a compra de participação em empresas seja vista como controversa, inclusive por membros do Partido Republicano, Trump sinaliza que pretende manter a estratégia de intervenção no setor privado.
O presidente dos Estados Unidos escreveu em sua conta na rede social Truth Social que fará acordos semelhantes ao da Intel “o dia todo”.