As medidas adotadas pelo presidente americano Donald Trump para reverter a política verde elaborada pelo seu antecessor na Casa Branca, Joe Biden, atingiram em cheio o mercado de veículos elétricos (VEs) nos EUA, que sempre teve dificuldade em acompanhar o crescimento em países europeus e asiáticos.
Desde sua posse, Trump anunciou a reversão de subsídios, cortes em créditos fiscais e a interrupção de projetos de energia limpa que podem chegar a US$ 300 bilhões, com impactos significativos em diversos setores, como energia renovável, transporte elétrico, infraestrutura verde e tecnologia limpa.
Esta semana, terminou o prazo para os americanos usarem o crédito tributário federal de US$ 7,5 mil oferecido pelo governo Biden na compra de carros elétricos. Com isso, as vendas de VEs, que atingiram o pico de 410 mil no trimestre recém-concluído, um aumento de 21% em relação ao ano anterior, devem cair 25%, para 300 mil, no novo trimestre.
Isso ocorre justamente quando começava a dar resultado a estratégia do governo anterior de incentivar a criação de pontos de carregamento rápido de baterias – um dos gargalos para a venda de VEs nos EUA, um país de dimensão continental, mas com poucas opções de recarregamento de VEs em estradas e cidades.
O número de portas de carregamento rápido nos EUA aumentou mais de 80% em dois anos, chegando a mais de 60,3 mil em agosto.
Resignadas, as montadoras que atuam nos EUA não escondem a frustração com o fim do incentivo fiscal de US$ 7,5 mil. As vendas de veículos elétricos foram avassaladoras no último mês do crédito tributário, impulsionadas por acordos que, em algumas partes do país, permitiram que os clientes adquirissem um veículo elétrico pagando apenas US$ 39 por mês de prestação.
Os modelos elétricos representaram cerca de 12,2% das vendas no varejo em setembro, um aumento de 2,6 pontos percentuais em relação ao ano anterior – uma participação recorde, de acordo com a JD Power, uma empresa de pesquisa do setor.
Animadas com os resultados, General Motors, Ford e Hyundai planejam continuar oferecendo incentivos para vendas de carros movidos a bateria. As vendas de veículos elétricos da Hyundai, por exemplo, dobraram em setembro, com a empresa relatando um aumento de 14% nas vendas totais.
A GM anunciou na quarta-feira, 1º de outubro, que 2025 está a caminho de ser seu ano de maior venda em uma década, com aumento de 10% até setembro em relação ao ano anterior. As vendas da GM no terceiro trimestre foram impulsionadas por um número recorde de veículos elétricos, 66,5 mil, à medida que os consumidores correram para garantir o crédito tributário.
As vendas da Ford também aumentaram 8% no terceiro trimestre, ajudadas pelos recordes de seus veículos elétricos e híbridos.
Ladeira abaixo
Mesmo assim, o CEO da Ford, Jim Farley, acredita que a participação de mercado de veículos elétricos cairá em mais da metade, para entre 4% e 5% das vendas totais até o final do ano. “Esperamos uma queda bastante acentuada”, advertiu.
Christian Meunier, presidente da região das Américas da Nissan, disse que o mês de outubro deve ser o pior mercado em anos para veículos elétricos. “Os fabricantes terão que abandonar o mercado de carros porque não haverá demanda.”
A tendência de queda de vendas é inevitável porque, diferentemente dos mercados europeu e asiático de veículos elétricos, o americano sempre esbarrou nos altos preços de tabela, mesmo considerando o crédito fiscal. O veículo elétrico médio foi vendido por cerca de US$ 57 mil em agosto, US$ 9 mil a mais do que um modelo equivalente movido a gasolina.
Para complicar o cenário, as montadoras ainda têm cerca de 134 mil veículos elétricos novos não vendidos em estoque. No ritmo atual de vendas, isso significa que precisarão de dois meses para vender os veículos elétricos que acumulam poeira nas concessionárias.
A queda das vendas de VEs ocorre justamente quando o negócio de carregamento de carros movidos a bateria, há anos em dificuldades, atinge um amadurecimento após uma onda de construções que durou dois anos.
O número de portas de carregamento rápido — aquelas que podem recarregar uma bateria em 20 minutos a uma hora — adicionou mais de 7 mil unidades no primeiro semestre do ano, um aumento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em quatro anos, a quantidade de pontos de carregamento rápido triplicou. Antes, a maioria era compatível apenas com veículos da Tesla. Com o fim do estímulo para a compra de carros elétricos, a tendência é sobrar pontos de carregamento e faltar VEs para usá-los.