Os robotáxis autônomos da Tesla não passaram em seu primeiro teste. Nesta sexta-feira, 11 de outubro, um dia depois de a empresa do bilionário Elon Musk apresentar dois protótipos ao mercado, as ações da companhia desabaram e fecharam o pregão em queda de 8,78%, cotadas a US$ 217,80.

Ao entregar menos que o esperado e ver seus papéis despencarem ladeira abaixo, a Tesla, avaliada em US$ 695,7 bilhões, involuntariamente deu um “empurrãozinho” a outras duas potenciais rivais nesse espaço. Na contramão da empresa, Uber e Lyft engataram um rali e encerraram o dia com ganhos substanciais.

As ações da Lyft tiveram alta de 9,59%, dando à empresa um valor de mercado de US$ 5,5 bilhões. Já os papéis da Uber foram ainda mais longe, ao registrarem um salto de 10,81%, cotados a US$ 86,34, a máxima histórica da companhia, que fechou as negociações avaliada em US$ 181,3 bilhões.

O caminho para esses sinais invertidos no mercado de capitais teve como ponto de partida o fato de Musk, em uma apresentação de menos de 30 minutos, não ter trazido mais detalhes sobre os planos da Tesla na categoria.

O bilionário também não deu detalhes a respeito do modelo de negócio a ser adotado para os robotáxis. Em particular, sobre eventuais planos de lançar um serviço que poderia competir justamente com a oferta de aplicativos como Uber e Lyft.

“Nós consideramos que o evento trouxe o melhor resultado possível para a Uber”, escreveu, em relatório, John Colantuoni, analista da Jefferies, segundo informações publicadas pela agência Bloomberg.

Colantuoni chamou o robotáxi da Tesla de “desdentado”, ao ressaltar que a empresa não forneceu informações e evidências de progresso em direção aos recursos de direção autônoma, nem quantificou quantos veículos planeja produzir.

Entre as poucas informações fornecidas que colocaram em xeque a capacidade da Tesla de sair na dianteira do segmento, Musk disse que a produção pode ter início em 2026 e que os modelos podem custar menos de US$ 30 mil. O bilionário alertou, porém, que tende a ser “excessivamente otimista”.

Musk tem, de fato, um histórico que comprova esse traço da sua personalidade. Ele já havia dito que as viagens 100% autônomas de Los Angeles a Nova York estariam disponíveis até o fim de 2017. Já em 2019, ele previu que a companhia teria mais de 1 milhão de robotáxis “nas ruas” a partir de 2020.

Ao que tudo indica, além dessas questões, a expectativa criada em torno do projeto só reforçou a decepção. O “dia do robotáxi” havia sido anunciado em 5 de abril e, desde essa data até ontem à noite, as ações da Tesla tiveram alta de 45%. Nesse meio tempo, a empresa adiou o evento duas vezes.

Em contrapartida, com uma visão mais pé no chão, a Uber parece ter encontrado um roteiro mais adequado às expectativas do mercado. Nesta semana, Dara Khosrowshahi, CEO da empresa, disse que não vê os robotáxis ocupando uma fatia expressiva da frota da companhia por anos.

Durante sua participação no podcast Green’s Zero, da Bloomberg, o executivo ressaltou que ainda é preciso avançar na tecnologia, além do fato de os reguladores estarem cautelosos e os custos estarem longe de serem competitivos.

“A segurança é a prioridade número um”, afirmou Khosrowshahi. “Então, eu diria que nos próximos três a sete anos, começaremos a focar na economia.”

Quem parece concordar com o executivo e seguir na mesma direção é o Bank of America (BofA). Em relatório, o banco ressaltou que o evento Robotáxi, de “20 minutos”, acabou com os “seis meses” de preocupações da Uber.

“Embora os investidores possam ver pouca mudança na concorrência potencial da Tesla no longo prazo, sabíamos que um protótipo estava chegando e o evento durou apenas 19 minutos, com menos detalhes concretos e cronogramas do que temíamos para a Uber”, ressaltou o BofA.

Para os analistas do banco americano, o evento também pode ser visto como um sinal positivo para a Waymo, operação de carros autônomos da Alphabet, no curto prazo, dado que a empresa vai lançar o serviço em parceria com a Uber em duas cidades no primeiro semestre de 2025.

“No longo prazo, esperamos que a concorrência crescente entre a Waymo e a Tesla e outros 30 competidores beneficie a Uber, dada sua posição como parceira de vários provedores de veículos autônomos”, escreveram os analistas, que reiteraram a recomendação de compra, com preço-alvo de US$ 88 para a ação da Uber.