Homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 206 bilhões, Elon Musk acumula outro “patrimônio”: 108 milhões de seguidores no Twitter, ávidos por cada postagem do bilionário que, por sua vez, sabe exatamente como capitalizar essa influência para reforçar ainda mais sua conta bancária.

Essa faceta voltou a aparecer nesta semana, acompanhada de boas doses de humor e ironia, dois ingredientes que, volta e meia, marcam as publicações do empresário à frente de negócios como a Tesla e a SpaceX e que só reforçam sua vocação para vender absolutamente qualquer coisa.

Depois da expectativa criada em uma série de tweets, Musk anunciou na noite da terça-feira, 11 de outubro, sua mais nova empreitada, o perfume masculino Burnt Hair (cabelo queimado), que passou a ser vendido no site da The Boring Company, outra empresa da lavra do bilionário, por US$ 100 o frasco.

“Com um nome como o meu, entrar no ramo de fragrâncias era inevitável – por que eu lutei contra isso por tanto tempo!?”, brincou Musk, cujo sobrenome significa almíscar, essência bastante conhecida na indústria de perfumes.

Como parte da nova investida, ele mudou a descrição do seu perfil no Twitter para “vendedor de perfume”. Já na página da The Boring Company, uma das assinaturas usadas para definir o produto foi “a essência do desejo repugnante”.

Piada ou não, o fato é que a audiência de Musk não ficou indiferente ao perfume. Em nova postagem, seis horas depois do anúncio, ele destacou que a fragrância já havia alcançado a marca de 10 mil unidades vendidas. Ou seja, um total de US$ 1 milhão.

Essa não foi a primeira vez que o bilionário usou seu status para anunciar produtos aparentemente desconexos com seus outros investimentos e cujos lançamentos tinham um bom tom de brincadeira ou mesmo de provocação a seus detratores e críticos. A lista inclui itens como lança-chamas, prancha de surf, apitos, tequila e até mesmo um short vermelho de cetim.

Da mesma forma, Musk acumula outras histórias que mostram todo o seu alcance e poder de persuasão. Em janeiro de 2021, por exemplo, ele publicou apenas a palavra #bitcoin em sua bio no Twitter. A postagem foi o sinal para que a criptomoeda valorizasse 20%, novamente, em poucas horas. Na época, o empresário tinha 44 milhões de seguidores, menos que a metade do que detém atualmente.

Em outro caso no início de 2021, esse mais bizarro, Musk incentivou seus seguidores a usarem o aplicativo de mensagens criptografadas Signal. Muitos investidores atenderam o “chamado”, mas se enganaram e acabaram fazendo com que as ações de uma pequena fabricante de equipamentos médicos – de mesmo nome – passassem de apenas US$ 0,60 para US$ 70,85.

O Burnt Hair está sendo vendido por US$ 100

Em contrapartida, o mercado de capitais também traz exemplos de que nem mesmo a lábia e a influência de Musk conseguem convencer, em qualquer oportunidade, os investidores. E a Tesla, a grande vedete no portfólio do empresário, ilustra bem esse cenário.

A companhia de carros elétricos vem despertando a desconfiança de Wall Street depois de anunciar, no início deste mês, projeções abaixo do esperado em sua operação para o terceiro trimestre. No período, a companhia informou ter alcançado um volume de entregas de 343,8 mil veículos.

O número veio aquém das estimativas de analistas que apontavam para 360 mil unidades e colocaram em xeque os resultados consolidados que serão divulgados pela empresa e também o alcance da meta de entregar um crescimento de 50% nas vendas em 2022.

A Tesla já estava sob os holofotes desde que perdeu a liderança global do segmento no primeiro semestre para a chinesa BYD, fabricante que tem entre seus investidores o também bilionário Warren Buffett. Entre janeiro e junho, a empresa vendeu 641 mil veículos, contra 564 mil carros da companhia americana, que enfrentou diversos problemas com falta de peças e interrupção das vendas na China.

Depois de idas e vindas e uma série de imbróglios, a decisão de Musk de retomar a compra do Twitter, em seus termos originais, no valor de US$ 44 bilhões, também vem afetando a percepção dos investidores sobre as perspectivas da Tesla.

Além de uma possível distração do empresário com o acordo, outra questão que chama atenção do mercado é o fato de que, no início de 2022, Musk vendeu mais de US$ 15 bilhões em ações da Tesla para financiar uma eventual compra do Twitter.

Nesse cenário, as ações da Tesla, que está avaliada em US$ 701 bilhões, acumulam uma desvalorização superior a 38% em 2022. Nessa quarta-feira, os papéis encerraram o pregão na Nasdaq com ligeira alta de 0,34%.