Em um contraponto à fuga intensa de investimentos estrangeiros desde o início da crise do novo coronavírus, os mercados emergentes voltaram a ser um destino bastante procurado para esses aportes. E não se trata de um simples retorno.
Segundo dados do Instituto Internacional de Finanças (IFF), a pedido do jornal britânico Financial Times, neste trimestre, os investidores estrangeiros injetaram recursos nesses países no ritmo mais acelerado dos últimos sete anos, compensando assim o êxodo observado nos primeiros meses da pandemia.
De acordo com o IFF, os investimentos externos nessas fronteiras alcançaram o patamar de US$ 145 bilhões apenas em novembro. Desse total, foram aportados cerca de US$ 37 bilhões em dívidas de mercados emergentes e US$ 40 bilhões em ações.
O instituto mostra ainda que, em março, com o início do avanço do vírus, mais de US$ 95 bilhões deixaram os mercados de ações e bônus nesses países. Já nos primeiros quatro meses da crise, essas cifras chegaram a um total de US$ 234 bilhões.
“Em geral, agora, a fuga de capital dos mercados emergentes ficou no retrovisor”, afirmou Jonathan Fortun Vargas, economista do instituto à reportagem do Financial Times. “E as entradas robustas devem continuar”, completou.
Vagas ressaltou que o fluxo de investimentos foi o mais forte desde o primeiro trimestre de 2013, quando os investidores saíram em massa dos mercados emergentes, sob a perspectiva de redução dos incentivos da política monetária adotados, na época, pelo Federal Reserve.
Em 2020, por sua vez, o estímulo agressivo do Fed e de outros bancos centrais de países desenvolvidos impulsionaram os ativos financeiros em todo o mundo. Juntos, eles injetaram cerca de US$ 7,5 trilhões nos mercados financeiros globais durante a crise, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nos mercados emergentes, as ações responderam lentamente a esses estímulos, com os fluxos internacionais tornando-se positivos somente nos últimos dois meses, destacou a IFF. A recuperação mais vigorosa veio no mercado de dívida, à medida que os investidores estão buscando retornos com as taxas de juros nas economias avançadas em níveis recordes de baixa.
A expectativa é de que essas cifras sigam fluindo para os mercados de capitais em 2021, com muitos analistas prevendo um ano extremamente positivo para a captação de recursos. Eles destacam avaliações atraentes para as ações em mercados emergentes, tanto historicamente quanto em relação aos papéis dos países desenvolvidos.
Outro ponto é a melhora do cenário econômico com a perspectiva da chegada antecipada de vacinas contra a Covid-19, além de políticas monetárias de apoio em todo o mundo.
“Os mercados emergentes começaram a apresentar um desempenho superior”, afirmou Christopher White, gestor de fundos de ações da Somersete Capital Management. “Há boas razões para acreditar que isso continuará e que 2021 pode ser um ano muito positivo para esses mercados.”
Para Jacob Grapengiesser, sócio da East Capital, China e Índia irão se destacar em termos de crescimento econômico em 2021. Ao mesmo tempo em que uma esperada retomada do turismo pode beneficiar, em particular, países como Turquia, Grécia, Tailândia e Malásia.
Já a alta dos preços do petróleo pode ser positiva para o Brasil e a Rússia, que registraram um desempenho drasticamente inferior nesse ano, acrescentou Grapengiesser. No acumulado do ano, seus mercados de ações caíram 21% e 18%, em comparação a um ganho geral de mais de 14% nos papéis dos mercados emergentes, segundo a empresa MSCI.
Na contramão desse otimismo, outros analistas alertam que as perspectivas econômicas seguem difíceis e que muitos governos e empresas nesses países terão dificuldade para investir em crescimento produtivo. E acrescentam que a alta gerada pelo dinheiro abundante em busca de investimentos e pelo otimismo com o fim da pandemia pode perder fôlego.
“A China está se recuperando e as pessoas extrapolam isso para o resto dos mercados emergentes. A realidade, porém, irá se impor definitivamente no ano que vem”, disse Omotunde Lawal, diretora de mercados emergentes da Barings. “As pessoas acreditarão que o crescimento é sequencialmente maior porque está vindo de uma base baixa. Mas a realidade é que não haverá um retorno ao normal.”
Já Rahul Ghosh, vice-presidente sênior da Moody's, disse que o impacto fiscal da Covid-19 será sentido por vários anos, com as receitas do governo nos mercados emergentes caindo o equivalente a 2,1% do PIB desse ano, mais que o dobro da queda nas economias avançadas.
“Os aportes não serão tão significativos no mix fiscal quanto eram no passado”, observou Ghosh. “Portanto, a capacidade dos governos de gerar crescimento será contida.”
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