A invasão das montadoras chinesas, como a BYD e GWM, tem mexido com a dinâmica dos mercados globais. Depois de medidas restritivas impostas pelos Estados Unidos, a União Europeia aprovou na sexta-feira, 4 de outubro, novas alíquotas de importação de até 45% para carros elétricos produzidos na China, a serem aplicadas pelos próximos cinco anos.

A aprovação para seguir nessa direção veio em votação realizada na sexta-feira, 4 de outubro, quando a União Europeia informou que obteve o apoio necessário de seus estados-membros, segundo informou o The Wall Street Journal.

Pelas regras do bloco, o único impeditivo para que a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, aplicasse as tarifas teria sido o voto contrário de uma maioria qualificada de 15 países que representam 65% da população da região, o que não aconteceu.

Os impostos anunciados variam de 7,8% a 35,3%, dependendo da montadora. E se somam ao imposto padrão de 10% já praticado pela União Europeia para todos os carros importados pelo bloco.

A decisão de estabelecer tais tarifas aos carros chineses teve origem em uma investigação iniciada em outubro de 2023, cujos resultados preliminares trouxeram a percepção de que a cadeia das montadoras chinesas se beneficia de “subsídios injustos” e representa uma ameaça às montadoras europeias.

Entre outros dados que embasaram essa avaliação na época, o órgão ressaltou que a participação de mercado das marcas chinesas no Velho Continente saiu de menos de 1%, em 2019, para um patamar atual de 8%. E estimou ainda que essa fatia pode chegar a 15% em 2025.

Em outros indicadores divulgados hoje, a Comissão informou que a parcela de carros elétricos chineses importados na União Europeia foi de 27,2% no segundo trimestre de 2024, contra o índice de 3,5% em 2020.

A partir desses dados, a Comissão informou em junho deste ano que havia contatado as autoridades chinesas para explorar formas de resolver a situação. E disse que poderia taxar os carros chineses em até 38,1%, além do imposto já em vigor de 10%.

A resposta não tardou. Na oportunidade, a Câmara de Comércio da China na União Europeia ressaltou “choque, séria decepção e profunda insatisfação” com as medidas, que reforçariam um pacote já crítico para as montadoras do país em outras geografias.

Em paralelo aos rumos dessa questão na União Europeia, os EUA já haviam ampliado as alíquotas de importação para veículos elétricos chineses de 25% para 100%. Esse mesmo patamar foi adotado posteriormente pelo Canadá.

No caso da União Europeia, o direcionamento alimentou o receio de algumas montadoras do bloco de sofrerem retaliações das autoridades chinesas em suas operações no país asiático. Em especial, empresas alemãs como a BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen, que mantém joint ventures na China.

Na época, a Volkswagen observou que os “efeitos negativos” das tarifas superariam quais benefícios para a indústria automotiva europeia e, especialmente, a alemã. A montadora voltou a se manifestar nessa sexta-feira, após o anúncio da União Europeia.

“As tarifas propostas são a abordagem errada”, ressaltou a empresa em um comunicado. Segundo a agência France Presse, na nota, a Volkswagen reforçou que a introdução das novas taxas não melhora a competitividade da indústria automobilística.

Em meio a esse imbróglio, autoridades chinesas tiveram diversas reuniões com líderes europeus nas últimas semanas na tentativa de barrar o aumento. Embora não tenham sido bem-sucedidos nesse roteiro, a União Europeia pontuou que o anúncio de hoje não é necessariamente sua decisão final.

"A União Europeia e a China seguem trabalhando arduamente para explorar uma solução alternativa que precisa ser totalmente compatível com a Organização Mundial do Comércio e adequada para lidar com os subsídios prejudiciais identificados pela investigação”, afirmou, em nota, a Comissão Europeia.