Ao longo de 2025 e, com mais ênfase, a partir do segundo semestre, a Vale já vinha dando sinais de que estava recuperando a confiança dos investidores. Ao divulgar seu resultado consolidado do terceiro trimestre na noite da quinta-feira, 30 de outubro, trouxe mais argumentos para seguir nessa trajetória.
Nessa direção, a mineradora reportou US$ 2,68 bilhões na última linha do balanço. O montante representou um crescimento de 11% sobre o mesmo intervalo de 2024 e veio acima das estimativas do mercado, na faixa de R$ US$ 2,1 bilhões.
“Esse foi um trimestre em que praticamente tudo deu certo”, disse Marcelo Bacci, CFO da Vale, a jornalistas na tarde desta sexta-feira, 31 de outubro.
“Tivemos um bom desempenho operacional do ponto de vista de volume, uma melhoria de custo, com os preços subindo e os prêmios melhorando”, complementou.
Entre outros dados que traduzem essa perspectiva, a receita líquida avançou 9%, para US$ 10,42 bilhões, levemente superior à projeção de US$ 10,3 bilhões. Já o Ebitda ajustado de US$ 4,36 bilhões ficou 5% acima do consenso e representou um salto de 21% na comparação anual.
O fluxo de caixa livre teve alta de 337%, para US$ 2,56 bilhões. Parte desse forte avanço foi impulsionado pela venda da fatia de 70% da Aliança Energia, anunciada em abril, por cerca de US$ 1 bilhão, e que foi concluída no trimestre.
Mesmo sem esse efeito não-recorrente, o desempenho teria sido expressivo, dado que o saldo restante, de US$ 1,6 bilhão é bem superior à cifra reportada pela Vale em igual período, um ano antes, de R$ 587 milhões.
Em outros indicadores, as vendas de minério de ferro, cobre e níquel cresceram 5%, 20% e 6%, respectivamente. O preço médio realizado de finos de minério de ferro ficou em US$ 94,40 por tonelada, uma expansão de 4% em base anual.
Já os custos all-in do minério de ferro recuaram 4%, para US$ 52,90 por tonelada. O custo all-in do cobre, por sua vez, teve uma queda de 65%, para US$ 994 por tonelada. Enquanto o custo all-in do níquel foi 32% menor, de US$ 12.347 por tonelada.
A mineradora também destacou que a produção de minério de ferro alcançou seu maior nível trimestral desde 2018. Enquanto o cobre teve seu melhor resultado para um terceiro trimestre desde 2019.
No período, a Vale reportou uma dívida líquida expandida de US$ 16,6 bilhões, um crescimento anual de 1%, mas um recuo de 5% em relação ao segundo trimestre de 2025. A alavancagem foi de 0,8 vez, contra 0,5x divulgado no mesmo intervalo, um ano antes, e 0,9x entre abril e junho desse exercício.
A partir dos números do trimestre e da trajetória de retomada que vem sendo construída, Bacci foi questionado sobre uma declaração recente de Gustavo Pimentel, CEO da Vale, de que a companhia poderia retomar o posto de maior mineradora do mundo. E não titubeou.
“Do ponto de vista de volumes, estamos no caminho de fechar esse ano como a maior mineradora de ferro do mundo”, afirmou o CFO. “Existe uma chance muito grande disso acontecer, pois temos performado relativamente melhor que nossos pares.”
Ele observou que, obviamente, volume não é tudo. Mas acrescentou: “No negócio em que nós estamos, escala é muito relevante. Então, isso é algo simbólico para a Vale.”
Ao mesmo tempo em que, no entendimento do executivo, o desempenho da Vale tem sido melhor que o de seus pares, a empresa também parece querer se diferenciar de uma estratégia de crescimento que, cada vez mais, tem movimentado o setor: os M&As.
Um dos exemplos mais recentes nesse contexto foi anunciado em setembro e envolveu a fusão entre a britânica Anglo American e a canadense Teck Resources, que criou uma gigante com valor de mercado de mais de US$ 53 bilhões.
“A nossa diferença em relação a esses casos é que nós temos uma alternativa de crescimento orgânico nas regiões em que já estamos presentes em direitos minerários que já são de nossa posse”, disse Bacci. “As empresas que estão se movimentando com M&As não têm essa opção.”
Ele ressaltou o foco em disciplina de alocação de capital dessa gestão e observou que, a princípio, a prioridade da Vale é seguir nessa via orgânica, dado que, a partir dos ativos que o grupo já tem dentro de casa, esse trajeto traria um Capex menor.
“Ao mesmo tempo, como está tendo muita concorrência por ativos, os múltiplos dessas transações também estão mais altos”, afirmou. “Então, na equação risco e retorno, a rentabilidade esperada para desenvolver os projetos organicamente é bem superior a qualquer M&A que olhamos até agora.”
Começa a fazer sentido?
Os números reportados foram a deixa para que o BTG Pactual elevasse a recomendação da Vale de neutra para compra. O banco adotou uma linha semelhante ao tom usado por Bacci em relatório que trouxe como destaque a frase “Quando tudo começa a fazer sentido”.
Nesse cenário, o BTG citou a forte recuperação recente do papel e, ao observar que os sinais positivos vieram de todos os lados, admitiu que poderia ter feito a revisão da perspectiva sobre a operação mais cedo neste ano.
“Apesar do risco de ser uma revisão tardia, acreditamos que o cenário para os próximos trimestres é favorável”, escreveu o time de analistas do BTG, que também elevaram o preço-alvo da ação, de R$ 65 para R$ 80.
O banco destacou, por exemplo, que a atual gestão parece ser a mais disciplinada em duas décadas, ao citar iniciativas como a redução no capex, de US$ 6,5 bilhões para cerca de US$ 5,5 bilhões, anunciada em setembro, sem alterar de forma relevante os projetos à frente. E acrescentou:
“Acreditamos que a Vale virou a página em relação às questões legadas (desafios institucionais, Brumadinho, Samarco, instabilidade operacional) e está recuperando a confiança dos investidores”, ressaltou o BTG, em outro trecho do relatório.
Com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 66, a XP também destacou a sequência da trajetória de avanços da Vale. Entre eles, outro sólido desempenho de custos e a redução de cerca de US$ 800 milhões na dívida líquida expandida na comparação com o segundo trimestre de 2025. Mas ressaltou:
“Embora reconheçamos esses desenvolvimentos positivos de baixo para cima e vejamos potencial para rendimentos de dividendos saudáveis no curto prazo, reiteramos nossa classificação Neutra, dada nossa perspectiva relativamente cautelosa em relação aos preços do minério de ferro no médio prazo”.
As ações da Vale estavam sendo negociadas com alta de 1,61% por volta das 14h15, cotadas a R$ 64,84, dando à empresa um valor de mercado de R$ 276,7 bilhões. Em 2025, os papéis registram uma valorização de 18,8%.