Durou pouco mais de 24 horas a proposta da empresa de energia Eneva unir sua operação com a Vibra por meio de uma troca de ações em que cada uma das empresas ficaria com 50% da companhia resultante da fusão.

Em fato relevante publicado no começo da noite de terça-feira, 28 de novembro, a Vibra disse não à possibilidade de criação de uma nova companhia. Ao menos, por enquanto.

Assinado pelo CFO Augusto Ribeiro Júnior, o comunicado começa dizendo que a Vibra está atenta a oportunidades de transações, mas que mantém "uma grande disciplina em termos de coerência estratégica e alocação de capital". Em seguida, a empresa enumera a geração de caixa e o crescimento alcançado neste ano.

Como o NeoFeed reportou, analistas de mercado estavam receosos com os riscos para o investidor minoritário com a fusão de Vibra e Eneva. O Goldman Sachs, por exemplo, afirmou que "sem fazer qualquer consideração das potenciais sinergias da transação, ela implicaria em uma diluição de cerca de 10% para os acionistas da Vibra".

Com esse contexto, o documento traz que "o Conselho de Administração analisou a proposta e acreditamos que a relação de troca indicada é injustificável. Fica evidente que os termos de troca propostos para a combinação pretendida pela Eneva não possuem qualquer atratividade para os acionistas da Vibra".

Sob a perspectiva operacional, a fusão fazia todo sentido. A proposta resultaria na criação da terceira maior companhia energética do País em valor de mercado, somando quase R$ 45 bilhões. A fusão de Eneva e Vibra criaria uma companhia com uma liquidez estimada em R$ 300 milhões ao dia e receita de mais de R$ 170 bilhões em 2024.

Eneva e Vibra têm um acionista em comum, a gestora Dynamo, que detém 10,7% da Eneva e 10,28% da Vibra. Do lado da Eneva, são acionistas relevantes o BTG Pactual (22,02%) e a Cambuhy, da família Moreira Salles (19,73%).

Na Vibra, as maiores participações estão com o empresário Ronaldo Cezar Coelho (8,58%), que também é um investidor relevante na Light, e a BlackRock (5,01%).

Mas a fusão não está totalmente descartada. O fato relevante da Vibra deixa em aberta a possibilidade de combinação de negócios. Neste momento, a empresa quer um maior esclarecimento sobre o modelo de governança corporativa pretendido com a fusão.

“Não entramos no mérito estratégico de uma possível fusão neste momento. Contudo, as potenciais sinergias indicadas na Proposta precisam ser aprofundadas e foram, em grande medida, baseadas na solidez da nossa própria estrutura de capital e base única de clientes.”

Com receita líquida de R$ 7,36 bilhões no acumulado dos nove primeiros meses de 2023, um crescimento de 93,2% sobre o mesmo período do ano passado, a Eneva está com uma alavancagem de 4,2 vezes a relação entre a dívida líquida sobre o Ebitda. A variação é de 100,7% sobre o ano anterior. E a dívida líquida chegou a R$ 16,1 bilhões.

Liderada por Ernesto Pousada, a Vibra reportou uma receita líquida consolidada de R$ 119,8 bilhões de janeiro a setembro de 2023, uma queda de 12,4% sobre o mesmo período de 2022. A alavancagem está nos menores níveis dos últimos anos: 1,9 vez a relação entre a dívida líquida sobre o Ebitda - endividamento de R$ 10,2 bilhões.

No pregão de terça-feira, 28, a ação da Eneva caiu 3,1%, aos R$ 12,35. O valor de mercado da companhia é de R$ 19,6 bilhões. O papel da Vibra fechou em alta de 0,8%, aos R$ 21,86; seu valor de mercado é de R$ 25,5 bilhões.