Na semana passada, no dia 11 de abril, a Viveo anunciou um pacote de aquisições com a Life, a Famap e a PHD. Os acordos somaram R$ 365,5 milhões. Mas não foram suficientes para esgotar o ímpeto da distribuidora e fabricante de produtos médicos no plano dos M&As.

Dando sequência a essa estratégia, a Viveo está anunciando – apenas oito dias depois e por um valor não revelado - a compra da Boxifarma, startup de Porto Alegre (RS) que oferece softwares e serviços nas áreas de gestão e de entregas de medicamentos a pacientes.

“Essa aquisição fortalece nosso braço para chegar mais próximo do paciente final”, diz Leonardo Byrro, CEO da Viveo, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “É onde vemos uma série de deficiências e oportunidades, na adesão aos tratamentos fora do ambiente hospitalar.”

Batizada de D2P (Direct to Patient) e parte da estratégia da Viveo para encorpar sua oferta de serviços, a plataforma em questão começou a ser construída dentro do ecossistema cada vez mais amplo da Viveo no fim de 2020, a partir de um investimento na startup mineira Far.me.

Na oferta atual, os usuários – em especial, pacientes crônicos, idosos ou em tratamento com diversas medicações – têm acesso a entregas de remédios em suas residências, além de recursos como a análise de interações medicamentosas e a solução de dúvidas por meio de uma central de relacionamento.

“Se consideramos apenas os medicamentos voltados a pacientes crônicos no Brasil, estamos falando de um mercado que movimenta anualmente cerca de R$ 16 bilhões”, afirma Byrro. “E cuja demanda só aumenta, em função da incidência de doenças crônicas e do envelhecimento da população.”

De olho nesse contexto e nessa cifra bilionária, a Viveo dá mais peso e escala à sua plataforma D2P com a aquisição da Boxifarma. Fundada em 2012 por Henri Chazan, que segue na operação, a startup tem atuação mais centrada no Rio Grande do Sul, junto clínicas e casas de repouso de idosos.

Em um modelo semelhante ao da Far.me, além das entregas, a empresa tem sistemas que usam algoritmos de inteligência artificial para identificar e avisar médicos e pacientes sobre o risco de interações medicamentosas nas prescrições.

Ao mesmo tempo, os softwares alertam sobre a necessidade de renovar o estoque de medicamentos ou de solicitar uma nova receita. Esses e outros recursos evitam que o tratamento seja interrompido e, por consequência, prejudique o paciente e traga mais custos ao sistema.

“A Boxifarma adiciona uma base relevante e recorrente de mais de 400 usuários mensais e em uma região onde ainda não estamos”, explica Byrro. “Além de trazer tecnologias que nós não tínhamos dentro de casa.”

Entre esses novos componentes está um maquinário que permite separar e rastrear os medicamentos de cada pacote direcionado aos usuários, de acordo com as respectivas prescrições, além de conferi-los com algoritmos de inteligência artificial.

Os equipamentos também imprimem etiquetas conforme a prescrição, a dosagem, os dias e horários de cada medicação. Com a solução, é possível ainda rastrear todo e qualquer produto entregue aos pacientes.

Outra novidade que a startup traz ao portfólio da Viveo é um software “beira-leito”. A partir da leitura de um QR Code, o sistema cria e emite alertas sobre a dosagem, o tempo de administração e os horários das medicações que devem ser ministradas a um determinado paciente.

Atualmente, com modelos que incluem formatos como assinaturas mensais, no valor de R$ 50, os serviços da Viveo podem ser contratados pelos usuários, por prestadores de serviços, como hospitais, ou por operadoras de planos de saúde. A Porto é uma das primeiras parceiras nesse último formato.

Com essa proposta, a Viveo, por meio da Far.me, atende mais de 2 mil pacientes por mês. O serviço está disponível em Belo Horizonte (MG), na capital paulista e em Ribeirão Preto (SP). Além de incorporar as praças atendidas pela Boxifarma, o grupo já prevê os próximos passos da expansão dessa oferta.

“Nos próximos meses, a prioridade é chegar a outras cidades relevantes do interior de São Paulo”, explica Byrro. “Depois, certamente vamos levar o serviço a outras capitais do Brasil.”

Embora não revele números específicos, o CEO ressalta que a plataforma D2P integra a oferta de serviços do grupo. Em alguns anos, a previsão é de que esse portfólio amplo de serviços represente cerca de 10% da receita total que, em 2021, foi de R$ 6,2 bilhões, alta de 40,9% sobre 2020.

Os M&As são um dos principais atalhos da Viveo para dar mais peso tanto à sua oferta de serviços como a outras linhas e marcas do seu portfólio. A compra da Boxifarma é a 5ª aquisição do grupo em 2022 e o 14º acordo desde que a empresa abriu capital, em agosto de 2021, e levantou R$ 1,9 bilhão.

A maior tacada dentro dessa lista de aquisições veio logo na sequência do IPO, com as compras da Profarma Specialty e da Cirúrgica Mafra, por R$ 900 milhões. No total, desde que tocou a campainha na B3, o grupo já aplicou mais de R$ 1,43 bilhão em sua estratégia de crescimento inorgânico. E vem mais por aí.

“Temos pelos menos cinco conversas em estágios avançados, em diversas frentes”, afirma Byrro. “E, dentro da nossa lógica de construir um ecossistema, todas as aquisições que fazemos se conversam.”

Ele diz que as tecnologias de separação da Boxifarma irão ajudar a reforçar, por exemplo, as ofertas de serviços em hospitais e clínicas. Esse componente também foi contemplado nas aquisições recentes da Life e da Famap, especializadas em serviços de manipulação de diálises e nutrição parenteral.

Em um mercado ainda extremamente fragmentado, a Viveo tem poucos rivais com a mesma proposta de construir uma operação com escala nacional e tentáculos em diversos elos da cadeia de saúde. Sob essa perspectiva, o principal concorrente é o grupo Elfa.

Fundada em 1989, em João Pessoa, a empresa foi comprada em 2014 pelo Pátria. E desde a entrada da gestora, também vem investindo fortemente em aquisições. A maior delas veio em outubro de 2021, com a compra da Descarpack, fornecedora de materiais hospitalares, por R$ 942 milhões.

Além da disputa por ativos com o grupo paraibano, a Viveo tem outros pontos de atenção no radar. Apesar de fechar o pregão desta terça-feira com ligeira alta de 0,57%, as ações da empresa, avaliada em R$ 4,58 bilhões, acumulam uma desvalorização de 15,2%, em 2022, e de 19,6%, desde o IPO.