As recentes mudanças nas regras do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que rege a concessão de benefícios como o vale-refeição e o vale-alimentação aos funcionários com carteira assinada, têm feito muitas empresas se mexer de olho em um mercado que movimenta R$ 150 bilhões por ano.

Uma das maiores do setor ao lado de Alelo, Ticket e Sodexo, a VR vai incrementar o seu aplicativo e criar uma conta digital para oferecer serviços financeiros aos usuários dos seus produtos. Essa mudança não está diretamente ligada às novas regras, mas fortalece a presença da VR na relação com as áreas de recursos humanos (RHs).

“Criamos uma nova cesta de produtos com a antecipação do FGTS e um consignado privado que está na beira de ser lançado”, diz Sergio Suchodolski, vice-presidente da VR Investimentos e membro no conselho de administração da VR.

Chamada de VR Soluções Financeiras, essa nova vertical está em fase final de ajustes para entrar em testes no último trimestre deste ano. A ideia é que os 4,7 milhões de clientes VR possam obter diferentes ofertas de crédito dentro do aplicativo.

Estarão disponíveis a antecipação do saque-aniversário FGTS, a antecipação do salário e o crédito consignado. A ideia é que a taxa seja fixa, independentemente do prazo e do valor do empréstimo. Hoje, a VR considera uma cobrança de 1,69% para o saque FGTS, algo que pode mudar pelas condições de mercado até o lançamento do produto.

“A retomada da VR nesse segmento é para atender a um anseio desse trabalhador. É uma classe que sofre com o acesso ao crédito, justamente pelo grande volume e baixo valor financeiro. E o salário é o que evita que ele se alavanque”, diz Christiano Rocha, diretor de produtos da VR.

Para a oferta de produtos financeiros, a VR não precisará fazer captação externa. Todo funding da operação será feito pelo Banco VR, o banco múltiplo que faz parte da holding. A principal fonte de recursos são CDBs indexados ao CDI. No fim de 2022, de acordo com o último balanço disponível, o total de ativos da instituição era de R$ 310 milhões.

Para entrar com produtos financeiros para a sua base, a VR fez uma pesquisa com seus usuários e 40% respondeu positivamente à possibilidade de buscar e contratar crédito no aplicativo.

Mesmo com a concorrência de outras carteiras digitais e do aplicativo dos bancos, a VR entende que tem alguma vantagem pelo tipo de relacionamento que mantém com o cliente, que abre de 10 a 15 vezes por mês o app para consultar o vale-refeição, vale-alimentação ou vale-transporte. No mês, são 12 milhões de acessos ao aplicativo.

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Sergio Suchodolski, vice-presidente da VR Investimentos

“Estamos atendendo, em vários ângulos, da segurança alimentar ao transporte. Agora, com uma gama maior de produtos financeiros, que estão sendo ofertados também pelo modo digital com um clique”, afirma Suchodolski. “Era uma experiência apenas das classes A e B que passa a atender, de maneira muito rápida, um problema da classe C”.

O controle de risco da VR passa pelo relacionamento com o RH. Por meio da mineração de dados, a empresa consegue fazer análises preditivas para tomar uma decisão mais precisa com base nas informações do cliente. É possível saber, por exemplo, o nível de inadimplência dele.

“Analiso o crédito de uma forma bem condicionada, até porque já temos um relacionamento com esse RH. E tem a relação com o trabalhador, que conhecemos no mínimo detalhe”, diz Rocha.

Dentro do que a VR chama de ecossistema, os serviços financeiros serão apoiados com educação financeira para não ser visto apenas como um produto na prateleira. Em mobilidade, por exemplo, o vale-transporte está atrelado a um serviço de roteirização de trajeto para quem utiliza o transporte público, mostrando todo tipo de integração, inclusive com o uso de bicicletas compartilhadas.

Com 85 mil clientes corporativos, a VR teve de reinventar o seu negócio. Em 2007, a empresa fundada por Abram Szajman vendeu sua operação para a concorrente Sodexo, por R$ 1 bilhão. A VR manteve, naquele momento, apenas a marca e o processamento das transações.

Sete anos mais tarde, com o fim do acordo de não competição com os franceses, a VR decidiu recomeçar do zero e retornar à sua origem de empresa de benefícios. Em 2020, o GIC, fundo soberano de Cingapura, fez um aporte de valor não revelado na companhia. O faturamento anual da companhia é de R$ 11 bilhões.

Nos últimos anos, a competição no setor aumentou. Com as novas regras do PAT, que promete abrir e redesenhar a competição no setor, novos nomes como iFood, Swile, Flash, Mercado Pago, Caju, Bulla e, mais recentemente, o PicPay querem incomodar os quatro maiores players.

A possibilidade de associar ofertas de benefícios às redes de bandeiras como Mastercard e Visa serviram de atalho para esses novos nomes avançarem e driblarem o maior poder de fogo das quatro líderes.