No fim de outubro, Charlie Munger, braço direito de Warren Buffet, concedeu entrevista ao podcast americano Acquired. Na conversa, entre outros pontos, ele disse que a General Motors (GM) era uma grande empresa em seu auge. Mas que, aos poucos, a companhia foi ao “inferno, um contrato de cada vez”.

Na noite da terça-feira, 14 de novembro, 16 dias depois de Munger dar essa pista, um relatório entregue pela Berkshire Hathaway à Securities and Exchange Commission (SEC) mostrou que, ao menos no curto prazo, a gestora de Buffett não está disposta a compartilhar do destino da montadora.

Segundo o Formulário 13F, enviado trimestralmente por gestores de investimentos institucionais à SEC, a Berkshire Hathaway zerou sua participação na GM no terceiro trimestre de 2023. A gestora investia na companhia desde 2012 e, no fim de junho, tinha uma posição de US$ 850 milhões na empresa.

Dias antes do comentário de Munger, a GM também deu sinais do seu roteiro mais recente de percalços. Ao divulgar o balanço do terceiro trimestre, a montadora suspendeu o guidance para 2023 e ressaltou os impactos da greve dos trabalhadores do setor automotivo nos Estados Unidos.

À parte os braços cruzados que têm afetado outras montadoras, a companhia também colocou um pé no freio em suas metas de produção de veículos elétricos, ao citar fatores como a desaceleração da demanda dos consumidores pela categoria.

A GM não foi, porém, a única empresa a ter um fim de linha na carteira da Berkshire Hathaway. Entre julho e setembro, a gestora também deu sinais na direção de uma possível preocupação quanto aos riscos de uma recessão no mercado americano.

A empresa se desfez de participações em ativos, em especial, no segmento de bens de consumo. Muitos deles também compunham sua carteira desde o início dos anos 2000. Casos da Johnson & Johnson, da Procter & Gamble (P&G), da UPS e da Mondelez. Além da Activision Blizzard, comprada pela Microsoft.

No período, a Berkshire Hathaway reduziu ainda as fatias que detinha em companhias como Chevron, HP e Amazon. Nessa última, de uma participação avaliada em cerca de US$ 1,37 bilhão, no fim de junho, a gestora encerrou o terceiro trimestre com uma posição de aproximadamente US$ 1 bilhão.

Em contrapartida, Buffett mostrou apetite, em particular, pelo segmento de mídia, ao aumentar suas posições na Liberty Media e em negócios ligados à holding, como a Atlanta Braves, grupo que controla, entre outros ativos, o time de mesmo nome da Major League Baseball.

Ao mesmo tempo, a gestora solicitou à SEC um tratamento confidencial, por enquanto, para “uma ou mais” participações que começou a construir no período. A despeito desse segredo, no saldo das operações, a Berkshire desembolsou US$ 1,7 bilhão no terceiro trimestre na compra de ações.

Em contrapartida, a empresa vendeu US$ 7 bilhões em participações entre julho e setembro. No acumulado de 2023, essa conta totalizou US$ 23,6 bilhões e trouxe como resultado um volume recorde no caixa da gestora de US$ 157 bilhões.