Fundada em 2008, a Wine surgiu como um clube de assinatura e um e-commerce de vinhos. E, nos anos seguintes, com o apoio de suas controladoras - a Península, de Abilio Diniz, e a eB Capital -, incorporou o offline a esse modelo, com lojas físicas e a entrada no B2B.
No início de 2022, em sua primeira incursão fora do Brasil, a empresa desembarcou no México, de forma ainda tímida, com seu clube de assinatura. Passado pouco mais de um ano dessa degustação, a Wine vai começar a encorpar a operação mexicana.
O primeiro passo veio há duas semanas, com o lançamento de um e-commerce local. O projeto é o marco inicial de um plano mais ambicioso, de 18 meses, que vai beber justamente da sua maior fonte de inspiração: o ecossistema da companhia no mercado brasileiro.
“Queremos replicar esse nosso modelo no México”, diz Marcelo D’Arienzo, CEO da Wine, ao NeoFeed. “Essa operação pode ser tão grande quanto a que temos no Brasil e, para isso, vamos ter um ciclo de investimentos mais forte nela nos próximos dois anos.”
Alguns dados aproximam os dois mercados. No México, o consumo per capita é de 0,71 litro de vinho importado por ano, contra 0,56 litro no Brasil. Por lá, o volume anual de rótulos importados está na casa de 89 milhões de litros, contra 119 milhões de litros no mercado brasileiro.
Para começar a ganhar escala no mercado mexicano – hoje, são cerca de 7 mil assinantes no país -, a Wine estreou seu e-commerce com cerca de 70 SKUs. A ideia é ampliar esse mix nos próximos meses para um volume próximo da oferta disponível no Brasil, entre 400 e 800 SKUs, dependendo da época do ano.
A Wine costurou acordos com parceiros como a Cubbo, de logística, para viabilizar a plataforma. O uso da tecnologia da empresa traz um aroma brasileiro à operação que, atualmente, é tocada por uma equipe local, 100% dedicada. São dez profissionais, que têm o apoio de outras áreas da companhia.
Uma das próximas peças nesse quebra-cabeça são as lojas físicas. A começar por uma unidade na Cidade do México, com possibilidade de abertura ainda nesse ano, de olho no fato de que a capital concentra 50% do e-commerce do país.
“Além de uma flagship da operação local, essa loja pode ser usada como um hub descentralizado de logística”, ressalta D’Arienzo. “Monterrey e Guadalajara são as outras duas cidades-chave nesse plano.”
A estruturação de uma frente de B2B – que inclui desde supermercados e mercearias a restaurantes, bares e hotéis – também já está em curso. Diferentemente do Brasil, onde esse braço ganhou musculatura com a compra da Cantu, em 2021, essa estratégia não passará por aquisições.
“Estamos buscando um player estratégico local que tenha os contatos certos para desenvolver esse mercado”, afirma o executivo. “E que também possa, inclusive, ajudar a financiar essa operação.”
Mais fôlego na logística
A empresa também segue investindo no Brasil. Em junho, a Wine inaugura um centro de distribuição em Itajaí (SC). Hoje, essa malha inclui outra unidade, em Serra (ES). Para 2024, já estão em avaliação novos CDs no Nordeste e no Centro-Oeste.
“Essa nova estrutura vai atender principalmente a Cantu, que é o nosso braço mais forte no B2B”, diz D’Arienzo. “Vamos triplicar a nossa capacidade de estoque e ter mais pulmão, com mais flexibilidade para lidar com eventuais rupturas na importação.”
O B2B foi uma das linhas que se destacaram no resultado da Wine em 2022. O canal se tornou o carro-chefe ao registrar uma receita de R$ 304,9 milhões, alta de 111,4%, e alcançar uma participação de 41,7% na receita total da companhia, contra 32,5%, em 2021.
No ano passado, a empresa reportou uma receita líquida total de R$ 730,8 milhões, alta de 31%, e reduziu sua dívida líquida em 41,1%, para R$ 135,9 milhões. A alavancagem caiu de 3,89 vezes para 1,78 vezes, enquanto o Clube Wine chegou a 366 mil assinantes, um salto de 21,2%.
Em contrapartida, o prejuízo líquido foi de R$ 20,3 milhões, contra R$ 3,5 milhões um ano antes. O Ebitda ajustado evoluiu 28,3%, para R$ 76,1 milhões, mesmo sob um impacto de R$ 7,7 milhões gerado pela operação, ainda em estágio inicial, do México.
Em 2022, a unidade de B2B respondeu por 41,7% da receita total de R$ 730,8 milhões da Wine
A “startup” mexicana não foi, porém, o único impacto no período. Assim como todo o mercado de vinhos, a Wine vem enfrentando um contexto macroeconômico mais desafiador, além da retração no consumo da bebida, após o boom observado durante a pandemia.
Em 2022, as importações de vinho recuaram 6,2% no País, para 16,5 milhões de garrafas, segundo a Ideal Consulting. Na contramão dessa queda, no período, a Wine assumiu a liderança do segmento, com uma participação de mercado de 13,74%.
A empresa se manteve no topo em março de 2023, com uma fatia de 12%, contra 10,7%, um ano antes. Em segundo lugar, veio a VCT Brasil, filial da chilena Concha y Toro, seguida pelo Víssimo Group, operação fruto da fusão entre a Evino e a Grand Cru, com 5,9%.
Nesse cenário instável, a Wine freou a expansão de lojas físicas em 2022. Com apenas uma abertura, a rede chegou a 17 unidades. O número se aproxima da projeção de 18 inaugurações para 2023 da Evino, que passou a investir nesse canal apenas nesse ano e cujo grupo desponta como a grande rival no País.
No caminho para voltar a crescer sua base, a Wine tem dois projetos-pilotos em curso. O primeiro, em Belém (PA), inclui uma oferta restrita a 350 SKUs, com entregas no mesmo dia.
O segundo, em Salvador (BA), segue o mesmo norte, com uma diferença: os consumidores também têm acesso ao restante do portfólio, mas com entregas em até quatro dias úteis. Nos dois casos, os testes envolvem dark stores. A Wine já opera com duas unidades nesse modelo em São Paulo.
A ideia é entender qual é a melhor formato de expansão em cada praça. E, a partir dessa análise, investir em uma nova onda de aberturas, mesclando lojas físicas ou dark stores, a partir do segundo semestre.
“Ainda não definimos a meta e o ritmo de aberturas”, diz D’Arienzo. “Mas o fato é que, até o fim de 2024, queremos estar presentes, de forma descentralizada, nas 45 principais cidades do Brasil.”